Música

Órfã da sala Villa-Lobos, OSTNCS busca espaços para se apresentar

Em entrevista ao Correio, o maestro Cláudio Cohen fala sobre as realizações da Orquestra do Teatro Nacional em 2022 e os desafios para o próximo ano

Irlam Rocha Lima
postado em 13/12/2022 00:01 / atualizado em 13/12/2022 11:58
 (crédito:  Marcelo Dischinger/Divulgação)
(crédito: Marcelo Dischinger/Divulgação)

Enquanto o retorno ao habitat natural, a Sala Villas Lobos, por enquanto, é apenas um sonho, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro utilizou neste ano os mais diversos espaços em Brasília e outras cidades do Distrito Federal para fazer suas apresentações. O Teatro Plínio Marcos, no Eixo Cultural Ibero-Americano, que acolheu o grupo nos últimos meses, tem sido o palco dos concertos de encerramento da temporada de 2022. O primeiro ocorreu em 6 deste mês, o segundo será hoje, às 20h, enquanto o último está programado para a próxima terça-feira.

No concerto desta terça-feira (13/12), a OSTNCS, sob a regência do maestro Cláudio Cohen leva ao público a Sinfonia nº 5, de Gustav Mahler, tendo como destaques dois musicistas da orquestra, a harpista Cristina Carvalho e o trompetista Ellyas Lucas.

"A participação da harpa no famoso adagietto — andamento mais lento — da 5ª Sinfonia de Mahler é talvez um dos maiores presentes que todo harpista de orquestra pode almejar na carreira", afirma Carvalho. "É uma peça relativamente simples em termos e notas, porém requer uma maturidade musical e experiência de conjunto orquestral", acrescenta.

O trompetista Ellyas Lucas explica que Mahler demonstrou gostar bastante das trompas. "A Sinfonia nº 5 é uma valsa em que ele utiliza a trompa como instrumento solo. É um grande desafio pois o compositor brinca com o caráter leve e dançante, que é interrompido por chamadas intensas, fortes e cheias de melancolia", ressalta.

Para 2023, a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro programa um novo ciclo Beethoven e também séries temáticas de compositores universais, além de incremento das produções operísticas. De acordo com o maestro Cláudio Cohen, o Teatro Plínio Marcos, atual palco de apresentações da OSTNCS, permite muitas possibilidades de espetáculos, além do fato de estar localizado no Eixo Cultural Ibero-Americano, na região central da cidade.

Entrevista | Cláudio Cohen

Que avaliação faz da atuação da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional na temporada de 2022?
Começamos a temporada em fevereiro no Museu da República com produções camerísticas (grupos de músicos mais reduzidos), e com o passar dos meses fomos ampliando o efetivo orquestral até chegarmos na orquestra completa. Em 2022 Foram realizados 70 concertos em diversos projetos da OSTNCS, tais como música nas cidades. Estivemos em Samambaia, Gama, Planaltina, Taguatinga e tocamos pela primeira vez na Casa do Cantador em Ceilândia, fizemos mais de 10 concertos internacionais em parceria com as Embaixadas localizadas em Brasília, sete concertos didáticos atendendo mais de 3 mil alunos de escolas públicas, concertos ao ar livre tais como Iate in Concert, Rock Sinfônico na Torre de TV, aniversário de Brasília, diversos concertos celebrando o Bicentenário da Independência do Brasil, quatro apresentações na Papuda, no Catetinho, Museu Vivo da Memória Candanga e no mês de agosto assumimos o palco do Teatro Plinio Marcos no Eixo Cultural Ibero Americano, onde passamos a realizar nossos concertos semanais, realizamos lá duas óperas, Carmen, de Bizet, e João e Maria, de Humperdinck. Além disso, lançamos diversos vídeos inéditos em nosso canal de YouTube. Foi um ano extremamente produtivo e intenso haja vista que há pouco estávamos em uma pandemia severa.

Quais foram os concertos que tiveram maior repercussão?
Destaque para o Concerto que celebrou o Bicentenário da Independência no mês de junho onde tivemos mais de 2 mil pessoas assistindo presencialmente e outras 2mil na transmissão on-line. O Iate in Concert 2022 também foi destaque de público e com a arrecadação recorde de alimentos, quase 20 toneladas. O Rock Sinfônico também foi um dos pontos altos da temporada bem como os Concertos coreano, chinês, suíço, mexicano, austríaco e alemão, com destaque especial para o concerto Ibero Americano que celebrou a nomeação de Brasília como Capital Ibero Americana das Culturas em 2022. Foram 18 países envolvidos em uma noite de grande festa musical.

Esses três concertos que fecham a programação deste ano devem ser considerados importantes e por que?
A importância se deve ao fato de eles trazerem de volta a Orquestra em sua plenitude de efetivo orquestral sinalizando a volta da normalidade. Tchaikovsky, Mendelssohn e sobretudo Gustav Mahler são compositores que usam toda a força do efetivo orquestral em suas composições e o retorno dessa grandes obras na nossa temporada realmente deve ser celebrado. O final será festivo.

As peças selecionadas para os programas obedeceram um critério específico?
O critério é sempre artístico e estratégico na medida em que busca trazer a diversidade para o nosso público mas também estabelecer desafios de crescimento artístico para o grupo.

Elas trazem evocação aos festejos natalinos?
Teremos nos concertos finais os clássicos do cinema e também músicas natalinas para celebrar com espírito positivo as festas de final de ano.

O quadro de instrumentistas que a Sinfônica possui atualmente atende às necessidades?
O quadro da Orquestra é de 118 músicos, mas hoje ela conta com menos de 80 devido ao processo de aposentadoria de vários músicos. Esse movimento cria de fato uma necessidade de reposição que deverá ser efetivada com a realização de novo concurso público para seleção de novos músicos para completar o nosso efetivo orquestral e ampliar o atendimento à população com os nossos concertos.

Há em desenvolvimento algum curso voltado para a formação de músicos de concerto em Brasília?
A Escola de Música de Brasília conta com professores que desenvolvem esse trabalho. Vários professores são músicos da Sinfônica, e essa experiência ajuda muito na formação de novos músicos de concerto, um outro polo de formação é o Departamento de Música da UnB.

Se existe, atribui que importância?
A importância dessa formação é vital para a renovação da Orquestra, bem como para ampliar a oferta de música de concerto no Distrito Federal.

Cláudio Santoro, o maestro e fundador da OSTNCS era atento a esse aspecto. Guarda na memória que tipo de lembrança dele, de quem foi discípulo?
Tive o privilégio e a oportunidade de assimilar um pouco a grande experiência internacional e também a visão das necessidades artísticas da sociedade em geral. Na memória ficam as lições dadas nos ensaios e também de sua dedicação à arte até o último segundo de vida.

Sonha com o retorno dos concertos para seu habitat natural, a Sala Villa-Lobos do Teatro Cláudio Santoro?
A Orquestra sonha com o dia em que retornaremos à Sala Villa-Lobos renovada e com todos os antigos problemas solucionados, entre eles a correção da acústica que é pouco adequada para concertos clássicos. Isso será realmente a realização de um sonho.


Concerto para Orquestra

Sinfonia nº 5 de Gustav Mehler pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro, hoje, às 20h, no Teatro Plínio Marcos, no Eixo Cultural. Entrada franca.

 


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