Obituário

Gal Costa deixa uma obra que mudou os rumos da música brasileira

A cantora, que morreu ontem, em São Paulo, provocou, inspirou e deixou uma obra que mudou os rumos da música brasileira

O Brasil ficou mais triste ao perder Gal Costa, um dos nomes mais expressivos do universo da MPB. "A mãe de todas as vozes", como a chamou Nando Reis, no título de uma das canções do A pele do futuro, álbum que ela lançou em 2018, morreu na manhã de ontem, em São Paulo. O velório, aberto ao público, ocorrerá na Assembleia Legislativa, também na capital paulista, amanhã, das 9h às 15h. O enterro será fechado apenas para amigos próximos e familiares.

A cantora, recentemente havia interrompido a turnê do show As várias pontas de uma estrela, que foi visto em Brasília em 7 de agosto último, no Eixo Cultural Ibero-Americano, pelo festival COMA — Consciência Música e Arte . Em meio ao público, próxima ao palco, estava a designer Louise Caetano, que se emocionou com o que viu e ouviu. "Esse show de Gal esse foi o primeiro e, agora sei, que único que pude assistir. Gal é uma figura que marca minha vida. Estar tão perto da Gal foi um momento em que presença de alguém que admiramos, inunda a gente". Ela acrescenta: "Eu ria, eu chorava, saí do show atônita. Gal, estratosférica, fatal, divina, maravilhosa era um pouco de cada mulher no Brasil. Ela representava ali a vida toda, o melhor que a gente tem no Brasil. Uma estrela que brilhava e continuará brilhando demais em nossa vida"

Maria da Graça Penna Burgos Costa, nascida em Salvador, iniciou a trajetória artística em 1964, quando se apresentou ao lado de Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé e Maria Bethânia no espetáculo Nós por exemplo, no Teatro Vila Velha, na capital baiana. Quatro anos depois, o país tomou conhecimento daquela grande intérprete por meio do Festival da Record, no qual defendeu Divino Maravilhoso, classificada em terceiro lugar.

Ao defender a canção de Caetano Veloso e Gilberto Gil, a discípula de João Gilberto revelou sua faceta roqueira, soltando a voz cristalina em versos como: "É preciso estar atento e forte/ Não temos tempo de temer a morte" , que soou como um desabafo em plena vigência da ditadura militar. Mais tarde, em 1972 viria a se tornar a musa da Tropicália. Quando os dois amigos partiram para o exílio em Londres, ela passou a ser a representante e a resistência do movimento concebido por eles.

Com 55 anos de trajetória artística, Gal estreou em disco ao gravar Domingo, LP de 1967, que dividiu com Caetano. Ao longo da carreira, lançou 30 álbuns de estúdio, sete gravados ao vivo e sete DVDs. O trabalho mais recente é Nenhuma dor, de 2021. Entre os projetos mais icônicos da cantora está Fatal — Gal a Todo Vapor, registro do show que ela fez entre 1971 e 1972, no Teatro Tereza Raquel, no Rio de Janeiro. Entre as incontáveis canções que ela gravou destacam-se clássicos como Baby, Brasil, Festa Interior, Meu nome é Gal e Um dia de domingo.

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