Quem nunca se desmanchou em lágrimas ao se identificar com uma história contada em um livro? Em Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente, Igor Pires, criador da marca, mistura experiências pessoais com uma dose de poesia e os desdobramentos do amor.
Igor, de 27 anos, é paulista, formado em publicidade e estudante de jornalismo. Ao todo, o autor publicou cinco livros, sendo o último intitulado Textos para tocar cicatrizes, que já está disponível nas livrarias do país.
O nascimento da marca começou nas redes sociais, quando Igor teve a ideia de publicar alguns textos sobre relacionamento no Facebook. Na época, o jovem convidou quatro amigas para escrever para a página, que começou a fazer sucesso em menos de um ano. O grupo atualizava a rede social com frequência, conquistando quase 1 milhão de seguidores no primeiro ano de criação da página. Ao todo, Pires tem mais de 500 textos escritos.
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Apesar do sucesso, o jovem não tinha a pretensão de publicar um livro. "Eu só comecei a pensar na possibilidade de lançar um livro quando a página do Textos cruéis demais começou a bombar muito. Aí eu pensei 'Ah, então talvez esses textos possam virar um livro'." Antes de chegar até a Globo Livros (editora do TCD), Igor enviou o projeto para mais de 30 editoras. "Até dar certo, deu muito errado. A gente escutou muito 'não'. Eu não esperava que fosse dar certo", explica.
Através da escrita, Igor expressa sentimentos e conta histórias inspiradas em suas vivências pessoais. Em Textos para tocar cicatrizes, o jovem traz relatos do último relacionamento que teve. "Surgiu de um relacionamento muito estranho que eu tive, um relacionamento muito tóxico, em um nível que mexeu muito com a minha percepção sobre mim mesmo, sobre como eu me enxergava. Eu acho que é um livro mais pessoal", relata.
Com o tamanho do sucesso da marca, o Textos cruéis demais saiu dos papéis e foi para o teatro. Após vender mais de 500 mil exemplares, Igor vê sua obra pela primeira vez nos palcos. Assinado por Carlos Jardim, a peça Textos cruéis demais - Quando o amor te vira pelo avesso conta uma história de amor focada na diversidade. A produção estreou no dia 13 de janeiro, no Teatro Ipanema, no Rio de Janeiro. A partir do dia 3 de março, a peça será apresentada no Teatro Sérgio Cardoso, em São Paulo.
Confira na íntegra a entrevista exclusiva de Igor Pires ao Correio:
Como você começou a escrever?
Eu costumo dizer que eu sempre tive muita afeição para texto, para letras. Sempre me chamou muita atenção. Eu lembro que eu comecei a escrever mais ou menos com 10 anos de idade. Eu tinha a mania de escrever e de relatar o que eu via. Eu era viciado em ficar lendo placas de jogos, nomes de bairros, nomes de países, tudo isso me chamava muita atenção. Então eu comecei a escrever e desenvolver essa capacidade de escrita, só que comecei a escrever de fato lá para os 15 anos, que foi quando eu entrei no Tumblr, que na época era a rede social do momento.
Você já pensa na próxima continuação do Textos cruéis demais?
Eu sempre penso nos projetos lá na frente. Eu estava terminando Cicatrizes já pensando no próximo livro que eu iria escrever. Já escrevi algumas coisas, já rascunhei algumas coisas que eu quero para o próximo livro. Na verdade, eu tenho vários projetos. Eu quero muito escrever um livro de contos, contando histórias de amor que deram certo até certo ponto. Já cheguei a conversar com minha editora sobre essa possibilidade. Tem essa ideia do romance também, que eu estou exatamente na metade. Quero montar outro livro de poesias também. Mas, eu acho que chegou o momento da minha vida, da minha carreira, que eu preciso escrever outras coisas. Eu acho que mergulhar mais a fundo e talvez ir para um outro caminho. Eu acho que eu quero escrever, talvez mais para frente, para um público mais adulto, com histórias mais adultas.
Seus textos são escritos de acordo com as suas experiências pessoais? De onde surge a inspiração?
