Maduro e sólido, Tagua Tagua lança o segundo álbum, "Tanto"

Projeto do artista Felipe Puperi, Tagua Tagua traz no novo álbum uma estrutura mais sólida acerca do próprio trabalho; confira entrevista

Anajú Tolentino*

postado em 10/03/2023 11:09 / atualizado em 10/03/2023 12:48

(crédito: Guillermo Calvin)

Com seu novo disco recém saído do forno, Tagua Tagua, projeto de Felipe Puperi, parece estar mais seguro do que nunca. Ao completar seis anos, o projeto chega ao segundo disco de estúdio com Tanto, que sintetiza a trajetória do artista, madura e consistente. As dez canções do disco são uma jornada atrás da outra: o sentimento singular da ânsia dos encontros em períodos pandêmicos tomam o primeiro plano com letras inspiradoras e fáceis de provocar identificação. O ritmo de neosoul também instiga um sentimento nostálgico e abre espaço para novos encontros e descobertas.

Baseado em São Paulo, Puperi esteve à frente da banda Wannabe Jalva por vários anos, levou consigo o currículo extenso de festivais na bagagem e atingiu patamares estruturados já com o trabalho solo. Após dois EPs lançados — Tombamento inevitável (2017) e Pedaço vivo (2018) —, Tagua Tagua lançou o Inteiro metade, em 2020, no qual mescla a psicodelia tropical, os princípios do ye ye ye e a influência do funk.

Em entrevista exclusiva para o Correio, Puperi fala sobre os detalhes da produção de Tanto.

Você pode falar sobre o processo para chegar no Tagua Tagua, saindo do Wannabe Jalva? Você afirmou que foi algo longo. Como se enxerga agora, com o lançamento do álbum? 

Lançando o segundo disco agora eu consigo enxergar como alguma coisa mais sólida, eu me identifico mais com ele e acho que fui criando essa identificação com o tempo. Mas pensando num projeto artístico, eu acho que ele leva um tempo pra maturar o que se quer dizer, qual mensagem quer passar, isso tanto em letra quanto em músicas. Eu quero mostrar essas músicas para as pessoas, pro mundo, quero botar elas pra fora. Hoje me enxergo mais num lugar um pouco mais confortável de de já saber um pouco desse caminho da descoberta. Então, mesmo que tenha sido um um processo longo pra mim, até chegar e começar, eu encaro muito como um aprendizado porque aprendi como fazer as coisas práticas num projeto de uma banda, como fazer funcionar todos os pilares, as pessoas que precisam estar conectadas, fazer a máquina girar e tal. O que faltava era essa apropriação do próprio projeto mesmo. É entender o que eu queria fazer. E fui testando aos poucos. Como nos primeiros EPs, tanto que eu acho que eles têm uma sonoridade um pouco pra um outro lugar. Inteiro metade é um divisor de águas. Por ser uma obra maior, acho que ali consegui entender como eu queria estar, o que eu queria fazer musicalmente nesse projeto.

É um divisor de águas especialmente por ter sido lançado justamente em períodos da pandemia? 

Sim, e eu acho que foi doido, porque eu nem me dei conta de que as pessoas se conectaram com aquele álbum, eu não percebi porque eu não saí pra tocar e não consegui fazer lançamento mesmo.

Esse disco foi uma experiência diferente? Qual a diferença entre ele e o anterior? 

O terreno está um pouco mais preparado pra lançar esse disco, num bom sentido, de que tem mais público interessado. A galera está trabalhando comigo, tipo é uma galera bem legal também e que me ajuda a conseguir dar mais projeção, apesar de que o primeiro disco também tinha um terreno legal. Ele foi lançado pelo Natura Musical, então tinha um empurrão, uma visibilidade. Só que, claro, a gente foi o que a gente falou antes. Ele foi um disco muito afetado pela pandemia. Eu não consegui lançar ele como queria. Imagina, tinha uns shows e lançamentos, todos marcados, uma agenda inteira que foi cancelada. Eu também sinto que se ele fosse ano passado, não estaria num momento tão bom quanto eu acho que está agora. No ano passado, senti que que era uma uma fase de adaptação e, às vezes, as coisas estavam muito aceleradas porque as pessoas estavam nessa vontade de ver tudo que estava trancado. Então foi todo mundo fazendo tudo ao mesmo tempo, era festival pra todos os lugares do Brasil, show, todo mundo lançando coisa, fazendo coisa e agora eu vejo que está tudo meio que entrando no eixo de novo. E isso é bom, porque fica mais favorável pra planejar alguma coisa de novo. A gente ficou meio com uma ressaca de planejar qualquer coisa, né? Eu sou uma pessoa que planeja as coisas, então pelo menos o que que vai acontecer nos próximos seis meses, eu preciso saber se eu não me dá um parafuso, eu fico sem norte. Eu acho que cada coisa é um degrauzinho que você vai subindo, é mais gente ouvindo, é mais gente acompanhando, é mais gente conhecendo. É um processo honesto.

O mesmo vale para o projeto visual?

Interessante essa visão porque isso é bem integrado. Eu e o designer, a gente teve uma conexão muito grande em termos de música e arte. É o João Lauro, um grande amigo meu, ele começou fazendo a primeira arte da música do single Preso no Amanhã e a arte tem bastante a ver com o universo que hoje em dia a gente trabalha. Quase todos os trabalhos que fiz na frente foram com ele porque a gente entrou numa sintonia de ele conseguir sacar muito bem o que eu quero expressar. Dou muito valor pra pra isso. Acho a arte muito importante na música. Ela realmente junta com a música e te transporta para aquele lugar. As duas coisas somam muito. E ele captou muito bem isso, ele é uma pessoa próxima, então eu consigo ter essa troca, explicar o que aquela música ou álbum significa pra mim e por que eu cheguei naquilo. Consigo falar de forma subjetiva às vezes e ele entende isso, ele consegue transformar isso em arte. 

 

E na parte ao vivo, como você busca projetar e entender o seu repertório a partir de agora?

Vai ser difícil porque agora ficou bastante música. Eu não tinha vivido isso até então, aquele lugar de pegar e ter que deixar músicas de fora de um show e tal. Minha ideia não é fazer shows gigantes, que toca duas horas e pouco, não vou fazer isso. Minha ideia é tocar as músicas que rodaram mais, do Inteiro metade, principalmente. Mas vou ter que equilibrar mais. O Tanto vai ser um disco diferente ao vivo em relação ao que foi o outro. O outro disco é dinâmico, ele ajuda o show. Portanto, ele possivelmente vai ser um show mais intimista, mais contemplativo e mais sensual. Em um festival grande, por exemplo, como a gente tocou no fim do ano em Belém, a gente não tinha tempo o suficiente e também não condiz colocar músicas lentas para um festival. Mas o Tanto não tem uma música lenta, ele só tem um outro mood. Então eu vou ter que fazer esse trabalho de entender como montar o show a partir disso, pra esse show ficar dinâmico porque ele não pode estar no ao vivo. É aquele disco de você estar num lugar, fazendo qualquer coisa, e dá play. Ele te acompanha. Eu gosto disso, mas pro show não sei se isso funciona. A galera, às vezes, está num num jeito e é legal jogar uma música que as pessoas já conhecem, daí todo mundo canta com você. Acho que o show precisa disso. Então vai ter que ter esse estudo de mesclar as coisas. 

 

*Estagiária sob supervisão de Nahima Maciel

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