Quando começou a se apropriar de memes e imagens virais da internet e transportá-los para a pintura em acrílico, Pamella Anderson sabia estar navegando em um terreno polêmico. Na época estudante de artes na Universidade de Brasília (UnB), a artista não foi levada muito a sério. Precisava produzir uma série de pinturas a partir de um tema para uma disciplina da faculdade e decidiu mergulhar nos memes. Hoje formada e representada pela Galeria Index, Pamella, 28 anos e brasiliense de Sobradinho, é também uma artista premiada. Ela ganhou o Prêmio Garimpo Dasartes 2023, conferido a novos talentos das artes visuais brasileiras e que tem no júri nomes como os dos curadores Tereza de Arruda e Marc Pottier. E, em julho, ela realiza a primeira exposição individual na terra natal, na Galeria Index.
É um reconhecimento que a artista comemora e encara como a confirmação de estar no caminho certo. “Comecei a fazer curadoria de meme, imagens que a galera achava interessantes. Peguei essas imagens e pensei ‘por que não transformar em arte?’. Eram situações meio absurdas. E o Brasil é um grande absurdo”, repara a artista. ”Eram imagens loucas envolvendo temas tabus como sexo e política. ”No início, ela se limitava a simplesmente transformar as imagens em pinturas. Depois, Pamella começou a fazer interferências como se as pinturas fossem colagens e, a partir daí, passou a criar também as próprias imagens. “Comecei a transformar mais esses memes”, explica.
O humor e a ironia aplicados às situações políticas e sociais do cotidiano foram crescendo na produção da artista. O viés cômico é essencial, mas a temática também. Precisa ter polêmica e, para isso, as searas do sexo, da religião e da política são muito produtivas. “Acho que uso muito isso do humor no meu trabalho. Vira uma imagem engraçada e cômica. Para virar meme, tem que ser viral, reproduzir várias vezes”, repara, ao sugerir que, ao incorporar os memes em sua linguagem artística, ela também aumenta a viralização da imagem e leva a pintura para um patamar de reprodução intensa.
Quando começou a pintar os memes, em 2016, Pamella também trabalhava como social media. Os primeiros quadros traziam celebridades mas, aos poucos, ela migrou para imagens mais ligadas à política. “Meme é uma coisa muito ampla e as imagens que me atraem mais são mais políticas, ou falam de sexo, ou de religião, coisas mais polêmicas”, avisa. Rata de grupos de Whatsapp e de redes sociais, a artista sempre ficou fascinada com a capacidade dos internautas de transformar imagens em piadas, com as narrativas cômicas e absurdas que brotam das redes.
No Brasil, ela acredita, isso se dá de uma forma mais contundente. “Os memes brasileiros são muito polêmicos, têm essa pegada mais escrachada, mais bagaceira. Isso acaba refletindo. Minha ideia é uma vibe de entender essas imagens como a realidade brasileira, os memes como um retrato da realidade do cotidiano brasileiro. O cotidiano brasileiro é bem absurdo por si só, e uma coisa vem da outra, acaba ficando polêmico”, avalia a artista. Pamella acredita que os memes e as pinturas são uma forma de comunicação.
Para ela, os memes são, também, um retrato do cotidiano e, por isso, merecem atenção. Explorados no universo das artes plásticas, podem proporcionar outro tipo de diálogo com o público e estreitar a distância que, muitas vezes, a arte contemporânea provoca. “E trazer isso para a pintura me instiga. Quando as pessoas veem a pintura, elas se identificam, ela fica mais acessível. Acho que esse interesse de começar a pintar os memes foi para me sentir também mais próxima dessa linguagem. A pintura acaba quebrando esse gelo das artes”, diz.
As influências de Pamella — que faz mistério sobre o próprio nome e, da atriz hollywoodiana, ela diz ter só mesmo o branco dos olhos e o cabelo descolorido — vêm desse universo que é também geracional. O mundo pop da geração millenial e as referências da comunidade LGBTQIA+ também entram na maneira como a artista encara o mundo e a própria produção. Como tudo está ligado à internet, a cor tem um propósito específico na pintura da artista. “Tem essa coisa muito colorida e saturada”, explica. “ A internet é muito louca para o olho, a gente fica desconcertado. Gosto de trazer isso para a pintura.”
Agora, a artista começou uma nova pesquisa que chama de Zapverso, ou um “multiverso da loucura”. Com emojis comuns em aplicativos de mensagens, ícones como o Zé Gotinha e outros personagens de criação própria, ela está construindo o que chama de “universo fictício baseado em fatos reais”. O Whatsapp é uma das principais redes de disseminação de fake news e, no Zapverso da artista, há espaço para cenários fantasiosos e uma “atmosfera de sonho e pesadelo”. Tudo depende, ela brinca, da perspectiva de terra plana do público. Pamella quer criar pinturas que dialoguem com uma realidade na qual a internet é emblemática da criação de uma nova forma de comunicação.
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