O ator, diretor, produtor, professor, autor e dramaturgo, José Maria Bezerra de Paiva, conhecido como B de Paiva, morreu na manhã desta terça-feira (31/1), aos 90 anos de idade.
José Maria Bezerra de Paiva nasceu em 1933 em Fortaleza (Ceará) e iniciou sua carreira aos 15 anos no conjunto Sacri-dramático, em 1948. O artista fundou a primeira escola de teatro do estado, promoveu a criação do teatro moderno do Ceará e foi muito atuante na movimentação cultural do estado nordestino, onde fundou o teatro universitário da Universidade Federal do Ceará (UFC), em 1965.
O artista chegou a Brasília pela primeira vez em 1968, para dirigir o espetáculo Um uísque para o rei Saul. Uma década depois, B. de Paiva veio morar na capital a convite de Dulcina de Moraes para comandar a Fundação Brasileira de Teatro (FBT). Ele dirigiu a FBT entre o final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Durante essa década, acabou por tornar-se referência para toda uma geração do teatro brasiliense. "Uma coisa muito curiosa é que a gente nunca soube até então a relação de amizade de Dulcina e B. de Paiva. Ela confiava muito nele e ele assumiu a gestão da FBT entre 1987 e 1995. Nesse período começou a resolver uma série de problemas que já haviam na fundação, como crises e dívidas", conta Josuel Júnior, diretor do Espaço Cultural FBT. Segundo ele, B. de Paiva foi crucial para a retomada da fundação nos anos 1990. "Ele assumiu em um período muito conturbado, que foi uma greve nos anos 1980 pela melhoria. Ele conseguiu contornar a crise e soube gerenciar esse período para que, em 1991, o teatro conseguisse um grande patrocínio para resolver as questões antigas", conta. Josuel explica que a dívida que existe hoje na FBT é posterior a 1994. "Entre 1991 e 1994, o B. de Paiva conseguiu controlar essa crise histórica, que advém do período de construção do próprio prédio", explica.
O diretor Fernando Guimarães conta que estreou no palco sob a direção de B. de Paiva, em 1983. Ele participava de uma montagem de Bodas de sangue, de Federico Garcia Lorca, na qual também estava Dulcina de Moraes. Fernando tinha 18 anos e acabava de entrar para a Faculdade Dulcina de Moraes. "Ele me ensinou uma coisa que era a disciplina. Quando a gente tem 18 anos, não é muito disciplinado. Era um elenco grande, muitos alunos, eu fazia uma participação pequena, mas ele me ensinou a disciplina na cena e fora da cena", lembra. "E hoje me vejo falando com meus atores igualzinho. Mesma coisa. Foi uma pessoa fundamental pra mim e durante esse tempo todo a gente conviveu na faculdade."
Anos depois, Guimarães, em 1999, dirigiria B. de Paiva em A distância da lua. "Foi maravilhoso, porque ele ficava me dizendo 'o que você quer? eu faço'. A humildade era essa", lembra.
O ator e diretor João Antônio também tem em B. de Paiva uma referência. "Desde que me entendo por artista em Brasília ele participou da minha vida. Sempre foi meu amigo, meu mentor, meu diretor, meu colega", conta. João Antônio lembra especialmente de ter sido dirigido pelo amigo e mentor em Pequenos burgueses, de Maxim Gorky. "Todos os projetos em que eu me meti ele foi mentor, professor, uma pessoa fundamental para nosso teatro", diz João Antônio, que destaca o pioneirismo de B. de Paiva como um dos responsáveis pelo moderno teatro brasileiro. "Me ensinou ética, política, me ensinou atuação, diálogo, me ensinou ser um ser humano melhor", garante.