Nesta sexta-feira (10/3), ocorre o festival SXSW (South by Southwest), nos Estados Unidos. O único longa brasileiro selecionado foi o Meu casulo de drywall, terceiro longa da diretora e roteirista Caroline Fioratti (Meus 15 Anos: O filme, Algum lugar no recreio). Em adição, o curta Mother of the dawn, que também está no festival, conta uma história brasileira e tem produtor de campo paulistano.
Ao Correio, a diretora afirma que ter sido selecionada foi um sonho realizado. “Nós, cineastas e produtores, nos engajamos durante muitos anos em um mesmo projeto, então exibi-lo em um bom festival é sempre uma expectativa, pois dependemos disso para conseguir uma boa estreia no Brasil. Mas, sabemos que não é fácil concorrer por um espaço entre grandes filmes do mundo todo”, diz. Ela acrescenta que o festival propõe mostrar tendências ao mercado, com inovações em narrativas, estéticas e temáticas. “É um festival que olha para o público e que o público retribui olhando para a curadoria com empolgação. Por isso é uma grande honra estar entre os selecionados, inclusive representando o Brasil”, conclui.
O filme fala sobre a história de Virgínia, jovem que morreu durante a festa de aniversário. A trama acompanha 24 horas na vida de moradores de um condomínio lidando com a culpa e o luto. O longa surgiu da ideia do curta Algum lugar no recreio, da Caroline Fioratti. Ela diz que sentiu que poderia aprofundar mais os temas e assim surgiu a ideia de fazer um longa-metragem. “Nos meus projetos autorais, eu sempre acabo partindo de algum tema que me toque ou de alguma vivência que traga assuntos que eu quero explorar. Meu casulo de drywall foi assim, surgiu da minha vontade de falar sobre adolescência e saúde mental num espaço de privilégio. Outro desejo era falar dos muros reais e simbólicos que se tornam cada vez mais comuns no universo das grandes cidades”, explica Fioratti. Caroline usou o estudo da psicanálise durante a construção do roteiro. “Trabalhei junto com psiquiatras, psicanalistas e psicoterapeutas para que os temas sensíveis dos quais falo do filme fossem discutidos de forma responsável e potente“, fala.
Sobre a equipe, ela acrescenta: “A equipe foi a coroação de parcerias e amizades de muitos anos, profissionais com os quais já fiz outras produções e que, ao longo da minha carreira, me ensinaram muito”. Por fim, destacou a atriz Maria Luisa Mendonça (Vestido de noiva, Romeu e Julieta, Carandiru), que interpreta a mãe de Virgínia. “ Sempre nutri uma admiração profunda a ela que, generosamente, topou essa aventura e me surpreendeu a cada cena”, conta.
Mother of the Dawn, de Janell Shirtcliff, e produção de Tommy Savas, conta a historia de uma caminhoneira a Tia Neiva, nos anos 1950, em um momento ela começa a ter visões espirituais. Por conta dessas visões, ela começa a ganhar seguidores, o que leva a criação do Vale do Amanhecer, em Planaltina, Distrito Federal, que pratica vários elementos do Cristianismo, Espiritismo, Umbanda e crenças em extraterrestres.
Ao Correio, o produtor de campo Nicholas Col diz ter ficado espantado com a sensibilidade da diretora ao contar a história. “A Janell tem uma sensibilidade, porque não é a cultura dela e ela tem uma preocupação em contar de uma forma respeitosa e de uma forma que una o sentimento dela como mulher com o da tia Neiva”, explica.
Col ficou responsável em fazer grande parte da pesquisa, pois muitos dos documentos e informações estavam em português, incluindo textos escritos pela própria Tia Neiva e os membros da doutrina, que chegou a quase 800 mil seguidores. No curta documentário estão presentes imagens do Vale do Amanhecer e uma entrevista com a bisneta da criadora da doutrina.
Cinema norte americano x cinema brasileiro
O cinema norte americano tem um papel importantíssimo na economia americana. Ele gera coletivamente centenas de filmes todos os anos e tem uma indústria bilionária que emprega milhões de pessoas. “O cinema americano é uma loucura, eles têm muito dinheiro, tem muito investimento privado. Lá existem muitos canais, existem muitas formas de se distribuir um filme nos Estados Unidos. Enquanto o cinema brasileiro é um cinema que é pouco valorizado pelo público brasileiro, ele é pouco exportado comercialmente em grande escala”, explica Nicholas Col.
Col acrescenta que o próprio brasileiro tem preconceito com o cinema nacional. “O cinema brasileiro é visto em duas formas: ou ele é visto como filmes ruins de comédia, que não necessariamente são ruins, mas é uma certa opinião pública de algumas pessoas. Ou ele é independente, é muito cabeça, mas isso não é verdade, porque existe um mundo de filmes nesse meio termo que merece muito ser valorizado”, comenta.
Por conta desses fatos, o produtor comenta sobre os problemas que ocorreriam caso o curta fosse uma produção nacional. “Acho que, primeiramente, seria conseguir um financiamento. Conseguir o dinheiro para poder realizar o curta. Além disso, existe um grande preconceito com religiões que tocam em matrizes africanas, tanto espiritismo como umbanda e candomblé. Existe este preconceito dos brasileiros em relação a religiões que são tão brasileiras”, conclui.
*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel
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