Gaby Amarantos é um fenômeno por si só. Antes de reforçar a onda amazônica que resgatou o Pará no mapa musical do Brasil nos anos 2010, com o primeiro álbum solo Treme (2012), Gaby Amarantos começou a carreira como vocalista e compositora da banda TecnoShow. Dez anos antes da estreia solo, o grupo de tecnobrega foi dono de vários hits em aparelhagens que reverberaram o som das periferias da capital do Pará. Ao lado do compositor e produtor Marcos Nazareno Coelho Pinto, conhecido como Marquinho, Gaby Amarantos ecoou o legado do grupo e celebra os 20 anos de carreira da trupe com o álbum TecnoShow vol. 1.
O trabalho reúne oito faixas, versões da multiartista para hits internacionais de Roxette, Bee Gees, Cyndi Lauper, Magic Box, Shannon e Juan Luis Guerra, além de duas canções originais escritas também por Amarantos. Para definir as músicas do setlist do projeto, Gaby selecionou os hits marcantes do grupo e as músicas mais pedidas. E todas as canções, que são versões, foram disponibilizadas nas plataformas com autorização dos autores das músicas originais.
"Todas as músicas representam o tecnobrega para o Brasil e foi o que deu mais trabalho nessa coisa das autorizações. Mas assim que a gente teve o aval dos compositores, as músicas já existiam. Então, a gente só as regravou com um olhar mais cuidadoso, com mais qualidade, mas sem descaracterizar. E foi tão gostoso, porque a gente lançou sem nenhuma expectativa e é um presente para os fãs que me acompanham há muito tempo e para o Brasil poder conhecer esse movimento. A Tecnoshow foi uma das precursoras do movimento tecnobrega no Brasil e aí está trazendo tantos frutos", conta Gaby ao Correio.
Além de celebrar a cultura da aparelhagem, Gaby quer que as pessoas conheçam cada vez mais as emblemáticas festas que são realizadas em todo o estado do Pará. O TecnoShow também homenageia DJs, traz uma das primeiras composições da carreira da artista e festeja obras visuais das capas características de grupo de tecnobrega ou forró do começo dos anos 2000. O álbum celebra não só da carreira de Gaby, mas também a cultura paraense em músicas nostálgicas como um acerto acurado e uma reconexão com seu antigo público.
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Três perguntas para Gaby Amarantos
Após 10 anos de carreira solo no mainstream, como foi o processo de repaginar versões do grupo Tecno Show?
É como se eu me reconectasse com essas raízes de novo e ele tem um papel muito importante para o tecnobrega, para a música de periferia brasileira porque legaliza. O tecnobrega foi o estilo que trouxe para o Brasil essa cultura de você pegar uma música internacional e regravar, e é uma coisa que o brasileiro adora, né? Poder ter um ritmo internacional e cantar em português. Então, a gente conseguiu as autorizações com os respectivos autores e isso traz uma legitimidade para o movimento que, para mim, é como se a gente tivesse ganhado um estandarte de patrimônio imaterial brasileiro da gente ter essa legalização nas plataformas. De a galera poder ouvir sem medo, de que o link não vai cair e que vai poder se divertir, curtir. E trazer isso também da galera poder conhecer mais a batida do tecnobrega, o tecno melody e poder cantar na nossa língua.
Como você percebe o lançamento de TecnoShow depois de 20 anos de carreira?
Agora, eu vejo a colheita de uma sementinha que a gente plantou lá atrás. E a árvore está começando a crescer. Sou uma pessoa da Amazônia, de Belém. E essa analogia da árvore, do fruto, da floresta, para mim, é muito forte, eu visualizo muito isso. A gente contou lá no início, quando a gente chegou com esse estilo e que muita gente abraçou, muita gente ficou taxidérmica e deu aquele sacode na indústria. A gente fazia isso de uma forma ilegal não porque queria ser marginal, mas porque ninguém olhava para música da periferia do Norte, havia um grande preconceito e uma falta de conhecimento nele. E o tecnobrega é, basicamente, acho que em 80%, versão de música internacional, sabe? E tem vários hits lá que já existem há séculos, mas que agora a gente tem muita esperança de conseguir autorizar para a galera poder cantar e deixar de ser marginal, sabe? Então, agora estou assim sentindo que não quero ser pretensiosa, mas eu pavimentei a estrada e agora estou desfilando nela. E eu quero que mais gente desfile nessa estrada, também.
Qual sua proposta em levar isso para os shows?
Estamos fazendo um show como um passeio por toda a carreira, seja pelo Purakê (disco de 2021) e pelo Treme, e tantas outras do repertório, sem medir esforços. Tem o momento TecnoShow, tem o momento de rave e aparelhagem, e mesclando meus hits do tecnobrega com a minha carreira solo. O show está uma coisa assim impressionante porque eu acho que é diferente de tudo que está rolando no Brasil. Porque o nosso movimento, a nossa música da Amazônia, é distinta dos demais movimentos. E eu queria trazer assim, para mim e para a galera, um pouco da experiência do que é estar numa festa de aparelhagem. Para galera que nunca foi, através dos nossos shows, poder falar caramba "eu não fui numa festa de aparelhagem mas eu fui no show da Gaby e me senti numa festa de aparelhagem", porque a gente propõe essa estética também: de ter um aumento da bazuca, do tecnobrega, do led, de toda essa estética que é tão rica e que a galera está ansiando por conhecer mais. E é por isso não pode ter só o volume um, o TecnoShow vai ter o volume dois.
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