CULTURA

Rodas de conversa, saraus e feira agitam a biblioteca da 312/313 Sul

Evento reúne autores da cidade para celebrar o Dia Mundial da Poesia, com rodas de conversa, sarau, concurso e feira poética

Maria Clara Britto*
postado em 20/03/2023 06:00
 (crédito:  Marco CFP/Divulgação)
(crédito: Marco CFP/Divulgação)

Amanhã, é o Dia Mundial da Poesia. Uma linguagem moldada para provocar curtos-circuitos críticos e iluminações sobre a experiência humana. Brasília tem uma tradição de poesia e é uma das capitais com mais poetas por metro quadrado. Para celebrar a palavra, será realizada a Primeira Semana da Poesia na Biblioteca Pública de Brasília (BPB), na EQS 312/313 Sul. Durante o evento, autores brasilienses animarão roda de conversas com o público, saraus, concursos de poesia e feira poética. O projeto começa hoje e vai até sexta-feira.

A Primeira Semana da Poesia surgiu por meio de um convite da biblioteca, pedindo que as pessoas se apropriassem do espaço para realização de projetos culturais. Neste contexto, surge Marco Porto, artista plástico e poeta, que durante uma conversa com a gerência da BPB percebeu a necessidade de fomentar a poesia na cidade. Ao Correio, Porto, coordenador do evento, observa que a arte de Brasília, em geral, é muito escondida. "Diversas pessoas fazem poesia na cidade, mas falta uma integração entre os artistas. Além disso, falta a sociedade encontrar esses artistas, saber onde eles estão", esclarece.

Frederico Borges Machado, gerente da Biblioteca Pública de Brasília, acredita que as bibliotecas públicas têm um papel de desenvolvimento e produção de conhecimento. "Desde que assumi a gerência da BPB, no fim de dezembro de 2022, temos assumido um compromisso a partir de uma perspectiva de que a biblioteca pública deve ser um espaço democrático de convergência de ideias, ações e projetos relacionados com as áreas do saber, leitura, livros e literatura", explica. "O papel deste local é essencial para o desenvolvimento individual das pessoas e da sociedade como um todo, inclusive no fortalecimento do Estado Democrático de Direito", acrescenta.

Durante o evento, ocorrerão rodas de conversas com quatro poetas, Nicolas Behr, José Sóter, José Carlos Vieira e Noélia Ribeiro, além da ilustradora Luda Aquareluda. "Temos que aproveitar esses artistas e transformar as bibliotecas em um vórtice de ideias, ações, atividades e eventos", argumenta Frederico.

Para Noélia Ribeiro a poesia une as pessoas. "A poesia tem a função de unir em torno de um único objetivo, de reunir pessoas que têm um interesse por essa ruptura que a arte provoca. Então, coletivamente, a função é essa união nos saraus. Essa união nas palestras de pessoas interessadas em outra linguagem, em ouvir algo diferente do que elas vivem normalmente", esclarece. "A poesia rompe os paradigmas, ela traz uma outra visão, aquilo que você vê normalmente é traduzido pelo poeta de outra forma", completa.

Nicolas Behr acrescenta que a literatura pode contribuir até mesmo para o reequilíbrio psíquico da pessoa. "A poesia é um instrumento de felicidade. Ela ajuda a pessoa a se reequilibrar psiquicamente, porque o papel aceita tudo", comenta. Em seguida, o poeta faz uma ressalva: nem todo desabafo é poesia. "É importante escrever poesia, pública ou não. Eu acho que é importante as pessoas escreverem, mas saber que poesia não é só desabafo. A poesia exige uma criação, uma invenção, exige uma linguagem, um trato com a linguagem", explica.

José Carlos Vieira destaca que a poesia tem poder de transformação. "Nesses dias tão complicados, a poesia é um perfume para a vida. Escrevendo ou lendo, ela transforma pessoas. Nos dá a condição de ver o mundo em uma ótica de transformação. A poesia é uma elevação. É também revolucionária", destaca.

Terapia eficaz

Na mesma linha de pensamento, José Sóter reconhece que a poesia é a sua terapia. "Inicialmente, a poesia, para mim, era uma muleta de comunicação para um adolescente tímido. Depois, passou a ser uma observação da realidade que me cerca com os sentimentos, sensações e percepções de tudo que me cerca. A poesia virou uma terapia permanente", comenta.

Além disso, ele ressalta que a poesia desperta belo. "A sensibilidade para o invisível aos olhos ocupados pelos afazeres da sobrevivência, pode proporcionar o conforto da descoberta do belo à vista", pontua. E acrescenta que a poesia pode sensibilizar as pessoas quando elas percebem que está em todo lugar. "A poesia está nos lugares inusitados por onde ela transita em toda a nossa cotidianidade", adiciona.

Nicolas Behr enfatiza que a leitura da poesia é extremamente prazerosa. "Nós estamos aqui, segundo Freud, por causa do prazer, o prazer que a vida nos dá, o prazer de um bom poema, um bom prato, uma boa companhia. Nós somos assim, muito ligados ao prazer. Eu leio poesia e é sempre uma fonte de prazer, de alegria e de reflexão", fala. O poeta José Carlos Vieira também tem a leitura da poesia presente nos seus dias. "Curto muito escritores surrealistas, a geração beat, os modernistas brasileiros, haicaístas japoneses, rappers e repentistas. Gosto da poesia da rua, com gosto e cheiro", declara.

Behr acrescenta que muitas vezes menos é mais na poesia. "As pessoas têm uma ideia de poesia que quanto mais difícil, mais poético. Eu diria que a dificuldade está em fazer uma poesia simples. Lembrando que o simples não é superficial. Você vê os poemas do Bandeira, do Vinicius, que são extremamente simples, mas há uma profundidade muito grande. Eles chegaram num refinamento em que eles conseguem transmitir coisas simples, de uma forma original, diferente, criativa, com outro ângulo", comenta.

Noélia ressalta que as pessoas acham muitas vezes a poesia chata, por não ter conhecido ela de verdade. " As pessoas acham que a poesia é algo muito chato, muito enfadonho. Então, para você conseguir mostrar o real significado e o real valor da poesia, começa muito devagar, até as pessoas se acostumarem a ouvir. Depois que elas descobrem, não conseguem mais deixar", pontua.

Assim como para muitos poetas, Behr diz que a escrita é fundamental. "Eu escrevo por uma necessidade interna. Eu não sei bem qual. É uma necessidade psíquica", conta. "A poesia é instrumento de felicidade. As pessoas perguntam se escreve triste ou alegre. Eu acho que a gente escreve triste para ficar alegre", completa.

A artista e ilustradora, Luda Aquareluda, também estará no evento, e ilustrou diversos livros de poesia, inclusive um com Behr. Para ela, a poesia é uma forma de expressar o mundo de uma maneira mais profunda, subjetiva, amorosa e sincera. Uma maneira de você expressar, mesmo para além deste mundo objetivo, trazer uma visão além. Eu até vejo a poesia como uma espiritualidade. A poesia é uma maneira de você dizer algo que não consegue explicar", comenta.

*Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco.

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