Os jogos ajudam a pensar em variáveis, a resolver problemas, a imaginar situações e soluções para conflitos ou impasses. As múltiplas possibilidades apresentadas pelo mundo lúdico guiou a dupla de curadores Patrícia Gouveia e Felipe Pais pela montagem da exposição Playmode, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) a partir de hoje. "No século 21, diz-se que as artes lúdicas são centrais para desmontar sistemas. Sistemas interativos, que também podem ser jogos analógicos, nos ajudam a pensar em várias variáveis", diz Patrícia, uma portuguesa que, há 15 anos, escreveu uma tese de doutorado sobre o papel dos jogos na sociedade contemporânea.
A ideia da exposição era que as obras fizessem um convite ao público para entender as transformações que a ludificação da sociedade pode trazer num mundo globalizado. "Partimos de conceitos centrais como brincadeiras, jogo, interação e participação e dividimos em três blocos", diz Patrícia. "Isso abre um caminho de possibilidades para pensar como as diferentes variáveis podem contribuir para diferentes fins e funções. Isso nos ajuda a pensar um pouco sobre o mundo. A brincadeira e o jogo, no século 21, são fundamentais, e a interação e a participação são coisas que nós criamos."
Segundo a curadora, as interações provocadas pelos jogos são tão essenciais que os artistas do século 20 refletiram sobre esses conceitos em instalações, performances e movimentos que convidavam as pessoas a participar. Ela cita, por exemplo, o Fluxus, que reunia artistas como Yoko Ono e suas performances nas quais escrevia instruções para orientar o público na realização das obras. No século 21, essa tendência desacelerou. "As artes contemporâneas, neste século, andaram muito de costas viradas para as artes interativas", lamenta a curadora, que idealizou Playmode como um espaço de convergência entre as artes contemporâneas e as interações.
Para criar esse clima, Patrícia e Felipe reuniram obras que refletissem os conceitos de interação. "E misturamos esculturas, mesas de jogos e juntamos essas duas componentes. Há jogos em que se joga como num computador, outros em que se joga colaborativamente com outras pessoas, como o Xadrez improvável, ou uma mesa que permite misturar vários tipos de peças. A ideia era mesmo misturar e não separar'", avisa. Vivências sensoriais e conceituais fazem parte do que os curadores esperam que o público experimente. A ideia é que os jogos sejam capazes de criar um mundo à parte no qual outras realidades e perspectivas possam ser desenhadas pelos jogadores.
Revolução digital
A tecnologia é um ponto importante nas escolhas de Patrícia e Felipe. Eles buscaram obras capazes de sintetizar a evolução tecnológica na área e a mudança nas maneiras de interagir provocadas pela revolução digital. Obras de brasileiros como Jaime Lauriano, Laura Lima, Marcius Galan e Nelson Leirner estão na mostra, que tem também um trabalho do Coletivo Beya Xinã Bena, que reúne produções audiovisuais indígenas. Deste último, a exposição traz Huni Kuin, videogame sobre o povo kaxinawá criado por artistas indígenas, antropólogos e programadores.
Segundo Patrícia, a curadoria dos nomes brasileiros em Playmode levou à conclusão de que essas artistas estão profundamente conectados com a temática da revolução digital. "Há um enorme alinhamento com temas que estão na ordem das reflexões da globalização e com os efeitos da cultura lúdica na nossa vida. Os projetos estão muito alinhados com essas reflexões", aponta a curadora. "Críticas aos estereótipos, como a que está presente, por exemplo, na mesa de jogos em que se pode jogar com várias peças nos faz pensar em por que a competição e não a colaboração? Pensar novas formas a partir do jogo e da brincadeira."
Entre os artistas estrangeiros, há trabalhos de Bill Viola, pioneiro da videoarte, em parceria com o Game Innovation Lab, do designer e arquiteto americano Isamu Noguchi, e de Joseph DeLappe, conhecido por performances com jogos on-line. Em 2006, DeLappe utilizou o jogo America´s Army, criado pelo Departamento de Defesa Americano para recrutar jovens para o Exército, para realizar a intervenção Dead-in-Iraq. Obras do alemão Aram Bartholl, que explora as fronteiras entre o mundo virtual e o real, também estão na mostra, que faz uma ponte entre o mundo da arte contemporânea e dos games.
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