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Cinema

O revolucionário ‘Tudo em todo lugar ao mesmo tempo' deve ser o destaque do Oscar

Além da esperada premiação dedicada a retornos de artistas, o Oscar deve inovar, com a perspectiva de muitas estatuetas para o revolucionário 'Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo'

O Oscar 2023 definitivamente tem um cenário alterado, e desqualifica a ideia de mais uma festa genérica e previsível, a exemplo da teoria de muitos. Este 2023 traz o Oscar que afugenta por uma década o astro Will Smith da festa (depois do notório soco desferido no ano passado), um Oscar que deve abrir caminho para premiações de uma linguagem amplamente consumida pelo público — a dos filmes de super-heróis, e mais: é a festa da representação asiática, com a expectativa de premiações para atores do recordista de indicações, Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, candidato a 11 estatuetas. Acertada mesmo está a participação de estrelas como Ariana DeBose, Michael B. Jordan, Glenn Close, Melissa McCarthy, Danai Gurira, Andrew Garfield, Halle Bailey e Nicole Kidman, na celebração acolhida pelo Dolby Theatre (Los Angeles), e que terá apresentação de Jimmy Kimmel (anfitrião em 2017 e 2018).

Tradição já não é mais tanto palavra de ordem, na cerimônia que celebra indústria cujos componentes (os votantes) buscam a transformação, criando uma gana de ineditismo e um certo desespero de "fazer história" na festa dourada. A 95ª edição do Oscar — com transmissão, hoje, na TNT e HBO Max, às 21h — estabelece retornos, mas igualmente abre caminhos para uma corrente de estreantes. Caso clássico é o retorno do astro Tom Cruise, na primeira indicação como produtor (Top Gun: Maverick), isso 23 anos depois da terceira seleção como ator.

Estreante na categoria de roteiro original, Steven Spielberg (Os Fabelmans) crava a 12ª possibilidade como produtor, e ainda tem ampla chance de vitória na nona indicação pela direção (igualada a feito de Martin Scorsese) do filme mais pessoal dele. Como diretor, se vencer, será equiparado aos falecidos Frank Capra e William Wyler. Em diferentes categorias, Spielberg venceu quatro prêmios Oscar e alcançou a invejável marca de 22 indicações.

Aventura dramática

Com Os Fabelmans (que disputa sete Oscar), o diretor de A lista de Schindler trata da juventude dele e venceu prêmios Globo de Ouro de melhor filme e direção. Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo, uma aventura dramática que emprega o conceito de multiversos (corrente nos filmes de heróis), apoiado em tremenda originalidade, e que traz a dupla de diretores em evidência Daniel Kwan e Daniel Scheinert, tem muito, entretanto, para desbancar a grife Spielberg.

Com o prêmio de melhor edição quase garantido, Tudo..., depois de históricos feitos de Rede de intrigas (1976) e Uma rua chamada pecado (1951), tem muito para aglomerar, no elenco, três atuações vencedoras de Oscar. O ator coadjuvante vietnamita (filho de chineses) Ke Huy Quan (da saga Indiana Jones e visto  ainda criança em Os Goonies) agarrou a chance dada 20 anos depois de uma carreira estagnada, e deve levar o Oscar. Com 45 anos de serviços prestados para Hollywood, Jamie Lee Curtis dificilmente será ignorada, na primeira indicação ao Oscar, depois do hype de Halloween.

Vencedor do Independent Spirit Awards e do Globo de Ouro de comédia, Tudo em todo lugar ao mesmo tempo puxa parte das disputas mais acirradas: a de melhor atriz, a ser decidida entre a malaia, estrela de filmes de Hong-Kong, Michelle Yeoh e a atriz que protagoniza Tár (filme com seis indicações), Cate Blanchett, capaz de integrar o seleto time de três vencedoras de três Oscar (cada) Frances McDormand, Ingrid Bergman e Meryl Streep. Morta há 20 anos, Katharine Hepburn segue, soberana, como atriz detentora de quatro prêmios Oscar. Em Tár, Blachett (premiada no Festival de Veneza, no Bafta e no Globo de Ouro) domina a cena como uma controversa e perfeccionista maestrina.

