Entre as retomadas dos festivais e a compreensão do que outrora a vida parecia ser, as fórmulas para entender todo esse novo processo na indústria musical ainda parecia incerto. Com tantos adiamentos por conta da pandemia de covid-19, um deles veio com um quê a mais de ansiedade: o Knotfest, com direito a ingressos esgotados.
A estreia marcada anteriormente para 2021, o "carnaval" da banda Slipknot chegou ao Brasil após 10 anos de existência, cuja origem se deu no estado natal do grupo de groove metal, Iowa, nos Estados Unidos. Por puro clichê, a primeira edição de um festival com porte imenso é sempre uma saga de tentativa e erro. A começar pela entrada do Distrito Anhembi, com filas quilométricas para acessar o espaço, devido às sinalizações um tanto precárias.
Contudo, a parte interna do festival veio com uma logística impecável. Os palcos, Knot e Carnival Stage, foram montados nos dois extremos do sambódromo, para que a locomoção pudesse experienciar o que havia entre ambos. A parte dos caixas, alimentação e bar foi preparada para locais que não atrapalhasse o percurso de transitar por todo o espaço.
Com um clima de final de Copa do Mundo, um telão foi montado no meio da passarela, fazendo com que o público que estivesse por lá acompanhasse um pouco da partida França x Argentina enquanto fosse de um palco para o outro.
Ao lado do telão, foi criado o Museu do Knotfest, uma exposição biográfica do Slipknot, com itens colecionáveis, como máscaras de fases antigas da banda e instrumentos com assinatura dos músicos. O espaço causou uma fila gigante do início ao fim do festival.
A programação foi um espetáculo à parte, ao alternar gerações distintas entre os horários, ajudou para que o público pudesse aproveitar o espaço por completo dentro do festival, ainda mais quando alguma banda não fosse do interesse individual do espectador.
Shows
Após tantas voltas sobre a estrutura em si, já era de focar no mais importante: as performances de excelência que o público foi agraciado. O começo do Knotfest veio com o pé na porta do trio Black Pantera, escalado de última hora devido ao cancelamento da banda Motionless in White, e levou imponência do discurso antirracista com direito a manifestações e moshing pit só com mulheres.
mosh só de mulher pic.twitter.com/KCpIVYNji6
— liz viu bmth 3x (@bringmetheliza) December 18, 2022
Para fechar a tríade inicial do line-up brasileiro, a parceria entre Oitão e Jimmy & Rats fez a união de hardcore e celtic metal parecer acessível. Na sequência, Project46 torceu o nariz de muito metaleiro conservador presente no evento.
Para fechar a programação nacional com chave de ouro, Sepultura fez uma performance digna de entrar na história. Após a final da Copa do Mundo, a banda mineira trouxe Scott Ian (Anthrax, Mr Bungle), Matt Heafy (Trivium) e Phil Anselmo (Pantera) para as jams, afirmada por Derrick Green durante todo o repertório.
Contudo, antes de Andreas Kisser e companhia darem o ar da graça, as primeiras atrações internacionais, Trivium e Vended, já davam o gás necessário para seguir até o fim do evento. A banda liderada por Matt Heafy ganhou de longe o público mais agitado de todo o festival. Com um horário no começo da tarde, Trivium veio com muito carisma, celebração por tocarem no país e uma dose de competição ao comparar o público brasileiro com o da Argentina.
No entanto, o afetado foi o grupo dos filhos dos integrantes do Slipknot, Vended. Além da transmissão acirrada da Copa do Mundo, a banda entregou uma versão genérica do que pode ser a sombra das referências musicais dos patriarcas.
No Knotstage, o Mr. Bungle trouxe o "rolê frito" e aquecia quem já estava na grade para ver os headliners. Com caras, bocas e uma presença peculiar, Mike Patton (Faith no more), junto de Scott Ian e Dave Lombardo, resgata sempre a fama de ser bastante experimental e avant-garde no gênero.
Já com os ânimos acalmados para o começo da noite, a banda Pantera, liderada pelo polêmico Phil Anselmo, contou com uma formação diferente, com Zakk Wylde (Ozzy Osbourne/Black Label Society) representando Dimebag Darrell e Charlie Benante (Anthrax) substituindo Vinnie Paul. Mesmo diante de circunstâncias diferentes, a plateia não deixou de curtir os grandes hits da banda: Cowboys From Hell, Walk e a clássica Cemetery Gates.
Já no lado oposto, os britânicos do Bring Me the Horizon fizeram valer o porquê da maior parte de quem estava na grade estava esperando por eles. Com um set afiadíssimo, o frontman Oliver Sykes cativou até os mais tradicionais que tampouco conheciam o som da banda.
Ao fazer o rolo compressor do pós-hardcore de primeira linha ser imparável, o grupo foi o principal motivo do público jovem estar presente no festival, levando consigo uma sinergia pop contrária ao fluxo das outras apresentações.
No Carnival Stage, o encerramento veio com o clássico Judas Priest, e prova que o encontro de gerações não é tão divergente assim. A presença e a vitalidade de Rob Halford só mostraram que, se a lendária banda segue firme até hoje, não é à toa.
Por fim, a noite não poderia encerrar de outra forma. O pique de levar o próprio festival para a América Latina, especialmente ao Brasil, era nítido a cada discurso de Corey Taylor ao intercalar com os hits, como Unsainted, Psychosocial, Duality, Custer e Spit it out, além de muita pirotecnia. Hipnotizante e numa catarse incessante do começo ao fim, o Slipknot fez a empolgação de todo o festival perdurar até a queima de fogos.
Dito isso, a celebração democrática aos subgêneros do metal no Knotfest encerra os trabalhos de 2022 dos festivais gringos no país, fazendo com que novas experiências sejam carregadas de boas referências, independente do nicho para o qual o público é direcionado. Todas as lacunas de logística e pontualidade foram bem preenchidas, e assim o Knotfest se fez completo. Que a união que tanto foi dita durante o show da banda liderada por Corey Taylor seja frequente no Brasil.
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*Estagiária sob supervisão de Isabela Berrogain
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