Liniker desembarca hoje em Brasília para apresentar o show da turnê do primeiro disco solo de sua carreira, Indigo Borboleta Anil, que rendeu o Grammy Latino de melhor álbum de música popular brasileira de 2022. Ela será a primeira mulher trans negra a se apresentar no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A apresentação será, hoje, às 22h, com ingressos variando entre R$ 60 e R$ 1 mil, que podem ser adquiridos pelo site da Bilheteria Digital e em pontos de vendas espalhados pelo Distrito Federal. O show deveria ter ocorrido em 11 de outubro, mas, por questões de saúde da cantora, a apresentação teve que ser adiada para hoje.
A cantora e atriz paulista conversou com o Correio, falou dos sentimentos envolvidos no álbum premiado e revelou que, pela primeira vez, ela se sente inteira dentro de um trabalho. O conjunto de sua obra é marcado por letras que tratam da intimidade, com uma sofisticação musical que surpreende. Jazz, samba, MPB e blues são alguns dos gêneros que atravessam as 11 faixas do Indigo, que também rendeu indicações em outras duas categorias do Grammy Latino: Melhor Álbum de Engenharia de Gravação e Melhor Canção em Língua Portuguesa, pela faixa Baby 95.
"Ganhar na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira, concorrendo com artistas dos quais sou admiradora, como Caetano Veloso e Marisa Monte, coloca o meu trabalho e a minha construção como artista em um lugar de excelência. Então fico muito feliz e emocionada por esse marco na minha trajetória" comemora.
Dona de um vozeirão marcante, Liniker trouxe para álbum as participações de nomes de peso do cancioneiro nacional, como Milton Nascimento, que emprestou a voz à faixa Lalange. "De certo modo, essa música faz parte de um processo de cura da minha criança interior e ter a voz de Milton Nascimento ali foi como olhar para a minha ancestralidade em tempo real", detalha. "Frequentemente, o sonho não é permitido para as pessoas pretas. Milton representa essa possibilidade. Eu olho para a minha criança, que é o meu passado, vejo o meu presente e olho para o futuro e, nesse fluxo, Milton é a minha seta".
Além de Milton Nascimento, o álbum tem a participação de outros artistas que dialogam com os sons da paulista de Araraquara, como Tássia Reis, Orkestra Rumpilezz, formação baiana que mistura sons de matriz africana com jazz e Orquestra Jazz Sinfônica.
Indigo Borboleta Anil chega depois de Goela Abaixo, último álbum da cantora gravado com o grupo Liniker e os Caramelows, trabalho que apresenta o requinte de costume da cantora e que também teve indicações no Grammy Latino. Mas ela reforça que o show da turnê tem foco no Indigo. "Uma música ou outra dos trabalhos anteriores podem aparecer, mas sempre em uma perspectiva ou leitura Indigo".
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O intimismo de Liniker se manifesta de maneira ainda mais intensa no projeto mais recente. "A minha arte vem de um lugar muito pessoal. Acredito que com Indigo Borboleta Anil isso ficou ainda mais forte, já que foi um disco que fiz para mim e que estive à frente da produção junto a Gustavo Ruiz e Julio Fejuca. Com esse trabalho, pude ir na direção que eu queria, sem interferências e isso é perceptível no resultado final", declara. "Nos discos anteriores, eu compunha em uma perspectiva de uma Liniker mais platônica. No Indigo, eu trouxe uma escrita sobre as verdades minhas".
A cantora levou o seu trabalho para o Palco Sunset do Rock in Rio 2022. Às milhares de pessoas presentes para prestigiar a apresentação, Liniker declarou que aquele show seria "sobre ser excelente". "Essa turnê tem sido um processo de fincar os pés. Eu tenho orgulho do que tem sido construído e tenho conseguido externalizar a ideia de que 'eu posso, eu quero'. E o Rock in Rio foi essa excelência que falei ali no palco. Foi uma forma bem evidente de ser do meu tamanho."
Sobre a apresentação na capital da República, Liniker diz estar ansiosa para o encontro com o público brasiliense. "A ansiedade é enorme e, a cada lugar que subo ao palco com esse repertório, tenho uma experiência única. A troca com o público tem sido linda. Então quero convidar a todes para comparecerem a esse encontro."
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Dramaturgia
Em setembro, estreou a segunda temporada de Manhãs de setembro, série do Prime Video na qual Liniker incorpora a protagonista Cassandra, uma mulher trans que, como ela, sai em busca do seu sonho de viver do canto. Apesar do seu reconhecimento ter vindo primeiramente da música, Liniker garante que suas habilidades nas artes cênicas nunca foram anuladas. Ela tem formação em artes cênicas pela Escola Livre de Teatro, no ABC Paulista.
"Eu me enxergo como uma multiartista e vejo a possibilidade de manifestar a minha arte por diferentes meios, seja em séries, no cinema ou nos shows e nos discos. Manhãs de setembro é um presente para mim e estou aberta para projetos em que eu possa transbordar a minha arte", esclarece.
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