Cinema

Anna Muylaert comenta curta polêmico com trama sobre atentado presidencial

Curta-metragem 'O nosso pai' rendeu receptividade acalorada, no encerramento do mais tradicional festival de cinema do país. Filme de fundo cômico teve estreia ruidosa em Brasília

O planejamento de um crime contra a ocasional maior autoridade do país, em meio ao caos da pandemia, deu as caras no conteúdo do inflamado curta-metragem O nosso pai, atração que abriu a cerimônia de premiação do 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, na noite de domingo (20/11). Controverso, o filme estrelado por Grace Passô, Dandara Pagu e pela brasiliense Camila Márdila, mexeu com os ânimos do público. "O festival de Brasília tem um público declaradamente do campo da esquerda, portanto, acreditei na melhor das receptividades", contou, ao Correio, a diretora Anna Muylaert.

Com a crença de que seus filmes sempre colocaram a mulher num papel central, a consagrada diretora de longas como Que horas ela volta?, com Regina Casé, e É proibido fumar, estrelado por Glória Pires, aponta que o feminismo, num crescente, está em sua criatividade e nas tramas. Entre a "coragem e a liberdade", o que falaria mais alto para o trio de irmãs desse mais novo filme de ficção? "Coragem, sem dúvida. Diante de um cenário de inação, diante do caos sanitário, político e social; elas resolvem tomar uma ação", observa Anna, que completa: "Hoje o filme é apenas um filme divertido e catártico".

Três perguntas // Anna Muylaert

O conteúdo do teu filme chegou num timing adequado?

Produzimos este curta há dois anos e esperamos a hora certa de mostrar para o público. Achamos que a hora certa seria quando o campo democrático retomasse o poder. No dia 30 de outubro, o Lula ganhou as eleições, e no dia 31, o Festival de Brasília me convidou para participar do júri, e eu mostrei o curta (que recebeu convite para ser exibido). Foi o timing perfeito

Estar em Brasília te deixou insegura, exposta: você não teve receio das reações e de possíveis hostilidades?

Não porque o filme se passa há quase dois anos e conta uma história que sabemos que não aconteceu. É um filme que nasceu da vontade de expressar uma fantasia comum nas conversas daquele período, mas hoje já pode ser percebido como memória.

Você vê subversão no teu filme?

Se tivesse sido lançado na época em que foi feito, seria. Mas hoje não é mais porque aquele tempo já passou. Acho que hoje o filme é apenas um filme divertido e catártico.

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