Um álbum de 20 canções que explora as mais diversas facetas, gêneros musicais e possibilidades musicais. Rubel apresentou ao mundo no início do mês As palavras volumes 1 & 2, terceiro disco de estúdio do artista e, com certeza, o mais ousado, diverso e múltiplo da carreira.
Com participações de Milton Nascimento, Bala Desejo, Mc Carol, BK', Xande de Pilares, Mestrinho, Liniker, Luedji Luna, Mestrinho e Gabriel do Borel, o cantor passeia pela música brasileira, se experimentando no funk, forró, pagode, samba, hip-hop e MPB, em uma produção detalhista e impecável, que demorou quatro anos para ser finalizada. A maior parte desse tempo em uma extensa pesquisa sobre o Brasil e os ritmos e sons que fazem o país. "Toda a diversidade do disco foi uma consequência natural dessa faísca de curiosidade sobre um entendimento maior do lugar onde moramos", conta Rubel em entrevista ao Correio.
O músico se aprofundou na literatura brasileira, passando dos clássicos aos romances contemporâneos. A soma desses estudos com a própria experiência de Rubel como um jovem nascido e criado no Rio de Janeiro, chegou ao álbum. "A minha pesquisa me fez ir naturalmente para os caminhos do samba, do funk e do pagode. Isso me fez olhar os gêneros menos como dissociados e mais como primos e irmãos. Da mesma árvore cultural, falam a mesma língua", explica o cantor. "Sem contar que eu cresci ouvindo pagode, samba e funk. Quando você cresce ouvindo algo, é muito natural que você saiba fazer. Já está dentro do seu próprio DNA, do seu corpo inteiro", acrescenta.
O resultado é um disco que varia muito sem perder tração. De músicas com mais apelo popular como o funk Put@aria, com participação de Mc Carol, BK' e Gabriel do Borel; e o samba Grão de areia, com Xande de Pilares, até canções mais complexas, rebuscadas e cheias de referências como a parceria com Liniker e Luedji Luna, Torto arado; Assum preto, com Dora Morelenbaum; e As palavras, faixa-título, ao lado de Tim Bernardes, Rubel entrega um disco cinematográfico, como ele mesmo descreve: "Eu queria que o disco fosse uma experiência muito fluída em cada detalhe. Queria que o álbum carregasse a pessoa como se fosse um filme", comenta.
Diversidade
Todo esse raciocínio leva uma boa representação do que é o Brasil no ponto de vista do autor do álbum, mas que transpassa a própria essência que o músico acreditava que poderia fazer. "Por ser uma proposta muito grande, com tantos gêneros musicais e tantos músicos, o projeto foi ficando maior do que eu esperava. Isso me deixa muito feliz, porque o álbum acaba sendo um retrato bem maior do que eu, um retrato sobre o Brasil", analisa. "A diversidade musical desse disco surgiu a partir da vontade de falar sobre o Brasil. Eu queria fazer algo que falasse menos sobre mim e as minhas crenças e mais sobre o todo", complementa.
O produto final foi uma surpresa até para o próprio autor. "Antes de lançar eu já estava com um sentimento bom sobre esse disco. Eu colocava para tocar e falava: 'meu Deus, não é possível. Isso é muito bom'. Eu não tenho vergonha de falar isso, porque é o que é, é verdadeiro. Eu gosto da minha música, mas essa eu gostei mais", lembra Rubel. "Quando olhei pronto, pensei que não era possível isso ter vindo. É muito maneiro, porque a surpresa que as pessoas estão tendo, foi algo que eu mesmo tive", complementa o cantor, que acredita muito no sucesso da obra. "O criador é o primeiro ouvinte e o primeiro leitor. A chance de algo que o criador gostou fazer sucesso com o público dele é grande", conclui.
A confiança na obra já o faz pensar no futuro. Rubel tem tudo muito bem planejado e o que foi concretizado nos últimos três álbuns é um resultado de um trabalho pensado anos antes. "Eu sempre tive o pensamento de construção a longo prazo, então previa esse terceiro disco há muito tempo. Sempre soube que eu queria fazer uma trilogia que tivesse um ser azul na capa, por exemplo", conta. Os próximos passos estão no horizonte para o cantor, que pretende reduzir para dois anos o tempo entre discos. "Eu sempre pensei muito e sigo pensando nos meus 10 próximos discos, já tenho uma ideia geral da concepção do que eu quero para eles", antecipa.
Desde o início da carreira, em meados dos anos 2010, Rubel teve sempre uma boa resposta do público. Até hoje Quando bate aquela saudade é uma das músicas mais ouvidas que lançou, acumulando mais de 60 milhões de reproduções apenas no Spotify; e a canção foi apresentada ao público em 2015. Mesmo que para um nicho os primeiros passos foram muito bem sucedidos, lotando casas de shows pequenas e média em todo o Brasil.
Essa caminhada trouxe uma responsabilidade grande que o músico coloca sobre si mesmo. "Estou em um lugar de muito destaque na música brasileira. Tenho o privilégio de ocupar um lugar muito importante. Eu preciso honrar esse lugar", reflete o músico, que já dividiu palco com Gal Costa e convidou para o novo disco Milton Nascimento. Rubel sente que esse peso foi essencial para o disco. "Eu senti a responsabilidade de fazer jus à história da música brasileira. Precisei me obrigar a ser melhor do que eu estava sendo, estudar muito para de alguma forma dar uma contribuição significativa para a cultura brasileira", afirma. "Eu tenho o dever e a obrigação de ser f…", acredita.
Todo esse público orgulha Rubel, mas o cantor quer alçar voos mais altos. "O meu público é muito fiel, o que considero um presente e uma dádiva, mas ele ainda é muito nichado", explica. O cantor quer aumentar o alcance e encontrou em As palavras — volumes 1 & 2 a oportunidade. "O que eu quero com esse disco, e foi um movimento consciente durante toda construção dele, é furar essa bolha. Conseguir emplacar músicas que estejam lado a lado com os grandes hits do país, dialogar com o grande público, ir para as cabeças e falar com todo mundo", afirma o músico, que ainda revela o que almeja para a MPB: "O sonho desse disco é ampliar meu público, não só para mim. Porque isso ajudaria as minhas companhias do tipo de música que a gente faz. Esses descendentes da MPB tradicional têm uma desafio importante de ampliar o próprio público".
É mirando alto que Rubel dá mais um passo na carreira. "O movimento que eu imagino é ter o meu nome conhecido pelo Brasil, ter pelo menos cinco músicas incorporadas ao cancioneiro popular. As pessoas saberem e conhecerem mais", diz. O compositor não quer a fama; quer o reconhecimento de um cuidadoso trabalho, feito por ele e por tantos outros que o acompanharam. "É um coração que não é só meu, é de todo mundo que está ali."
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