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Caroline Polachek fala ao Correio sobre a preparação para o 2º álbum solo

Estadunidense nascida em Nova York, a cantora começou a carreira em 2007 quando co-fundou a banda de indie-pop Chairlift

Pedro Ibarra
postado em 14/01/2023 06:00 / atualizado em 16/01/2023 17:23
 (crédito: Fotos: Nedda Afsari/Divulgação)
(crédito: Fotos: Nedda Afsari/Divulgação)

Arte é sobre processo. Claro que a finalidade do que está sendo proposto é importante, mas o que é aprendido, conhecido, mudado, transformado e transcendido durante o caminho é mais importante. Para Caroline Polachek, a paciência e a confiança no processo renderam frutos. A cantora vive a melhor fase da carreira em reconhecimento da crítica e dos fãs, mesmo estando em atividade desde a metade dos anos 2000. Preparando-se para o lançamento mais aguardado que teve em toda a própria trajetória, o álbum Desire I want to turn into you, que será lançado daqui a exatamente um mês, a artista entende que toda a caminhada foi frutífera e garante que o melhor está por vir.

Estadunidense nascida em Nova York, a cantora começou a carreira em 2007 quando co-fundou a banda de indie-pop Chairlift. Ela chegou a fazer sucesso com a faixa Bruises, mas nunca realmente estourou a bolha alternativa da qual participava. Caroline ainda manteve dois projetos paralelos, Ramona Lisa e CEP, ambos com profusão nichada. No entanto, em 2017, a Chairlift anunciou o fim e Polachek assumiu o próprio nome para uma fase solo com o EP Drawing the target around the arrow, que foi seguido pelo álbum de estreia, Pang, em 2019. O sucessor, em que a artista trabalha do momento chega em 14 de fevereiro, no Dia dos Namorados nos Estados Unidos.

A trajetória é longa, mas o sucesso é recente. Foi apenas usando o próprio nome que Caroline conseguiu furar de vez a bolha de quem a ouvia. O principal responsável foi o disco Pang que, impulsionado por um sucesso tardio da canção So hot, you're hurting my feelings, elevou a carreira da cantora justamente na pandemia, quando ela não podia fazer shows. "Eu lancei meu álbum no final de 2019 e só pude tocar uns 10 shows antes de tudo fechar por conta da pandemia. Então, para mim, o álbum tinha acabado ali. Todos só assistiam notícias, a música ficou em segundo plano, vivíamos uma tragédia global", recorda Polachek. "Porém aconteceu tudo diferente do que eu imaginava, os meus ouvintes foram apenas crescendo de forma devagar e orgânica durante três anos", complementa a artista, que se diz grata ao TikTok pelo sucesso de So hot, you're hurting my feelings.

A gratidão vem em forma de paradoxo. Enquanto a fama ainda a intimida, ela é capaz de ter tudo que sempre sonhou como artista atualmente, aos 37 anos. "Eu nunca quis ser uma celebridade, essa vida não é para mim. Porém, fiz artes na faculdade, eu amo ter os recursos para fazer o melhor que posso", brinca. "Essa é a primeira vez na minha carreira que estou tendo acesso a ferramentas incríveis e ao visual que sempre quis. Sou muito grata aos meus fãs por me possibilitarem expressar o melhor que  posso", acrescenta a artista que se diz ainda uma iniciante. "Acho que nunca vou me sentir grande, eu sempre me sinto uma iniciante. Acredito que não se sentir uma iniciante é algo ruim para o próprio trabalho", conclui.

Uma nova era

O nome do álbum diz muito sobre esse processo que Caroline Polachek tem vivido. Desire I want to turn into you, em tradução literal para o português significa: desejo quero me tornar você. "Desejo é o que dá direção às nossas vidas. O que diferencia desejar e de se satisfazer é que o desejo é algo que você ainda não conquistou", explica. "Então, para mim, isso se tornou uma ideia extremamente musical. Eu sempre quero e espero por algo, mas me frustro, espero e nem sempre tenho o que quero", adiciona. "É a minha reação contra a apatia e o niilismo. Eu não quero que falem o que eu tenho que fazer, porque o desejo vem de dentro de mim. Desejo nos conecta com o nosso caminho no mundo", finaliza.

