Artes visuais

Exposição investiga os elementos comuns entre a arte e a literatura

Exposição do escritor Reginaldo Pujol explora as fronteiras entre as artes visuais e a literatura .Para construir a narrativa da mostra, Pujol contou com ajuda de oito estudantes da UnB

O escritor Reginaldo Pujol Filho está convencido de que as exposições de artes plásticas podem ser também uma forma de narrativa literária. E para provar, ele criou o projeto Nosso corpo estranho: João Pedro, retrospectiva, em cartaz na galeria Espaço Piloto, da Universidade de Brasília (UnB). A ideia é criar uma narrativa a partir da mostra para construir a figura do artista que dá nome à exposição. Para isso, Pujol contou com a participação de oito estudantes do departamento de artes visuais da universidade, responsáveis por criar as obras.

A ideia surgiu como um projeto de pós-doutorado na UnB, mas Pujol já o havia realizado em Porto Alegre, sua cidade natal. "Oficialmente, é parte do meu projeto de pesquisa que começou no doutorado de escrita criativa e essa é uma segunda versão. No doutorado, eu estava investigando as possibilidades de uma exposição ser um meio narrativo. Fiz uma parte teórica, que não está acontecendo aqui, e dei um curso na UnB a partir disso. Escrevi um livro inédito que é Uma exposição portátil, registro de uma exposição criada por mim", explica.

Oito estudantes da UnB criaram as obras em cartaz na galeria e ajudaram Pujol a editar o texto que conduziria o visitante pela exposição. No entanto, como se trata de uma galeria, é impossível controlar a leitura do conjunto. "O texto cria uma suposta lógica de leitura, mas aqui a gente consegue ter menos autoridade que em um livro. Num livro, a capa e a contracapa decidem a leitura. Na galeria, se a pessoa entra e decide subir a escada, perdeu-se a cronologia da história", repara Pujol, ao mesmo tempo em que se diverte com todas as possibilidades que podem brotar das escolhas do público.

A exposição narra, a partir de obras criadas pelos estudantes, a vida do artista João Pedro, que pode ser encarado como um personagem fictício ou como um artista real, uma espécie de extensão do próprio escritor. No total, cinco objetos e 50 textos dão conta da trajetória de João Pedro. Quando teve a ideia da exposição pela primeira vez, Pujol se ancorou em uma percepção pessoal das visitas realizadas a diversas exposições. "Caiu uma ficha. Pensei 'nossa, vou numa exposição e fico 30 horas lendo e meia hora vendo'", conta. "Fui vendo quanta narrativa tinha ali e fui estudando mais a fundo e encontrando várias característica de uma exposição que se assemelha ao romance."

Para o escritor, as exposições têm características semelhantes às do romance, com particularidades como a jornada do herói, sobretudo se tiver a forma de uma retrospectiva. "Texto de capa, séries, etapas, fases, tudo separado por salas, a gente pode entender como capítulos. E com ou sem texto, podemos entender os quadros ou obras como páginas que a gente vai somando para conformar a narrativa", compara. "São recursos usados também pela literatura, então pensei 'que tal se eu traficar do museu para a literatura?'." Foi exatamente o que fez em Nosso corpo estranho ao utilizar ferramentas da narração para fazer artes visuais e criar histórias.


Nosso corpo estranho: João Pedro, retrospectiva

Exposição de Reginaldo Pujol Filho. Visitação até 21 de dezembro, de 10h às 12h e de 14h às 20h

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Reginaldo Pujol Filho - Nosso corpo estranho: João Pedro, retrospectiva
Reginaldo Pujol Filho - Nosso corpo estranho: João Pedro, retrospectiva