Durante a pandemia, era necessário encontrar objetos e interesses para conferir sentido ao tempo em casa e a toda situação dramática vivenciada no mundo. A arte foi uma saída escolhida para muitos. A cantora Ana Cañas é uma dessas pessoas, ela se debruçou na carreira de um artista histórico para encontrar conforto nos tempos difíceis e acabou achando a chave que faltava para dar uma virada na própria carreira. O nome dessa chave é Belchior.
Ana foi descobrindo a discografia desse cantor que marcou gerações da música brasileira, responsável por composições que conquistaram o Brasil e não só na voz dele. A cantora, contudo, não queria guardar esses estudos para si e decidiu que transformaria isso tudo em uma live, onde reinterpretaria as canções de Belchior. Essa live ganhou uma segunda apresentação, virou álbum e, com o alívio na pandemia, pode se tornar uma turnê, que começou de forma intimista e se desenvolveu para um formato com banda. Chegando ao final de 2022, já faz quase três anos que a artista mergulha no trabalho do compositor.
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A união dessas duas vozes ideias continua visto que Cañas prepara o lançamento de um DVD com apresentação ao vivo e bastidores da turnê do projeto. "São tantas emoções que eu vivo com esse projeto e e eu estou muito feliz com a chegada desse produto", comemora a cantora em entrevista ao Correio. "Não tem um show que eu faça que eu não chore cantando. É impressionante o manancial de emoções que Belchior evoca", adiciona.
Ela optou que a produção tenha um caráter cinematográfico, acredita que combina mais com a mensagem do cantor. "Está muito bonito. Eu estou muito feliz com o que eu vou lançar e faz sentido o diálogo do próprio cinema com a da obra do Belchior. Eu acho que não podia ser um produto vídeo normal, tinha que ter essa camada das câmeras, do tratamento de cor e das texturas", diz Ana, que classifica essa turnê, que já passa de 80 shows, como um encontro de duas almas artísticas. "Minha vontade sempre foi de deixar um registro, deixar eternizado pras pessoas esse momento, esse encontro."
Cañas nunca fez uma série de shows tão longa e, mesmo com todas as dificuldades, como artista independente, usando o dinheiro do próprio bolso, a artista se orgulha muito da trajetória. "Eu estou vivendo o momento mais bonito da minha vida e da minha carreira. Cá estamos dois anos e meio depois e ainda vamos lançar um novo produto, uma nova fase do projeto", exalta. A artista garante que a intenção não é parar por aqui. "Devo seguir fazendo muitos festivais agora e chegar aos lugares que eu ainda não cheguei", acrescenta.
A artista promete que ainda vai trazer o show mais uma vez para Brasília em 2023, ela já se apresentou no Festival Moova em junho deste ano. Ela acredita que pode lançar novos discos, fazer outros sucessos e mesmo assim terão contratantes atrás do show interpretando o artista, mas ela nunca vai enjoar. "Meu encantamento pelo Belchior segue, o impacto continua o mesmo e olha que eu fiz oitenta shows esse ano. Essa é a turnê mais longa da minha vida", explica. "Belchior é um presente para mim", completa. A cantora ainda aproveitou para adiantar que deve cantar outro show na cidade, em um bloco de carnaval no início do ano que vem.
Eterno como deve ser
Durante a peregrinação pelos quatro cantos do Brasil, Ana Cañas percebeu que Belchior ultrapassa a barreira da música e se torna um fenômeno social. "Eu me considero quase uma sonhadora fazendo tudo isso, mas eu que estou fazendo shows e vejo a potência da obra do Belchior atravessar todo mundo. Às vezes tem momento no show que está todo mundo aos prantos", avalia. "Ele é uma voz muito ativa, muito importante, necessária e eu encontrei eco em cada lugar que eu fui do Brasil profundo", acredita.
A cantora conta que os shows têm público diverso, com, por vezes, três gerações diferentes na audiência. "É maravilhoso. Se pensar no tempo de hoje, eu entro no Spotify e vou no Top 50 e não conheço nenhum artista. Um cara que não está mais entre nós ser cantado por jovens que estão agarrados às ideias dele. Esse cara me ajuda a viver com essas ideias loucas e maravilhosas que compôs e cantou."
Para ela, Belchior reflete o Brasil. "Belchior, assim como os nossos outros gênios, tem uma capacidade diferenciada. A gente tem que laurear isso, essa capacidade intrínseca da alma humana de observar a amálgama de um povo que tem dimensões continentais e trazer verdades daquele povo e botar isso em versos poéticos", analisa. "As composições dele falam dos valores humanos, dos direitos, da justiça social, do abismo social, do caos que existe no Brasil ainda cinquenta anos depois", complementa.
Por razões óbvias, Ana advoga por um maior reconhecimento da obra do cantor, ela crê que ele está na primeira prateleira da música brasileira. "Eu tenho esse discurso hoje de que o Belchior precisa ser alçado ao posto de gênios como Chico Buarque e Caetano Veloso, Gilberto Gil e eu acho que a gente precisa colocar o Belchior nesse panteão mais precioso da nossa música, da nossa cultura", pede citando o próprio artista. "Belchior já falava: 'eu não quero fama, eu quero a glória'", conclui.
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