Podcast

'Pevepê podcast': 'Atomic heart' vendeu a ideia, mas não entregou o jogo

Desde trailer de lançamento, em 2017, 'Atomic heart' tinha como inspiração a franquia 'Bioshock' (2007) e o retrofuturismo de destaque

Khalil Santos
André Vinícius Pereira*
postado em 10/03/2023 19:21 / atualizado em 13/03/2023 11:37
 (crédito: Pevepê Podcast/CB/D.A Press)
(crédito: Pevepê Podcast/CB/D.A Press)

O Pevepê desta sexta-feira (10/03) falou sobre o Atomic Heart (2023), um dos lançamentos do ano, que saiu no final do mês de fevereiro, e gerou muitas expectativas desde o primeiro trailer. Entretanto o jogo está envolvido em polêmicas fortes, incluindo ser "arma" na guerra entre Ucrânia e Rússia.

O jogo imagina um mundo utópico onde a União Soviética ascendeu tecnologicamente graças à mente do doutor Dmitry Sechenov. Porém, um dia os robôs surtam e cabe ao Major Sergei Nechaev, codinome P-3, resolver essa crise. Produzido pelo estúdio russo independente Mundfish, o jogo foi o primeiro projeto da empresa, ambicioso e com a proposta de competir com outros jogos de grandes produtoras.

Adiamento, crowdfunding indireto e investimento

O primeiro trailer do jogo lançado em 2017 foi uma peça conceitual feita para vender a ideia para investidores e publishers (publicadores dos jogos). E deu certo, a Focus Entertainment comprou o projeto e foi a principal publisher do jogo.

Mas antes da confirmação de investidor, a Mundfish se aventurou em conquistar seu próprio jeito de desenvolver o jogo, Soviet luna park, jogo de VR feito pela empresa, foi lançado na plataforma Steam, para “arrecadar fundos” ao projeto principal, Atomic heart. O Soviet luna park, contudo, não emplacou.

Retrofuturismo

O maior diferencial de Atomic heart vive da estética, baseada na idealização do futuro antes dos anos 90.    A aposta neste estilo foi feita no mundo dos jogos pela primeira vez ainda no embrião da indústria por um clone de Doom (1993), Castle wolfenstein (1981) — que se tornou icônico por possuir um Adolf Hitler robótico como último chefe. Contudo, o maior expoente foi de longe a 2K (a dona da franquia), quando lançou Bioshock (2007), o game tinha toda uma estética retrofuturista como pilar dos cenários, personagens e trama, ganhando destaque enorme na época de lançamento, que é, sem sombra de dúvida, a maior inspiração de Atomic heart.

Os ambientes em Atomic heart refletem a visão soviética de união e prosperidade farta, sendo o trecho inicial do jogo o maior expoente de como a nação ascendeu nessa utopia fictícia.

  • Jogo Atomic Heart e o retrofuturismo Divulgação Mundfish

Mais do mesmo

Apesar de tentar, Atomic heart não alcança potencial, o jogo tenta mimetizar o gameplay de Bioshock, mesclando armas de fogo e poderes — e apesar dessa suposta variedade de arsenal contra inimigos, tudo parece ineficiente. Além dos adversários serem extremamente resistentes, as armas iniciais mal causam dano às máquinas, o que joga a dificuldade mesmo no normal, para o difícil.

Agora em relação ao sistema, o próprio jogo sabota o jogador, várias vezes ele pode travar o Major (o personagem principal) em algum ponto, ficando impossível de se movimentar, pular ou mesmo atirar, o que força o jogador a reiniciar do último lugar salvo.

No fim, o jogo entrega uma jogabilidade de FPS (tiro em primeira pessoa) fraca e comum, o combate corpo-a-corpo lembra uma versão mais pobre do esquema de movimentação de Dying light. O “mundo aberto” que possui é bem vazio e sem personalidade, e não exibe o mesmo esmero que os locais fechados receberam. Os chefes do jogo são o maior destaque, seres colossais de metal com movimentações diferentes e animações únicas, um deles te aterroriza durante todo o trecho inicial, criando uma expectativa para a batalha contra ele e que é entregue com êxito.

Polêmicas

O jogo é repleto de propaganda soviética e lemas de Guerra Fria. O que pode ser facilmente visto como mau gosto na atual situação política. Não pode-se esquecer o momento histórico em que o planeta vive — Rússia e Ucrânia completaram recentemente um ano de conflito —, mas a guerra entre as duas nações é antiga.

A Mundfish foi atacada duramente por não se posicionar quanto à guerra na Ucrânia, também foi acusada fortemente de enviar dados dos jogadores para o governo russo, não apenas isso, mas a empresa tentou mascarar a origem russa, apontando que possuía “funcionários de várias nacionalidades” e diferentes sedes, a empresa se localiza no Chipre.

Houve outras situações em relação à guerra, com o vice-primeiro-ministro da Ucrânia e ministro da transformação Mykhailo Fedorov, que enviou cartas oficiais à Sony, Microsoft, Valve pedindo o banimento de Atomic heart em todas as lojas digitais, principalmente da Ucrânia, além de apelar para um boicote geral da mídia, em que alega apologia ao movimento soviético. O compositor de Atomic heart, Mick Gordon, condenou fortemente a Guerra e anunciou que doou o pagamento para ajudar a Cruz Vermelha na Ucrânia.

Outro problema: Atomic heart tinha uma animação do final dos anos 60 — "Nu, pogodi!" — com características racistas em um certo trecho do jogo. A Mundfish pediu desculpas para sua comunidade e removeu a animação.

Atomic heart será lembrado mais como um imã de polêmicas e expectativas do que um jogo que se destacou por ser bem feito.

Assista ou escute o episódio nos links:

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para contato. Clique aqui e mande o e-mail.

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE