O cantor e compositor Erasmo Carlos, que morreu nesta terça-feira (22/11), é principalmente conhecido pelo talento que o consolidou como um dos maiores nomes da música brasileira. Desde o fim da década de 1950, quando começou a tocar, até novembro de 2022, quando recebeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock ou Música Alternativa em Língua Portuguesa pelo álbum O futuro pertence à... Jovem Guarda, o cantor marcou várias gerações. No entanto, o sucesso dele se expandiu e atingiu também à moda, o cinema e a TV.
Tijucano de nascença e vascaíno de carteirinha, Erasmo Carlos fez do Rio de Janeiro o berço da trajetória musical. O cantor foi amigo de infância de Tim Maia, com quem aprendeu a tocar violão, e fez boa parte de suas composições ao lado de Roberto Carlos. Rodeado pelos grandes nomes da Jovem Guarda, Erasmo teve a voz reverberada entre todas as gerações musicais que o sucederam.
Na década de 70, o mundo encarava as tendências artísticas com novos olhos, e o cantor entrou definitivamente no estilo “hippie” com o álbum Carlos, Erasmo (1971). O disco é um dos mais importantes da carreira dele, porque foi responsável pela reinvenção do artista na música. A faixa de abertura, De noite na cama, escrita por Caetano Veloso, e a clássica Agora ninguém chora mais, de Jorge Ben, fazem parte do trabalho.
O Tremendão encarou a década de 80 com um novo projeto: unir as maiores vozes brasileiras em um único álbum. Em Convida, Erasmo escolheu uma música para gravar com cada um dos ícones do MPB. Gal Costa, Tim Maia, Gilberto Gil, Rita Lee, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Nara Leão, Wanderléa e Jorge Ben estão entre os convidados.
Em 2007, o compositor recriou a ideia a fim de atualizar a lista de participações. Desta vez, com o nome Convida, volume II, os convidados foram: Chico Buarque, Lulu Santos, Skank, Marisa Monte, Zeca Pagodinho, Los Hermanos, Adriana Calcanhotto, Djavan, Kid Abelha, Os Cariocas, Milton Nascimento e Simone.
A nova geração também não abandonou o legado do artista. Em 2017, a banda Maglore compôs a música Não existe saudade no cosmos, especificamente para a gloriosa voz de Erasmo. Além do grupo baiano, Liniker, Maria Gadú, Letrux, Luedji Luna e Xênia França se uniram para regravar Gente aberta, em 2020. Mais recentemente, em fevereiro deste ano, ele foi protagonista do álbum O futuro pertence à… Jovem Guarda, pelo qual revisita grandes hits que marcaram o movimento.
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O bad boy da Jovem Guarda
Fã de ícones da moda como Elvis Presley e James Dean, não era à toa que Erasmo tinha fama de mau: o galã da Jovem Guarda era estiloso a ponto de ter a própria marca de roupas nos anos 1960. Inspirada por visuais que ele usava, a grife O Tremendão foi febre entre os incontáveis jovens que acompanhavam o programa de televisão apresentado por ele, Roberto e Wanderléa.
Em tuíte de 2012, o cantor explica que o apelido pelo qual é conhecido veio justamente da marca que tinha, que comercializava “produtos para a juventude”, entre eles calças, coletes e chapéus. Movimento cultural, a Jovem Guarda não era apenas música e programa de TV, mas inspiração para jovens de todos os cantos do país nos mais diversos aspectos, entre os principais o estilo e a forma de se vestir e portar.
A cultura do rock que ganhou força nos Estados Unidos, nos anos 1950, e a que veio de Londres com os Beatles um pouco mais tarde deram origem a uma revolução cultural no Brasil, protagonizada pela Jovem Guarda. Além das guitarras elétricas, cabelos compridos, jaquetas de couro, roupas coloridas e acessórios passaram a fazer parte da moda brasileira — que antes, segundo o próprio Erasmo, era muito careta.
Nessa época, ele costumava imitar principalmente o estilo de Presley: calças de couro, camisas estampadas, medalhões, pulseiras e anéis eram peças-chave no guarda-roupas. Roberto era o rei; Wanderléa, a ternurinha; e Erasmo Carlos, este era considerado o bad boy da Jovem Guarda.
A grife virou apelido, o apelido virou álbum em 1967, e o nome e a moda do Tremendão viraram patentes que consagraram o estilo e a cultura de toda uma geração.
Nas telas, a fama também é de mau
Além de ícone musical, Erasmo Carlos atuou em diversos filmes e possui participações memoráveis em programas de TV. Desde a Jovem Guarda em si, programa exibido entre 1965 e 1968 na TV Record e na TV Rio, até o filme Modo avião, lançado em 2020, em que interpreta o avô da personagem de Larissa Manoela — passando por filmes de Roberto Carlos nos anos 1970, como Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa e Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora, e pelo longa Paraíso perdido, de 2018.
Em 2019, Chay Suede deu vida ao bad boy Erasmo na época da Jovem Guarda, no longa-metragem Minha fama de mau. O filme passa pelos principais momentos da trajetória artística do cantor: quando aprendeu a tocar violão inspirado pelos ídolos Elvis, Bill Haley e Chuck Berry, quando conheceu o parceiro musical Roberto Carlos e quando passa a dividir as telas das tardes de domingo com ele e Wanderléa.
* Estagiários sob supervisão de Pedro Grigori
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