O Pevepê desta sexta-feira (10/03) falou sobre o Atomic Heart (2023), um dos lançamentos do ano, que saiu no final do mês de fevereiro, e gerou muitas expectativas desde o primeiro trailer. Entretanto o jogo está envolvido em polêmicas fortes, incluindo ser "arma" na guerra entre Ucrânia e Rússia.
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O jogo imagina um mundo utópico onde a União Soviética ascendeu tecnologicamente graças à mente do doutor Dmitry Sechenov. Porém, um dia os robôs surtam e cabe ao Major Sergei Nechaev, codinome P-3, resolver essa crise. Produzido pelo estúdio russo independente Mundfish, o jogo foi o primeiro projeto da empresa, ambicioso e com a proposta de competir com outros jogos de grandes produtoras.
Adiamento, crowdfunding indireto e investimento
O primeiro trailer do jogo lançado em 2017 foi uma peça conceitual feita para vender a ideia para investidores e publishers (publicadores dos jogos). E deu certo, a Focus Entertainment comprou o projeto e foi a principal publisher do jogo.
Mas antes da confirmação de investidor, a Mundfish se aventurou em conquistar seu próprio jeito de desenvolver o jogo, Soviet luna park, jogo de VR feito pela empresa, foi lançado na plataforma Steam, para “arrecadar fundos” ao projeto principal, Atomic heart. O Soviet luna park, contudo, não emplacou.
Retrofuturismo
O maior diferencial de Atomic heart vive da estética, baseada na idealização do futuro antes dos anos 90. A aposta neste estilo foi feita no mundo dos jogos pela primeira vez ainda no embrião da indústria por um clone de Doom (1993), Castle wolfenstein (1981) — que se tornou icônico por possuir um Adolf Hitler robótico como último chefe. Contudo, o maior expoente foi de longe a 2K (a dona da franquia), quando lançou Bioshock (2007), o game tinha toda uma estética retrofuturista como pilar dos cenários, personagens e trama, ganhando destaque enorme na época de lançamento, que é, sem sombra de dúvida, a maior inspiração de Atomic heart.
Os ambientes em Atomic heart refletem a visão soviética de união e prosperidade farta, sendo o trecho inicial do jogo o maior expoente de como a nação ascendeu nessa utopia fictícia.
Mais do mesmo
Apesar de tentar, Atomic heart não alcança potencial, o jogo tenta mimetizar o gameplay de Bioshock, mesclando armas de fogo e poderes — e apesar dessa suposta variedade de arsenal contra inimigos, tudo parece ineficiente. Além dos adversários serem extremamente resistentes, as armas iniciais mal causam dano às máquinas, o que joga a dificuldade mesmo no normal, para o difícil.
Agora em relação ao sistema, o próprio jogo sabota o jogador, várias vezes ele pode travar o Major (o personagem principal) em algum ponto, ficando impossível de se movimentar, pular ou mesmo atirar, o que força o jogador a reiniciar do último lugar salvo.
No fim, o jogo entrega uma jogabilidade de FPS (tiro em primeira pessoa) fraca e comum, o combate corpo-a-corpo lembra uma versão mais pobre do esquema de movimentação de Dying light. O “mundo aberto” que possui é bem vazio e sem personalidade, e não exibe o mesmo esmero que os locais fechados receberam. Os chefes do jogo são o maior destaque, seres colossais de metal com movimentações diferentes e animações únicas, um deles te aterroriza durante todo o trecho inicial, criando uma expectativa para a batalha contra ele e que é entregue com êxito.
Polêmicas
O jogo é repleto de propaganda soviética e lemas de Guerra Fria. O que pode ser facilmente visto como mau gosto na atual situação política. Não pode-se esquecer o momento histórico em que o planeta vive — Rússia e Ucrânia completaram recentemente um ano de conflito —, mas a guerra entre as duas nações é antiga.
A Mundfish foi atacada duramente por não se posicionar quanto à guerra na Ucrânia, também foi acusada fortemente de enviar dados dos jogadores para o governo russo, não apenas isso, mas a empresa tentou mascarar a origem russa, apontando que possuía “funcionários de várias nacionalidades” e diferentes sedes, a empresa se localiza no Chipre.
Houve outras situações em relação à guerra, com o vice-primeiro-ministro da Ucrânia e ministro da transformação Mykhailo Fedorov, que enviou cartas oficiais à Sony, Microsoft, Valve pedindo o banimento de Atomic heart em todas as lojas digitais, principalmente da Ucrânia, além de apelar para um boicote geral da mídia, em que alega apologia ao movimento soviético. O compositor de Atomic heart, Mick Gordon, condenou fortemente a Guerra e anunciou que doou o pagamento para ajudar a Cruz Vermelha na Ucrânia.
Outro problema: Atomic heart tinha uma animação do final dos anos 60 — "Nu, pogodi!" — com características racistas em um certo trecho do jogo. A Mundfish pediu desculpas para sua comunidade e removeu a animação.
Atomic heart será lembrado mais como um imã de polêmicas e expectativas do que um jogo que se destacou por ser bem feito.
Assista ou escute o episódio nos links:
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