Eu sou um escritor que escreve muito a partir do que eu vivo. Eu não sou uma pessoa muito ficcional, inclusive, é algo que eu preciso trabalhar como escritor, saber escrever mais ficção. Mas eu te confesso que grande parte da minha escrita vem de um lugar não ficcional, vem de um lugar de realidade das coisas que eu vivo, dos relacionamentos nos quais eu estou e do que eu observo também dos relacionamentos dos meus amigos. Eu sou uma pessoa que tende a parar para se auto analisar e analisar também o que está acontecendo. Em Cicatrizes, eu acho que fui muito honesto e muito verdadeiro e eu acho que eu precisava ser assim, porque senão não ia conseguir superar esse momento da minha vida, fechar esse ciclo. Eu acho que escrever sobre essa relação e sobre como eu estive durante essa relação me ajudou a fechar essa porta e encerrar esse ciclo da maneira mais saudável e razoável possível. Eu acho que é por isso que as pessoas se conectam com meu trabalho, porque elas enxergam verdade no que eu escrevo e elas conseguem se conectar com esses sentimentos, que são coletivos, porque acho que todos nós experienciamos a raiva, tristeza, angústia e solidão.
Tem algum texto, em específico, que você goste mais?
Nesse livro Cicatrizes tem dois textos que eu particularmente gosto muito, porque são textos que envolvem família. Tem um texto para o meu pai, chamado Amigo, e é de uma situação muito engraçada: eu estava na casa desse meu ex-namorado e meu pai me ligou, e aí ele falou: 'Filho, onde você está?' E a primeira coisa que eu falei, instintivamente foi 'estou na casa de um amigo'. E no momento que eu falei isso, fiquei muito triste. Esse poema veio na minha cabeça, e é um poema em que eu falo 'pai, eu queria dizer que eu estou na casa de uma pessoa que tem mexido muito comigo', e no final eu escrevo: 'queria dizer que o amor chegou para mim, mas ele veio atado ao corpo de um homem'.
E tem um texto para a minha mãe também, chamado Abelha, que é um texto que eu fiquei seis meses pra escrever, porque eu tenho uma relação muito complexa com a minha mãe, de muito amor, a gente se ama muito, mas é uma relação muito pontiaguda. É um dos meus textos favoritos, que eu já escrevi. A abelha é uma das espécies mais importantes que existem, na manutenção da vida. Sem as abelhas não existiriam muitas outras coisas na cadeia da vida e eu acho que toda mãe é um pouco como uma abelha.
Em quais autores você se inspira?
Eu estudei a vida toda em colégio público. Me lembro que a biblioteca do meu colégio vivia fechada, eu não entendia porque, aí teve um dia que a professora de português falou que liberaram a biblioteca para a gente, e aí eu me deparei com o livro do Drummond. Lembro de abrir o livro e ler um texto e falar 'nossa, então é possível você escrever bonito. Escrever bonito sobre as coisas da vida e do mundo de uma forma bonita. Acho que eu quero fazer isso para sempre. Acho que eu quero fazer isso pra minha vida também'. Acho que o gosto pela leitura vem muito nesse lugar de ler poesia e me conectar com essa linguagem.
Eu gosto muito do Caio Fernando Abreu, li muito na minha adolescência. Continuo lendo bastante, ele é gay, um autor gay, que foi o meu primeiro contato com a literatura queer, que eu li e falei 'nossa, então é isso, então é isso que eu sou'. Eu acho que hoje estou sendo o Caio de muitos adolescentes, escuto muitas pessoas falarem 'você é o primeiro livro que eu li que falava sobre isso e agora eu estou à procura de outros livros que falem sobre isso também.' O Caio me acompanhou, acompanhou minha jornada de descoberta e de autoconhecimento. Eu gosto muito dos autores clássicos, sou muito apegado ao Drummond, Mário Quintana, Fernando Pessoa. Li muito Clarice Lispector também, na minha adolescência, são autores que mexeram muito comigo.
Você acha que a literatura nacional está desvalorizada?
Acho que é óbvio que existe ainda uma predileção pelos autores gringos, mas tenho visto que nos últimos anos as pessoas têm lido mais autores nacionais. Acho que tem sido um grande movimento, inclusive, das grandes editoras de trazerem à tona novos nomes da literatura nacional. Por exemplo, agora a Carla Madeira está bastante em evidência, é uma autora que tá todo mundo lendo. A gente tem também o Itamar Vieira, que também tá todo mundo lendo. Temos alguns autores de poesia também que tem despontado e chegaram para ficar.
Existe hoje uma valorização dos autores nacionais, mas acho que ainda existe, em relação a literatura gringa, um pouco da gente ainda não ser tão valorizado. Eu quero muito que outras pessoas iguais a mim cheguem nesse lugar. Ainda sinto que é um pouco difícil entrar no mercado editorial, acho que às vezes é um mercado muito injusto. Mas é importante eu estar aqui para que outras pessoas possam entender que é possível estar aqui também, nem que elas façam isso por outros meios, como auto publicação, que hoje é uma realidade. Você pode publicar o seu livro na Amazon e ele pode dar certo e virar um best seller.
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