Um ritmo que ficou tão marcado pelo carnaval que o público não esquece a energia, qualidade de composição e poesia. O frevo é alegria do brasileiro na folia, mas sempre teve potencial para ir além. Foi pensando nisso que o músico e produtor Pupillo e o produtor artístico Marcelo Soares decidiram iniciar o projeto Orquestra Frevo no Mundo. A ideia, lançada em 2007, ganhou um produto organizado em volumes em 2020 e, em 2023, com o retorno do clima de carnaval, ganha o volume 2.
O produto consiste em artistas de todo Brasil fazendo versões de frevos famosos. A preferência é por cantores, cantoras e bandas de fora de Pernambuco que, de alguma forma, compartilham a energia que Orquestra entende como Frevo, mas nomes pernambucanos, sejam consagrados ou jovens promessas, também tem espaço nessa festa.
Orquestra Frevo no Mundo Vol. 2 tem Nando Reis, Bala Desejo e Martins, assumindo o microfone que já foi de Edu Lobo, João Donato, Céu, Caetano Veloso, Duda Beat, Otto, Arnaldo Antunes, Mundo Livre S/A, Tulipa Ruíz entre outros. As canções revistas são Não existe pecado ao sul do Equador, por Nando; Energia, com Martins; e Chão da praça, na voz da banda Bala Desejo.
Desde o princípio, a vontade dos criadores do projeto era ultrapassar os limites com o frevo. Literalmente colocar o frevo no mundo, mas com o retorno do carnaval, após dois anos sem lotar as ruas, a oportunidade era perfeita para um novo lançamento. Afinal, o próprio Pupillo classifica: "A maior pista de dança do mundo é a rua e o frevo e o carnaval são dois dos maiores representantes disso".
Entrevista com Pupillo
Como foi o processo de achar o sentimento de carnaval certo para este segundo volume do projeto? E a escolha dos artistas que participariam?
A busca por esse sentimento não passou necessariamente pelo sentimento carnavalesco. A proposta do Frevo no mundo foi justamente ampliar a perspectiva do frevo. O intuito da gente é que ofrevo se torne uma música escutada durante o ano inteiro. Então, a gente tentou mesclar os elementos do gênero com uma roupagem mais pop, para que as pessoas identifiquem, no arranjo, nas programações e nos timbres, músicas que são tocadas diariamente nas rádios ou nos nas plataformas de streaming. Por conta disso também a ideia de chamar artistas de fora de Pernambuco. Pessoas apaixonadas por carnaval e frevo, mas que entendem de maneira ampla. Por isso chamamos Nando Reis, com quem a gente já trabalha há algum tempo. E converso sobre essa estética, com Bala Desejo, que tem um espírito carnavalesco e uma estética tropicalista, e Martins, que é um talento novo. Artistas com entendimento grande da arte quando o assunto é renovação.
O lançamento do primeiro volume acabou sendo seguido por uma pandemia. Como é poder sentir o clima de carnaval novamente e colocar esses frevos na rua?
A maior pista de dança do mundo é a rua. O frevo e o carnaval são dois dos maiores representantes disso. Todos na rua, brincando e se divertindo em uma grande pista de dança, onde as agremiações desfilam. Isso pontuou a questão dos arranjos, de terem timbres inclusive eletrônicos que fizessem com que a música pulsasse mais forte como justamente em uma pista de dança e a rua é o melhor lugar para isso.
Esse foi o momento ideal, a gente podia ter feito e lançado ano passado, mas a gente sentiu que esse ano as coisas estavam de fato se abrindo e as pessoas estavam com o sentimento menos dolorido por conta da questão política. Estamos vivendo um momento de transição e comemoração. Então, é muito oportuno para lançar o projeto.
Esse volume conseguiu chegar a noção desta época de festas e folia que você queria transmitir?
Esse volume, esse EP com três faixas reafirma a ideia principal da Orquestra Frevo no Mundo que é quebrar as barreiras do regionalismo e colocar o frevo no radar das novas gerações para que se torne um estilo de música ouvido além do carnaval. Ele não só cumpre com a função no período carnavalesco, vai além disso. São arranjos que fazem parte da estética do carnaval, mas que também fazem parte do pós-carnaval. A intenção é essa e cumpriu bem com a função.
Bem além do samba
Um ícone do samba, mas que não está preso a só um gênero e, sim, ao amor à música, Péricles mostrou que é capaz de transcender o próprio gênero musical e dar a própria cara e visão das canções que bem entende. De versões de Nando Reis, AnaVitória e até piadas de que colaborará com a estrela do R&B Frank Ocean, Pericão é mais do que só a síncope do samba; ele é um representante na música brasileira que tem unidade em uma bonita voz.
O cantor aproveitou o clima de carnaval para fazer mais versões e apresentar um repertório de todos os gêneros sob a própria perspectiva. Ele lançou o EP Pericão Folia, um compilado do que representa o carnaval para o músico. De Samba-enredo a marchinhas, passando por axé, frevo e chegando até o pop. O samba, que está na veia do artista, dá o tom, mas as composições mais distintas coexistem neste lançamento.
Prefixo de verão, de Beto Silva; Baianidade nagô, de Evandro Rodrigues; Do seu lado, composição de Nando Reis eternizada por Jota Quest; Fogo e paixão, composta por Rose e cantada por Wando; e Balancê,' de Alberto Ribeiro e Braguinha, lançada por Carmen Miranda e marcada por Gal Costa, formam o repertório diverso, mas que tem em comum o desejo do carnaval. Festa que classifica como "uma das mais bonitas do país".
Entrevista com Péricles
Cada dia mais você se mostra um artista mais eclético e adapta bem às mais variadas canções para o seu estilo. Como é o estilo Pericão de cantar um pouco de tudo?
Acho que meu estilo é a música! Amo experimentar, sair da zona de conforto, testar novas canções, arranjos… claro, sem nunca abandonar o meu coração que bate mais forte pelo samba e pelo pagode.
O carnaval finalmente está vindo aí na época certa. Como está o sentimento para o retorno dessa festa?
Nossa… é uma mistura de ansiedade, com saudades, com felicidade. São muitos sentimentos à tona. Não vejo a hora de subir ao palco e de cantar em uma das festas mais lindas do nosso país. A expectativa está grande por aqui!
Você escolheu músicas diferentes para representar o Brasil. Para você, como o carnaval representa a diversidade do povo deste país?
O carnaval não representa a diversidade. Ele é a diversidade! É uma festa que chega em todos os lares, pessoas, tribos… cada região com alguma particularidade ou ritmos específicos, mas com a mesma essência de reunir as pessoas para cantar, festejar e dançar. E é isso que é o carnaval pra mim, a festa do povo para o povo!