A polícia da Argentina investiga se a morte de uma menina de 12 anos ocorreu após a adolescente participar, na última sexta-feira (13/1), do chamado Blackout Challenge, o "desafio do apagão", no TikTok.
A "trend", como se chamam os conteúdos virais que circulam de forma natural na rede social, estimulava jovens a provocarem o auto sufocamento até o ponto de desmaio. O TikTok desativou a busca pelo desafio e emitiu comunicados de prevenção.
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"Alguns desafios online podem ser perigosos, perturbadores ou até encenados. Saiba como reconhecer desafios perigosos para poder proteger sua saúde e bem-estar", afirma o comunicado publicado pela rede chinesa assim que se busca pela palavra-chave Blackout Challenge.
Segundo apuração do jornal argentino Clarín, que noticiou a morte da adolescente Milagros, esta teria sido a terceira tentativa de auto sufocamento da menina. Ainda conforme a imprensa argentina, a família diz que há vídeos no celular da garota em que ela aparece tentando a asfixia outras vezes.
A morte não teria sido a primeira ligada a esta "brincadeira". Apesar de a reportagem não ter encontrado vídeos sobre o desafio no TikTok, há postagens relatando outros casos e alertando os usuários da rede social sobre o perigo.
A morte do britânico Leon Brown, de 14 anos, que foi encontrado asfixiado pelos pais em seu quarto em agosto de 2022, é uma das mais mencionadas nos vídeos que circulam na rede social. Na época, a mãe dele, Lauryn Keating, afirmou ao jornal escocês Daily Record que colegas do filho relataram que ele participou do desafio.
Em dezembro de 2021, a mãe da jovem Nylah Anderson, da Filadélfia, nos EUA, processou o TikTok pela morte da filha, que teria participado do mesmo desafio.
Mas, em outubro de 2022, o juiz rejeitou o pedido com base a Lei Federal de Decência nas Comunicações, dos EUA, que protege editores do trabalho de terceiros - a postagem é considerada de responsabilidade do seu autor, e não da rede. As famílias de mais duas meninas americanas, de 8 e 9 anos, mortas em 2021, também entraram com ação contra o TikTok pela mesma razão.
"A curiosidade é um motor importante para a vida. Leva a desafios, experiências e ao crescimento do repertório da pessoa", diz Wimer Bottura, psiquiatra do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina. Por outro lado, "como o repertório de informações da criança ainda é baixo, a intensidade da curiosidade dela tende a ser maior que a de um adulto", o que as tornam mais vulneráveis a manipulações e riscos.
Resposta
O TikTok afirma que desafios envolvendo asfixia são anteriores à rede social, lançada em 2016, citando documento do Centro de Controle e Prevenção de Doenças americano de 2008 que já relatava mortes por um jogo similar, o Choking Game.
"Sentimos muito pela trágica perda desta família (em relação ao caso ocorrido na Argentina). A segurança da nossa comunidade é prioridade e levamos muito a sério qualquer ocorrência sobre um desafio perigoso. Conteúdos dessa natureza são proibidos em nossa plataforma e serão removidos caso sejam encontrados", disse a empresa ao Estadão.
Desenvolvimento do senso crítico
O psiquiatra Wimer Bottura, presidente do comitê de adolescência da Associação Paulista de Medicina, diz que um dos motivadores que podem estar levando as crianças a repetir o desafio que incita o sufocamento é o prazer. "A hipóxia, como chamamos a falta de oxigenação no cérebro, leva a uma euforia, uma sensação de prazer muito grande na pessoa", afirma.
O especialista alerta, porém, que é comum que crianças se interessem por desafios de maneira geral. "A curiosidade é um motor importante para a vida. Ela leva a desafios, experiências e ao crescimento do repertório da pessoa", diz o psiquiatra.
Por outro lado, "como repertório de informações da criança ainda é muito baixo, a intensidade da curiosidade dela tende a ser maior que a de um adulto", o que as tornam mais vulneráveis a manipulações e riscos.
Para Bottura, o caminho para evitar esse tipo de acidente é desenvolvendo o senso crítico da criança para que ela mesma se proteja desse tipo de armadilha.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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