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Fall Out Boy retorna com brilho de cinema em novo álbum

'So (much) for stardust' é o oitavo álbum da banda, que ganhou relevância no começo dos anos 2000. Confira a crítica

Anajú Tolentino*
postado em 24/03/2023 14:51 / atualizado em 31/03/2023 15:30
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

Ao deixar de lado todos os registros da franja longa no rosto, o olho pintado de preto, all star sujo e cinto cravejado, a banda Fall Out Boy lança So (much) for stardust nesta sexta (24/3). O cheiro da nostalgia, de (quase) 20 anos atrás paira no ar e faz parecer algo que aconteceu recentemente, tudo graças às memórias afetivas que certas bandas são capazes de proporcionar à geração millennial, em meio a fanfics, AOL Sessions e o finado MySpace. Com eles estavam Panic! At the disco, Paramore, 30 Seconds to Mars, My Chemical Romance e toda a trupe que bagunçou a programação da MTV no meio dos anos 2000.

Todavia, nenhuma dessas bandas ganharam tanto destaque em termos de hype das premiações como Fall Out Boy, composto pelo vocalista Patrick Stump, o baixista Pete Wentz, Joe Trohman na guitarra e Andy Hurley nas baquetas. Tudo bem que os grupos liderados por Gerard Way e Hayley Williams eram de fato mais populares, mas a atenção chamada pelo Fall Out Boy deve-se por conta da estética padrão do jovem emo, das letras irônicas e angustiadas, guitarras cativantes, influências pop e, acima de tudo, da voz de soul de Stump — proporcionalmente vinculados ao que chegaria 20 anos depois do primeiro álbum de estúdio.


Entre 2003 a 2008, Fall Out Boy lançou quatro discos - Take this to your grave (2003), From Under Cork Tree (2005), Infinity on High (2007) e Folie à deux (2008). Sendo os três últimos produzidos por Neal Avron, com músicas mais expansivas a cada camada da carreira, como Sugar We're Going Down, This ain't a scene, it's an arms race e I don't care.


Após um hiato em 2013, a banda entrou em vertentes com as quais os fãs mais antigos poderiam não se familiarizar muito bem, com uma produção que mostrou ser bastante diferente. Afinal, o quarteto praticamente abandonou a essência pop-punk do subúrbio de Chicago, no intitulado Save Rock and Roll (2013) e no confuso American Beauty/American Psycho (2015).

Seu penúltimo álbum, MANIA (2018), funciona como a parte final desta trilogia pós-hiato, enfatizando a transição da banda emo para o pop de estádio. Os três álbuns sofrem da ausência de boas estruturas instrumentais e líricas, mesmo que sejam um passeio convincente e nítido para entender o que levou a banda até ali.

Ao provar o contrário, So (much) for stardust é o equilíbrio das eras pré e pós-hiato, que também marca uma espécie de retorno apoteótico à Fueled by Ramen, distribuidora que lançou seu primeiro álbum, e à produção assinada pela banda com Avron. Entretanto, a nova onda do emo não foi contemplada nesse disco, visto que o novo trabalho tampouco foi inspirado pelo ressurgimento dessa cena.

O disco começa com uma camada orquestral cinematográfica e um piano delicado em Love from the other side, acompanhado de uma letra cantada com a potência vocal de Stump à medida que o ritmo cresce. Segunda faixa, também lançada anteriormente, Heartbreak feels so good traz novos pesos e críticas à gravadora antiga, e prova que a espera valeu à pena após passar mais de cinco anos sem lançar material novo.

O modus operandi da montanha-russa pop-punk do FOB também dá espaço para o groove. Em Hold me like a grudge, a canção leva um retro disco, enaltecendo a linha de baixo à lá Another one bites the dust, do Queen. Fake out destoa da anterior com violões como parte central da canção e um refrão fácil de se identificar.

Quinta faixa, Heaven, Iowa assume a estrutura de In the air tonight, hit de Phil Collins, com direito a bateria eletrônica na ponte, além de uma percussão equilibrada, backing vocals densos e um certo vazio para a voz de Stump ganhar mais destaque. So good right now reafirma a premissa dos refrãos-chiclete característicos da banda, mais comuns na época em que o Save rock and roll foi lançado.

Já na metade da audição, é fácil perceber o álbum com atitudes audaciosas e uma delas é um instrumental denso com o playback de um discurso de Ethan Hawke, no filme Caindo na real, de 1994. The pink seashell evidencia o personagem do ator refletindo sobre a mundanidade e a falta de sentido da vida, mas que a banda enxerga como uma forma de encontrar propósito fazendo algo novo. Aliada a essa ideia, I am my own muse reafirma o tom lírico com uma orquestra inteira harmonizada aos riffs potentes. O punk rock de Flu game retoma um som familiar, mas traz uma surpresa com batidas de trap ao final.

O disco também traz outro monólogo em Baby annihilation, mas do baixista Pete Wentz, no qual conta a história de “um príncipe jacaré com lágrimas de crocodilo”. Mesmo com metáfora, conduz a um tipo de declaração sobre o passado da banda. Mais uma vez, a voz enérgica de Stump ganha espaço em The kintsugi kid (Ten Years), e remete aos aspectos da era do Infinity on High.

Na penúltima faixa, a banda celebra a transformação do agora em meio à “transmissão do apocalipse", como dito na letra de What a time to be alive e mescla sonoramente o emo com o pop e o funk dos anos 1980, com guitarras, sintetizadores e cordas de modo harmonioso. Apaziguar a sensibilidade dos fãs de longa data pode ser assustador, mas o Fall Out Boy tem êxito ao encerrar o disco com a épica faixa-título. So much (for) stardust resgata um quê de Danny Elfman, dono das trilhas sonoras das obras de Tim Burton, e com um trecho nostálgico e melancólico na canção final: “Tanto para poeira estelar, pensei que tínhamos tudo”.

A expectativa da excelência foi de fato entregue neste disco. Não é de longe o melhor trabalho já feito, mas o que diferencia So (much) for stardust dos outros álbuns é a perspectiva a respeito do tempo, mesmo que algumas canções soem como se estivessem em álbuns anteriores. O quarteto abraça a bagagem e evidencia que o tempo passou, embora, talvez internamente, os fãs não sintam isso.

O Fall Out Boy é fiel àquela banda de outrora, de som limpo e cru do primeiro disco, mas principalmente à virada da década em 2010 — as primeiras e mais sérias rasteiras da vida presentes em Infinity on high. Contudo, o grupo agora olha para a vida com uma sensatez pós-40 anos, que não é gigantesca, mas ainda assim é transformadora.

Possivelmente, o que o FOB apresenta em So (much) for stardust é, em uma escala maior, o que sente qualquer pessoa que lida com pressões de criatividade ao longo do tempo. A bagagem aumenta, novas estéticas são absorvidas e a banda aprimora a essência e a técnica enquanto explora as fórmulas de outrora.

Também não é difícil afirmar que Stump e Wentz co-criaram nas letras sobre o que acontece ativamente com a banda, assim como mostra que Hurley e Trohman finalmente têm trabalho a fazer novamente na guitarra e bateria. Tudo isso é novo, mas esculpido na própria origem. Eles existem em um multiverso próprio, e com muita poeira estelar espalhada por aí.

*Estagiária sob a supervisão de Nahima Maciel

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