A cantora aproveitou a posição em que está para soltar a criatividade e se basear no que a trouxe até aqui: a música. "É engraçado descrever dessa forma, mas esse é um álbum que é sobre a música mais do que qualquer outra coisa que fiz antes.Pensei em estruturas, flow e energia", afirma a cantora que aproveitou para destrinchar a linha de raciocínio que teve. "A ideia era fazer algo não linear, composto só por sentimento. Eu queria que as músicas resistissem à ideia de narrativa. Eu queria dar uma série de imagens que mergulhasse o ouvinte. É como se uma pessoa estivesse andando na rua e vendo frases, momentos, rostos e a vida passando por ela", diz. "A maior parte do álbum para mim foi um processo de experimentação, musicalidade e movimento."

Para Polachek esse disco é realmente uma nova fase da carreira. "Eu quero brincar com a ideia de eras desta vez. Eu não queria ter uma quebra abrupta entre um período e outro da minha carreira, queria que as linhas fossem turvas. Então o que parecia eu dando dicas do que seria, já era uma nova era da minha carreira", revela a artista que diz que tudo começou com o lançamento de Bunny is a rider em 2021. "Por que esperar? Do segundo que Bunny is a rider foi lançada, eu mudei a forma como me visto, minha presença on-line, como monto meu palco, como são as artes dos meus singles. Enquanto eu fazia a tour do meu álbum novo, eu fazia um novo nos bastidores. Então, eu quis que todos experimentassem, não queria que fosse algo só meu. Todos entramos nessa era juntos. Mês que vem veremos tudo pronto."

Apesar de parecer complexo, é dentro desse detalhamento que vive o que parece ser a melhor fase da carreira de Caroline, que explora a voz singular e quase divina e as ideias mais expressivas para um produto único, mas com singularidade em cada canção. "Para mim, o que mais me empolga é as pessoas ouvirem minha música e criarem uma relação própria com ela. Eu só crio metade do mundo, vocês são responsáveis pela outra", diz. "Minha vez já foi, agora quero ver do que vocês são capazes", pontua. "Eu espero que as pessoas gostem do que está por vir", completa.

A loucura do Brasil

A nova era iniciada no ano passado pôde ser vivenciada em solo brasileiro, visto que Caroline Polachek foi uma das atrações da primeira edição do festival Primavera Sound em São Paulo. Ela disse que viveu momentos únicos no Brasil. "Acho que foi um dos três melhores shows da minha vida, tinha gente para todo lado e todos que eu consegui ver estavam cantando. Isso não foi um sentimento só meu. Minha banda toda ficou muito emocionada depois da apresentação", conta. "Foi muito intenso e bonito e eu nunca vou esquecer", classifica essa que foi a primeira vinda ao país.

Contudo, mesmo distante, a artista sempre manteve uma boa relação com po público brasileiro. "O meu relacionamento com o público brasileiro também é incrível, é muito louco. Eu estou começando a aprender a ler português sozinha, porque todos os tweets sobre mim são em português. Não estou brincando, acho que todas as minhas menções nas redes sociais são brasileiras", comenta já fazendo menção à frase mais comum das próprias redes sociais. "Dois dias depois de eu sair do Brasil já tinham as mensagens: 'Please, come to Brazil.'"

A cantora  não imaginava a magnitude que o próprio trabalho tinha no Brasil, o que a assustou. "Ao mesmo tempo, fiquei um pouco assustada com a intensidade dos fãs. Fui em um restaurante, as pessoas me seguiram, me filmaram, inclusive enquanto eu comia. Eu não gostei, fiquei com medo de verdade. Da próxima vez, irei preparada", lembra. A cantora aproveita para traçar um comparativo com o país natal onde começou a carreira. "Nos Estados Unidos, eu não sou uma celebridade, nunca fui tratada dessa forma por aqui. Então, realmente me assustou, mas foi irado, mal posso esperar para voltar", adianta.

Caroline tem planos para retornar em um futuro próximo, na turnê do novo show. Dessa vez, sem sustos e com a qualidade bastante elevada. "Está ficando melhor, quem não viu pode esperar por mais", convida Polachek, que aproveita para mandar um recado para o Brasil, país que acompanha de perto há algum tempo. "Quero mandar todo meu amor para os meus fãs e para a comunidade LGBTQIA do Brasil, agradecer pelo apoio e desejar muita sorte na situação política que estão vivendo por aí."

Colaborou Caetano Mota

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