Foi lá nos anos 1980 que a então adolescente Eliana Michaelichen começava sua trajetória artística ao integrar o grupo musical A Patotinha e, tempos depois, o Banana Split, este aceitando convite de Gugu Liberato. Pouco tempo depois, passou a ser apresentadora de programas infantis no SBT. E ainda na mesma emissora se mantém com seu programa aos domingos, a única mulher a comandar uma atração no fim de semana. Seu carisma e sua performance no palco a colocam como alvo para olhares das concorrentes e, vira e mexe, surgem especulações sobre sua transferência de canal.
Comemorando 50 anos, a apresentadora paulistana, amiga de Angélica e Xuxa, respondeu a algumas perguntas do Estadão, por e-mail. Veja a seguir.
Chegar aos 50 anos a faz parar para refletir sobre sua vida, sua trajetória?
Demais, demais. Encaro a chegada dos 50 anos como um momento de celebrar as várias Elianas que existem dentro de mim. A filha da dona Eva e do seu José. A mãe do Arthur e da Manu. A apresentadora veterana. A mulher de negócios? Hoje, sou uma mulher mais autoconfiante, o que não quer dizer que às vezes não me sinta insegura. Mas hoje, aos 50, me sinto livre para festejar a minha complexidade, qualidades e defeitos.
Como é sua vida no SBT, tem autonomia no seu programa, Silvio dá uns pitacos?
O Programa Eliana é feito por uma equipe muito aguçada e hábil, com uma história de 13 anos de sucesso. Então temos autonomia para entender as necessidades do nosso público e determinar os caminhos que seguiremos no futuro. Temos esse voto de confiança do Silvio.
Quem você quer muito entrevistar em seu programa e ainda não conseguiu?
Tenho uma admiração profunda pela apresentadora Oprah. Já fiz algumas boas entrevistas internacionais, mas ela seria emocionante, pessoalmente, por conta de sua trajetória e tudo o que ela representa.
O que a Eliana de hoje diria para a Eliana adolescente, que começou a trilhar a carreira artística?
Diria que, apesar de vozes internas falarem o contrário, ela é talentosa e competente para trilhar os caminhos que se estendem diante dela. Um pouquinho mais de confiança teria me ajudado naqueles primeiros anos, mas fico feliz com a forma como o início da minha carreira se desenrolou. Vez ou outra a síndrome de impostora quer surgir e eu a mando para longe, entendendo que já tenho o meu lugar conquistado com muito trabalho e respeito por todos que me fizeram chegar até aqui.
Você se considera uma mulher bonita, isso faz diferença para você?
Eu me considero uma mulher bonita, mas esse entendimento demorou para chegar. Um dos poucos arrependimentos que tenho são as cirurgias plásticas que fiz aos 28 anos. Hoje, vejo que elas não eram necessárias, apesar de não me sentir assim, confiante. Não julgo quem faz tão jovem, pois muitas vezes a cura é do emocional e não do físico. Então acabo entendendo a decisão da menina Eliana e a acolhendo. Hoje pensaria mais para fazer algo tão invasivo, mas também não digo que nunca faria, pois posso mudar de opinião.
Como você é em casa, tem esse lado de querer cozinhar, limpar, rola isso?
Reconheço fortemente meus privilégios, dentre eles o fato de não precisar conciliar uma rotina de trabalho doméstico com a minha carreira, como acontece com muitas mulheres. Mas, quando necessário, as tarefas domésticas não são um problema para mim. Há dias em que ficamos sem ajuda, então eu e meu marido nos dividimos, o que é ótimo! Durante a pandemia, aliás, ficamos meses sem ninguém e foi uma experiência muito valiosa. A família se uniu mais para as coisas darem certo dentro de casa.
Como é pensado o seu programa, você palpita em tudo, coordena tudo, ou relega para a equipe?
Sim, sou ativa nas escolhas de pautas com meu diretor-geral, convidados e novos quadros. O Minha Mulher Que Manda, por exemplo, é um formato que conheci durante uma feira de TV em Cannes. Mas tenho uma equipe afinada com meu DNA. Eles respiram e transpiram o programa, como se fosse eu ali agindo. São muitos anos juntos. O mesmo pode ser dito sobre a escolha dos convidados. Mas alguns, em especial, eu vou pessoalmente buscar. Um exemplo é a recente entrevista com a Juliette, que era um desejo antigo, porque sempre me identifiquei com a força dela, além de termos origens parecidas.
Quais momentos foram os mais marcantes da sua trajetória?
O Festolândia foi a minha estreia no comando de um programa. Tenho orgulho do que criamos lá em 1991. O Bom Dia & Cia, logo em seguida, também foi marcante para muitas pessoas, assim como os vários sucessos da carreira musical. Chegando aos anos 2000, a minha transição para o público familiar foi também um grande desafio como comunicadora na Record. Um sucesso até hoje. O retorno ao SBT, em 2009, iniciou a fase atual com o Programa Eliana, durante a qual também tive dois filhos e finalmente me sinto madura para falar sobre liberdade, sexualidade e empoderamento. Com isso, tenho estabelecido diálogos riquíssimos com o meu público atualmente.
Quais seus próximos projetos, o que ainda quer muito fazer, realizar?
Profissionalmente, me sinto muito realizada. O que não quer dizer que não estou aberta a novas oportunidades. O meu desejo de produzir conteúdo para a internet é grande, afinal são mais de 42 milhões de seguidores, que esperam conteúdo e informação. Além disso, adoraria participar de mais projetos no streaming, como aconteceu este ano com a Netflix num lançamento mundial, tudo isso equilibrando com o meu programa na TV aberta. Gosto de coexistir em todos esses meios, o futuro da TV está nessa liberdade de trânsito entre plataformas.
Em quem você se inspira para ser apresentadora de TV? Hebe Camargo representou alguém importante para a sua trajetória?
Hebe era uma mulher livre que viveu uma época cheia de tabus. Eu me inspiro muito nela desde o início da minha carreira, principalmente pela forma com que ela traduzia temas importantes, mas difíceis, para o grande público. Ela era também uma grande amiga e faz muita falta. Há outras grandes mulheres que me inspiram, como Marília Gabriela e Oprah Winfrey.
Você tem esse cuidado com o que faz e fala sabendo que é uma pessoa que inspira outras mulheres?
Esse cuidado vem, na verdade, desde a minha carreira com o público infantil. Eu era muito cuidadosa com a minha linguagem verbal e não verbal, porque sabia que influenciava muitas crianças Brasil afora. Hoje, falando com a família brasileira e, principalmente, com mulheres, tomo o mesmo cuidado. Tenho consciência do tamanho da plataforma em que estou. Tento transmitir mensagens que inspirem mulheres a serem mais livres, mais autoconfiantes e a cuidarem mais de si mesmas. Isso tanto no meu programa quanto nas redes sociais.
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