Fosse um produto comestível, o Oscar, na 95ª edição, traria no rótulo os ingredientes: celebração das artes, diversidade racial, clássicos revisitados e, sim, até mesmo renovação no quadro dos indicados, ao menos na categoria de atuação. Vencedora de prêmios anteriores por O aviador e Blue Jasmine, a atriz favorita em 2023 é Cate Blanchett, que, com Tár chega à oitava indicação; enquanto Michelle Williams alcança a quinta chance de estatueta, por Os Fablemans. De resto, há 16 indicados por atuação que estreiam na disputa do Oscar, para além do retorno dos veteranos Judd Hirsch (Gente como a gente), que desponta, aos 87 anos, com Os Fabelmans, e Angela Bassett (Tina) que coloca a primeira personagem da Marvel (de Pantera Negra: Wakanda para sempre) na disputa pela estatueta dourada. A festa, a ser apresentada pelo humorista Jimmy Kimmel, está marcada para 12 de março.
Mesmo para veteranos como Jamie Lee Curtis e Brendan Fraser, o Oscar chega com sabor de novidade: ele, indicado por A baleia, e Jamie, pelo divertido personagem do intrigante Tudo em todo lugar ao mesmo tempo.
Impensável, anos atrás, que a estabelecida indústria hollywoodiana acolhesse, na lista, nomes internacionalizados como os de Ke Huy Quan, Hong Chau e Stephanie Hsu, todos indicados pela interpretação de personagens coadjuvantes. Mesmo com tanta abertura de renovação, o Brasil, que teve chance de emplacar nas categorias de melhor curta (Sideral) e ainda, por tabela, no documentário O território, ficou de fora. Esnobada também foi a atriz Margot Robbie (de Babilônia), que perdeu a vaga de candidata a melhor atriz para a colega Andrea Riseborough, encabeçando To Leslie, sobre uma mulher dependente química capaz de perder todo o prêmio vencido numa loteria. Outros arejamentos na lista esbarraram nos nomes de Paul Mescal (Aftersun) e ainda do ator negro Brian Tyree Henry, coadjuvante do longa Passagem, liderado por Jennifer Lawrence, no qual Tyree interpreta um mecânico.
Na terceira edição do Oscar, nos anos de 1930, Lewis Milestone, melhor diretor (e dono do melhor filme) trouxe os holofotes para Sem novidade no front, que, em nova roupagem chega à edição de 2023: com produção alemã, Nada de novo no front, sobre a Primeira Guerra (disponível na Netflix) emplacou nove indicações, com direito à dobradinha de melhor filme e melhor filme internacional (Parasita, há dois anos, trouxe o único caso de dupla vitória). Tudo em todo lugar ao mesmo tempo, sobre múltiplos destinos de personagens descendentes de chineses, chega forte, liderando a festa com 11 indicações. Também num braço de globalização, o vencedor da Palma de Ouro de Cannes, Triângulo da tristeza, sobre luta de classes, estendeu o selo de cinema autoral na lista do Oscar. Coprodução entre 10 países, o filme trouxe indicação para o diretor sueco Ruben Östlund, autor ainda do roteiro (também indicado). O longa figura ainda na lista dos 10 finalistas.
Com os incontestes sucessos de bilheteria selecionados a melhor filme (Top Gun: Maverick, com seis indicações, e Avatar: O caminho da água, com quatro), a lista de indicados trouxe a disparada da esperada visibilidade de longas como Os Fabelmans, que emplacou sete indicações (com Steven Spielberg, no recorde acumulado de 12 indicações como produtor, atrás apenas do falecido William Wyler, e ainda computando nove indicações a melhor diretor, tal qual Martin Scorsese). Outros dois filmes brilham: Elvis (oito indicações) e Os banshees, de Inisherin, destacado em nove categorias, a partir do enredo da dissolução de uma longa amizade.
Sem competir como melhor diretor, Baz Luhrmann (Moulin Rouge) entra na segunda disputa como coprodutor do candidato a melhor filme, Elvis, que puxa uma ode aos filmes sobre música e cinema (na qual o brilho de Babilônia não se confirmou), que é completada por Os Fabelmans e o filme em torno de Marilyn Monroe, Blonde, que trouxe a prudente posição da Academia (que vota o Oscar), de limitar, diante de polêmicas, a indicação à melhor atriz de Ana de Armas.
No páreo ao título de melhor direção de fotografia, Elvis projeta o talento de Mandy Walker, apenas a terceira mulher, na história do Oscar, a figurar na lista. Desbravadora, uma menina abordada em The quiet girl trouxe a primeira indicação da Irlanda à melhor produção internacional. No terreno feminino e feminista, o longa Entre mulheres, coproduzido pela atriz Frances McDormand, além de selecionado aos finalistas a melhor filme, rendeu a segunda indicação de roteiro adaptado para a diretora Sarah Polley (Longe dela). Curioso ainda é o caso de Catherine Martin, capaz de emplacar em três categorias de Elvis (figurino, produção e desenho de produção), num caso raríssimo. Junto com o feito da atriz malaia Michelle Yeoh (Tudo em todo lugar ao mesmo tempo), Cate Blanchett (vencedora de prêmios de atriz em Veneza e no Globo de Ouro) defende uma personagem icônica em Tár: a primeira diretora musical de exímia orquestra alemã.
Ao mesmo tempo em que reiterou a atenção a talentos como os de Martin McDonagh, de Os banshees de Inisherin (e ainda do premiado Três anúncios para um crime) e de Todd Field (candidato a melhor diretor por Tár, e lembrado por Pecados íntimos e Entre quatro paredes), o Oscar abraçou inesperada questão de etarismo com o ator Bill Nighy, indicado por Living (inspirado por Viver, feito em 1952 por Akira Kurosawa). Já no terreno dos melhores filmes internacionais, Argentina, 1985, na oitava chance de uma fita dos hermanos, tenta o terceiro Oscar para o país, depois das vitórias de A história oficial e de O segredo de seus olhos. Grande Prêmio no Festival de Cannes, o belga Close disputa ainda com um longa do veterano Jerzy Skolimowski, comandante de EO, fita polonesa sobre um asno onisciente e onipresente da jornada de parte da população europeia. Entre as animações, a vitória parece certeira com a visão do consagrado mexicano Guillermo del Toro (de A forma da água e do recente O beco do pesadelo) para os ensinamentos de Pinóquio. Na categoria, del Toro tem que derrotar A fera do mar (atração da Netflix) e ainda um título da Pixar-Disney — Red: crescer é uma fera.
Principais indicados
Melhor filme
Avatar: O caminho da água; Nada de novo no front; Tár; Top gun: Maverick; Tudo em todo lugar ao mesmo tempo; Elvis; ? ?; Os Fabelmans; Entre mulheres e Triângulo da tristeza.
Melhor direção
Martin McDonagh (Os banshees de Inisherin); Daniel Kwan e Daniel Scheinert (Tudo em todo lugar ao mesmo tempo); Steven Spielberg (Os Fabelmans); Todd Field (Tár) e Ruben Östlund (Triângulo da tristeza).
Melhor ator
Austin Butler (Elvis); Colin Farrell (Os banshees de Inisherin); Brendan Fraser (A baleia); Paul Mescal (Aftersun) e Bill Nighy (Living).
Melhor atriz
Cate Blanchett (Tár); Ana de Armas (Blonde); Andrea Riseborough (To Leslie); Michelle Williams (Os Fabelmans) e Michelle Yeoh (Tudo em todo lugar ao mesmo tempo).