Entrevista

Em entrevista, Ana Carolina fala sobre relação com Cássia Eller

Em entrevista ao Correio, Ana Carolina fala sobre a relevância da cantora brasiliense, homenageada, recentemente, com um show que rodou por várias capitais do país

Cássia Eller foi uma das vozes mais singulares da música brasileira e viveu o auge e o fim da carreira em 2001. Naquele ano, a cantora se apresentou no Rock in Rio ao lado de grandes nomes do rock nacional e internacional. Brilhante na voz, no palco e na vida, Cássia é um sinônimo de revolução e bravura. Ela foi uma das maiores representatividades LGBT para o Brasil nos anos 1990. Cássia ficou para as próximas gerações como uma inspiração e um símbolo de liberdade.

Por isso, a cantora Ana Carolina trouxe a turnê Ana canta Cássia para a capital em 3 de dezembro, um show que foi um tributo à vida e a música de Cássia Eller. "Além da obra que me toca profundamente e nos mais variados níveis, a Cássia me inspirou pessoalmente também. A presença, a personalidade, a postura em relação à vida e à sexualidade. Me lembro de ouvir aquela mulher tão forte pela primeira vez e me sentir completamente representada", recorda a cantora.

Em 1990, a jovem Ana Carolina, de 16 anos, escutou pela primeira vez o álbum Cássia Eller disco 1, o primeiro da carreira de Cássia, e se apaixonou pelo timbre grave e único da cantora. Além de ídolo, Cássia foi uma amiga para a jovem mineira. No começo da carreira, Ana teve a oportunidade de conhecer a artista de maior fonte de inspiração para ela. Em 1997, por meio de uma amiga em comum, Cássia Eller acolheu Ana na casa onde morava, ajudou financeiramente no show e assistiu a apresentação de estreia na primeira fila.

"A Cássia que pagou meu primeiro roadie — o Batata — nesse show. Isso tudo sem eu saber. Quando cheguei pra passar o som, lá estava o Batata trazendo instrumentos, posicionando água, etc. Achei aquilo tão generoso, porque ela não precisava fazer nada disso e mesmo assim fez. E foi assistir ao show. Realmente não tinha como ter uma estreia melhor", explica Ana. O roadie é o profissional responsável pelo apoio técnico do artista e por lidar com as situações relacionadas à produção do show.

Além das semelhanças no vocal grave entre as duas, os primeiros trabalhos de Ana são completamente inspirados no estilo musical marcante de Cássia Eller. "Existe inclusive uma história engraçada que não sei se é folclore ou não, mas gosto de reproduzir, porque é ótima. Certa vez me contaram que alguém próximo da Cássia ouviu minha música de estreia — Garganta  em 1999 na novela Andando nas nuvens e acharam que era a própria Cássia cantando", destaca a cantora.

A turnê iniciou em São Paulo e seguiu para apresentações no Rio de Janeiro, Minas Gerais, Pernambuco,  Goiás e Brasília. As canções foram retiradas da discografia completa de Cássia Eller, mas com participações pontuais de algumas músicas autorais com direção artística de Jorge Farjalla. Em entrevista concedida ao Correio, Ana fala sobre Cássia Eller.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

Como o seu estilo musical se mistura com o estilo de Cássia Eller?

Se misturam demais. Eu posso dizer que fui profundamente influenciada pela obra da Cássia, sobretudo nos meus primeiros trabalhos. Existe inclusive uma história engraçada que não sei se é folclore ou não, mas gosto de reproduzir, porque é ótima. Certa vez, me contaram que alguém próximo da Cássia ouviu minha música de estreia — Garganta — em 1999 na novela Andando nas Nuvens e acharam que era a própria Cássia cantando. Ela riu e disse que não era ela, mas adoraria ser. Imagina eu, uma menina recém-chegada de Minas, sendo confundida com minha ídola? Só posso dizer que fiquei honrada, não é?

Cássia foi a sua primeira inspiração artística? O que além da música ela te inspira?

Foi uma das primeiras e mais definitivas, sem dúvida. Além da obra que me toca profundamente e nos mais variados níveis, a Cássia me inspirou pessoalmente também. A presença, a personalidade, a postura em relação à vida e à sexualidade. Me lembro de ouvir aquela mulher tão forte pela primeira vez e me sentir completamente representada.

Como a Cássia conheceu seus trabalhos lá em 1997? E, você, como fã, o que você sentiu quando a conheceu?

Tínhamos uma amiga em comum e ela conheceu o meu trabalho por ela. E foi por essa mesma amiga que conheci a Cássia numa situação que nunca vou esquecer, tamanho o acolhimento e generosidade dela. Eu vim ao Rio naquele ano para fazer meu primeiro show e ela nos hospedou na casa dela. Foi um choque! Imagina estar na casa de uma pessoa de quem era fã! Não bastasse isso, foi a Cássia que pagou meu primeiro roadie — o Batata — nesse show. Isso tudo sem eu saber. Quando cheguei para passar o som, lá estava o Batata trazendo instrumentos, posicionando água, etc. Achei aquilo tão generoso, porque ela não precisava fazer nada disso e, mesmo assim, fez. E foi assistir ao show. Realmente não tinha como ter uma estreia melhor.

Como você se sente ao ser este ícone para outros jovens LGBT's assim como Cássia foi para as pessoas da época dela?

Eu me sinto muito feliz. De verdade. É muito gratificante receber fãs LGBTs e familiares de LGBTs nos camarins e ouvir histórias de que, por meio da minha música, conseguiram naturalizar a questão, quebrar preconceitos. Isso é especial, porque vivemos num país ainda com tantos casos de homofobia diariamente. É importantíssimo que esse assunto esteja sempre na pauta e que seja naturalizado e nunca banalizado.

Quais as músicas de Cássia mais te inspiram?

Que pergunta difícil! São muitas, tanto que chegar no repertório desse show foi algo muito complexo. Como condensar uma discografia tão plural, cheia de sucessos e canções tão importantes? Enfim, amo Por Enquanto, Malandragem, Segundo Sol... Mas eu sou fã de camiseta, né? Existe um Lado B da Cássia, que se chama Maluca. É uma música que sempre mexeu muito comigo. Fiz questão absoluta que estivesse no show.

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