música

"Último romântico": trapper WIU fala sobre o gênero que exalta o amor

WIU ganha destaque no gênero ao driblar os temas abordados com mais frequência no rap para falar de amor

Anajú Tolentino*
postado em 14/02/2023 06:00
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

O trap, gênero criado em Atlanta (EUA) no começo do século, tem conquistado nos últimos anos aumentos consideráveis do consumo nas plataformas de streaming. Em uma mistura da cadência de beats, sintetizadores, timbres mais harmoniosos entre graves densos, o estilo é facilmente viciante por apresentar nuances sonoras que geralmente os instrumentos musicais não são capazes de reproduzir ao vivo.

O ritmo chegou com tudo no Brasil por volta de 2014, por meio de visuais afrofuturistas, batidas pesadas e letras despretensiosas. Com isso, influencia o estilo de vida de uma densa geração da música brasileira, principalmente nas regiões Sudeste e Nordeste. Contudo, o estado do Ceará ganha destaque. Sua capital é reconhecida por diversos nomes importantes da cultura, do romântico José de Alencar ao rascante Belchior.

Mas de uns anos para cá, Fortaleza tomou os holofotes dessa vertente da música. Don L, Rapadura Xique Chico e Costa a Costa marcaram espaço no rap nacional, mas seu subgênero-filho-malandro fez por onde ocupar a "terra do Sol" e ganhar proporções gigantescas pelo Brasil inteiro. Um dos expoentes dessa vertente musical se chama Vinicius William Sales de Lima, conhecido como WIU. Aos 20 anos, o rapper gosta de falar de amor. Se autointitulando como o "último romântico" do trap, o artista destoa da temática que o subgênero aborda: ostentação, festas e expressão do cotidiano dramático das periferias. "Sou moleque 'apaixonadão', tá ligado? Desde sempre gosto de ouvir lovesong, R&B, uns sons românticos dos anos 2000, coisa mais antiga". E é assim que WIU chega com o álbum de estreia intitulado Manual de como amar errado.

Ao Correio, WIU enfatiza que "não existe amor sem amar errado". Foram suas experiências que deram o gás para a criatividade e fizeram que com o álbum fosse voltado às experiências reais dos relacionamentos em uma miscelânea de sons além do trap. "Essas experiências a que me refiro são tanto pessoais quanto da galera que participou do álbum. Desde relacionamentos abusivos até o mais romântico possível. Além disso, gosto de pensar que existem projetos que nos dão mais do que números. Eu quero trazer uma proposta diferente, sem medo de me jogar em vários gêneros musicais. Ainda mais no momento que acho que é muito fácil cair na mesmice, repetir uma fórmula. Eu não tive medo e a galera está curtindo", conta.

Ao longo das 15 faixas com interlúdios, o cantor aborda as falhas naturais do amor,  com a participação especial de João Gomes, cantor de piseiro. Em um momento simbólico da carreira, WIU retroalimenta também o contato com a internet, como na canção Coração de gelo, em que une o trap ao reggaeton, e usa o sample do hit Cabeça de gelo, de Shalon Israel, também consagrado pelo DJ Cleiton Rasta. 

"Eu gosto de fazer a música que gostaria de ouvir, de fazer o que acho que está faltando e ver que a galera gosta de ouvir também. Tipo Coração de gelo, a música está indo muito bem, principalmente no TikTok, ainda mais porque essa música tem muito da minha essência do som que gosto de ouvir, tipo reggaezinho para dançar a dois. Eu usei um pedaço da música do Shalon para fazer esse som, como uma maneira de homenagear ali. Eu acho que esse é o caminho, do que é nossa raiz e fazer a música que a gente quer ouvir."

Alianças do trap

Além desse hit, o álbum também contou com parceria de WIU, Matuê e Teto na canção Brinca demais. A relação com os dois rappers começou pelas redes sociais até ser firmada uma parceria oficial em 2019, quando WIU foi convidado a integrar o selo musical 30PRAUM. "O que me guia muito sempre foi a música. A 30PRAUM mostrou o nosso potencial, do que o trap é capaz. Junto aí com vários outros gêneros, outros artistas que já estavam muito no Brasil inteiro e chegaram com os dois pés na porta, mostrando do que é que cada um é capaz."  Vale ressaltar que o artista também foi o principal produtor do álbum Máquina do Tempo, de Matuê, e fez aparições em shows históricos, como no Rock in Rio 2022, no palco Sunset, reafirmando a potência do trap no país.

"Esse foi o momento que a gente sempre entrou, procurou se conectar mais com as pessoas, ser mais humano dentro do nosso trampo. Quando olho para trás dentro do rap, dentro do trap, dentro da nossa cultura, eu vejo a trajetória de Don L, de quem  sou muito fã. Quanto foi difícil, quanto ele teve que lutar para várias coisas que a gente faz hoje acontecer, para Fortaleza ser vista como influente, um lugar que tem cultura, que tem o seu valor. Só consigo entender o quanto a gente se sente privilegiado e o quanto o trabalho duro faz sentido na cena musical do país. Ainda mais de ver uma geração se inspirando na gente, fazendo música com o que tem, isso me deixa muito feliz e acho que o ponto mais feliz de um músico é se tornar esse tipo de imagem pra galera."

  • Wiu figura no top 10 artistas do rap nacional, com maior número de ouvintes mensais
  • É o artista que passou mais tempo no Top 1 do Spotify Brasil em 2022
  • Tem 90 milhões de visualizações no videoclipe de Vampiro, no Youtube
  • Tem mais de 500 milhões de reproduções no total nas plataformas
  • Tem 10 milhões de streams em Coração de Gelo

 *Estagiária sob a supervisão de Severino Francisco

Notícias pelo celular

Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.


Dê a sua opinião

O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação

CONTINUE LENDO SOBRE