Mas, o Oscar de atriz é um caso à parte, pela projeção de Michelle Yeoh, atriz de filmes de Ang Lee e Luc Besson, e que despontou em sucessos como Podres de ricos (2018) e Shang-Chi e a lenda dos dez aneis (2021). Vencedora do Globo de Ouro (de atriz cômica) e do prêmio do Sindicato de Atores, Yeoh pode engrossar a lista de asiáticos premiados como os coadjuvantes Haing S. Ngor (cambojano), Miyoshi Umeki (japonesa) e a sul-coreana Yuh-Jung Youn.

Hong Chau, atriz tailandesa (com pais vietnamitas), também tem possibilidade de prêmio, pelo intenso trabalho no drama A baleia, com o qual, acumulando prêmio de melhor ator, pelo Sindicato dos Atores, pelo Critics Choice e ainda no Festival de Toronto, Brendan Fraser pode faturar o primeiro Oscar da carreira. No papel de virtual oponente de Fraser, na festa, Austin Butler, que vive o icônico Elvis do filme de Baz Luhrmann (concorrente em oito categorias) venceu o importante
Bafta, além do Globo de Ouro, mas deve ser derrotado por Fraser, que, no papel do engordado professor Charlie, traz quesitos caros à academia que vota o Oscar, como a transformação física e o retorno de um astro ao estrelato, aos 54 anos.

Inspiradora

Superação foi palavra de ordem, entre alguns dos vencedores de prêmios Oscar especiais, entre os quais Michael J. Fox e a inspiradora diretora Euzhan Palcy. Em apêndice da festa de hoje, ambos foram celebrados em novembro passado: ele venceu o prêmio humanitário Jean Hersholt, por custear pesquisas em torno de Parkinson, e Euzhan foi celebrada como a primeira diretora negra a conduzir um filme de grande estúdio (Assassinato sob custódia, de 1989). Co-estrela de Pantera Negra: Wakanda para sempre (filme que trará Rihanna para o palco para entoar Lift me up),
Angela Bassett volta à disputa dourada, 30 anos depois de atuar na cinebiografia de Tina Turner. Musicalmente, o Oscar será animado pelas presenças de David Byrne, Lenny Kravitz e ainda pelos indianos Kaala Bhairava e Rahul Sipligunj, encarregados de cantar a canção original Naatu Naatu (do filme RRR).

A 95ª edição do Oscar pode trazer o terceiro caso de dupla de diretores premiados, depois dos casos de Ethan e Joel Coen (Onde os fracos não têm vez) e de Robert Wise e Jerome Robbins (Amor, sublime amor). Na primeira disputa como produtores e autores do roteiro original, Daniel Kwan e Daniel Scheinert (de Tudo em todo lugar ao mesmo tempo) podem se ver consagrados como cineastas, no segundo filme conjunto, depois de Um cadáver para sobreviver (2016). Para além dos estrondos visuais (o indicado a melhor filme Avatar: o caminho da água tem tudo para vencer o Oscar de efeitos visuais, enquanto Babilônia deve faturar pelo desenho de produção), o Oscar deve consagrar filmes que recriam obras literárias.

Neste último caso estão a animação Pinocchio, prevista para render prêmio de melhor animação para Guillermo del Toro, e ainda do alemão Nada de novo no front, candidato a nove prêmios Oscar, numa inspiração de romance assinado por Erich Maria Remarque. Enquanto Sarah Polley, à frente do roteiro adaptado de Entre mulheres, tem amplas chances de Oscar, o mesmo ocorre com os diretores de Os banshees de Inisherin (candidato a nove Oscars), o inglês Martin McDonagh, e Todd Field (de Tár), num retorno aos filmes, depois de 17 anos, desde Pecados íntimos.

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Diamond Films/Divulgação - Grandes chances para Tudo em todo o lugar ao mesmo tempo
Blueprint Productions/Divulgação - Os banshees de Inisherin: elenco indicado, coletivamente
Protozoa Pictures/Divulgação - Brendan Fraser tem grandes chances de estatueta, por A baleia
Universal/Divulgacao - Cate Blanchett, rumo ao terceiro Oscar, por Tár

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