Obituário

Djalma Corrêa, percussionista e pesquisador mineiro, morre aos 80 anos

Instrumentista tocou ao lado de grandes ícones do MPB e realizou pesquisas sobre a percussão afro-brasileira. Ele morreu no Rio de Janeiro, na quinta-feira (8/12).

Andrés Ruiz*
postado em 12/12/2022 17:33 / atualizado em 12/12/2022 17:33
 (crédito: Reprodução Instagram)
(crédito: Reprodução Instagram)

Um dos maiores percussionistas brasileiros, Djalma Corrêa morreu, na última quinta-feira (8/12), no Rio de Janeiro, poucas semanas após completar 80 anos. O artista estava internado por conta de um câncer no pâncreas e não resistiu.

O legado de Djalma, contudo, é marcado por uma expressiva história de resistência. Natural de Ouro Preto (MG), o percussionista, compositor e pesquisador viajou o Brasil entre 1964 e 1978 em busca de compreender e documentar manifestações da cultura popular. Essa parte da carreira foi dedicada a trabalhos que englobam a percussão afro-brasileira e vão desde gravações e fotos a pesquisas aprofundadas.

Paralelamente a isso, na música, o artista ganhou reconhecimento ao instrumentar canções e subir no palco ao lado de grandes nomes da MPB. Dos palcos de Belo Horizonte, entre 1960 e 1964, para Salvador, onde consolidou a trajetória, Djalma passou a ser muito querido nos bastidores. Tocou no Nós, em Salvador, show que lançou Caetano, Bethânia, Gil e Gal para os holofotes musicais em 1964.

O mesmo quarteto apresentaria, doze anos depois (1976), a turnê do grupo Doces Bárbaros, criada para celebrar uma década das carreiras individuais de cada um deles. Nos shows, Djalma foi o percussionista da banda. Enquanto vivia o auge musical, lançou os álbuns autorais Candomblé (1977) e Baiafro (1978), de mesmo nome do grupo que havia criado em 1970 e que propunha a mescla das matrizes africanas ao universo cultural brasileiro.

Dentre os tantos discos tocados, destacam-se: Ogum, xangô (Gilberto Gil e Jorge Ben, 1975); Qualquer coisa (Caetano Veloso, 1975); Refavela (Gilberto Gil, 1977); Almanaque (Chico Buarque, 1981); Quarteto negro (Paulo Moura, Zezé Motta e Jorge Degas, 1988); e Mancha de dendê não sai (Moraes Moreira, 1997).

Além da batucada

Na década 1970, a participação artística foi elevada ao participar de trilhas sonoras de filmes, peças de teatro e até como ator em cenas específicas, como no Filme Meteorango kid — o herói intergaláctico (1979), do diretor André Luiz de Oliveira. “Ele fez uma ponta, fez questão de participar porque era da turma de vanguarda da Bahia”, comenta o diretor, em entrevista ao Correio.

Numa relação de afeto para com Djalma, André esteve presente em alguns momentos da vida do instrumentista. “Tinha uma grande conexão, não só pelo afeto, mas pelo músico que ele era. Ele entendia da sonoridade das coisas, discutia sobre a paisagem sonora da sua época. Uma perda muito grande”, conta o cineasta.

Os dois amigos voltaram a trabalhar juntos em 1987, quando André lançou o disco de trilha aonora África-brasil, que exalta a cultura afro-brasileira. Nele, o instrumentista ajudou a organizar o disco e instrumentou algumas das faixas. “Ele gostava de retratar candomblé, cultura afro no geral. E Djalma era uma pessoa muito antenada, muito culta, gostava de som, de música clássica”, revela.

Para ele, Djalma esbanjava generosidade, riqueza e abrangência. Mesmo sem um grande reconhecimento do público, ele ajudou grandes artistas a compreenderem a sonoridade brasileira. “Ele foi capaz de catalogar uma série de elementos percussivos da música brasileira, que talvez pouca gente tenha conseguido”, finaliza o diretor.

Com 80 anos recém completados, o mineiro morava no Rio de Janeiro desde os anos 1980 e possuía projetos em andamento. A exposição Djalma corrêa — 80 anos de música e pesquisa está em cartaz no Museu do Pontal, na Barra da Tijuca, e reúne grandes trabalhos audiovisuais do artista. A fim de expandir o acervo para o digital, a página www.culturaspopulares.djalmacorrea.com.br foi criada e é administrada pelo filho, José Caetano Dable Corrêa.

*Estagiário sob a supervisão de Nahima Maciel

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