O curta-metragem brasiliense As miçangas, entre 10 mil filmes, atravessou uma seleção para a 73ª edição do Festival de Berlim (Alemanha) e foi um dos 35 escolhidos na lista final do evento, marcado para o período de 16 a 26 de fevereiro. "Sem dúvida, é uma peneira que leva a gente a um lugar muito especial", comemora a codiretora Rafaela Camelo, parceira de Emanuel Lavor. Quinze profissionais da equipe do filme pretendem participar do evento. Com a lacuna no programa de internacionalização da Ancine (Agência Nacional do Cinema), que poderia auxiliar na pretensão, um suporte da entidade Projeto Paradiso colaborou, mas ainda não sanou o problema da equipe. A negativa da Ancine, que passa por reconstrução, expõe necessidade de revisões. "É um périplo conseguir realizar filmes. É essencial fazer o filme viajar e chegar nos festivais para debates saudáveis", argumenta a diretora.
Numa rede colaborativa, a equipe de Rafaela e Emanuel pretende, a partir de benfeitorias, arrecadar dinheiro para a viagem. Faixas de apoio variadas resultarão em contrapartidas que vão desde a participação em oficina de assistência de direção, consultoria de projetos audiovisuais, bate papo sobre atuação e masterclass de fotografia até massagens e leituras de mapa astral. Noutra modalidade (sem benefícios), com qualquer valor, interessados podem ajudar com Pix (pela chave: moveofilmes@gmail.com).
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Formada em audiovisual na Universidade de Brasília, Rafaela Camelo se integrou a eventos internacionais desde a projeção dos filmes, em especial com Mistério da carne, feito em 2019 e selecionado para o destacado Festival de Sundance (Estados Unidos). "Isso mudou a minha vida e a minha carreira", sintetiza. Ainda que com a "carga grande da viagem cara" pela frente, Emanuel Lavor celebra o momento, que "agrega muito valor às trajetórias profissionais". "Tivemos recentemente a notícia maravilhosa de ambos estarmos numa lista preliminar para realização de filmes, num edital da Ancine reservado a novos realizadores", conta.
Pelo que Lavor adianta, As miçangas representará o Brasil, em Berlim, sob um tom cru e simbólico em torno de temática muito atemporal: o aborto. "A forma como o filme se organiza é atual, sendo majoritariamente composto, na equipe, por mulheres. É uma obra de dois realizadores jovens de Brasília. É o cerrado, em ebulição, indo para o mundo, com traços políticos e atuais que repensam culpa ancestral, fraternidade e autonomia de decisões.", reforça.
Em Berlim, o Brasil também estará representado em mostras paralelas, com os curtas Infantaria e A árvore (este, uma coprodução com a Espanha). "O ideal seria filmes latino-americanos terem uma representação maior no evento. Há coisas sendo produzidas, sendo feitas. É sintomático como as políticas públicas, e as oportunidades estão mal distribuídas", avalia o Emanuel. Foi no mestrado, com estudos na Escola Internacional de Cinema e Televisão de Cuba, numa experiência muito imersiva, no auge da pandemia (em 2021), que ele desenvolveu o roteiro de As miçangas.
"No filme, a gente não fala a palavra aborto. Quisemos trazer a experiência muito pessoal e individual, explorando a proximidade física entre as atrizes Pâmela Germano e Tícia Ferraz, o que estimula a percepção do coletivo", destaca Rafaela. Testemunha, auxiliar e cúmplice do aborto, na tela, Tícia completa: "O filme é realista e fantasioso, com protagonismo para duas mulheres e uma serpente. Dizemos que a Guita, a jibóia, é a terceira personagem, porque realmente a presença dela é muito forte e tem muito significado pra narrativa", adianta a atriz.
As miçangas
Produtores do curta-metragem de Brasília, que estará no Festival de Berlim, no momento, captam verbas para levar equipe para o evento. Interessados em ajudar podem acessar https://benfeitoria.com/projeto/as-micangas-na-berlinale-2023-13ly
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