Quando deixou Brasília, na década de 1980, indo para o Rio de Janeiro, a fim de dar prosseguimento à carreira e se inserir no mercado brasileiro, Jorge Helder já era um músico com um trabalho bem avaliado. Aqui, além de fazer parte de grupos de jazz, acompanhava cantoras, em processo de ascensão, como Cássia Eller, Zélia Duncan e Rosa Passos.
Na capital carioca, logo o seu talento, enquanto contrabaixista, chamou atenção, inicialmente de companheiros de ofício ao tocar em casas noturnas. Um deles, Luiz Cláudio Ramos o convidou para integrar a banda de Chico Buarque, da qual, além de violonista, era o diretor musical. A partir dali passou a ser requisitado, para acompanhá-los em gravações, por grandes artistas da MPB — de Edu Lobo a Nana Caymmi, de Ney Matogrosso a Gal Costa.
Maria Bethânia fez mais: o levou para tê-lo ao seu lado nos palcos e em estúdio. A estrela baiana costuma dizer ao se referir a Helder: "É o baixo mais disputado do Brasil". Em Bolero blues, Casualmente e Rubato, composições que gravou no primeiro disco, intitulado Samba doce, lançado em 2020, o baixista tem Chico como parceiro.
"É um privilégio ter esses artistas como referência e ser influenciado por eles", destaca o instrumentista e compositor. "Estou sempre aprendendo e, com grande alegria, tenho oportunidade de colocar tudo isso em prática, acrescenta. Isso ele fez em Caroá, álbum que acaba de chegar às plataformas digitais, via Biscoito Fino. A palavra que dá título ao projeto vem de bromélia — flores vermelhas e rosadas, típicas de áreas de caatinga, cujas folhas fornecem fibra para confecção de barbantes, redes, tecidos e esteiras.
Cearense de Fortaleza, Jorge Helder buscou inspiração em suas origens para batizar o tema de abertura do segundo disco. "Fiz uma grande pesquisa voltada para temáticas especificamente nordestinas por se tratar de um baião influenciado pelo grande Luiz Gonzaga. A fotógrafa Géssica Amorim, que fez a foto da na capa, é pernambucana e me contou que muitas famílias nordestinas tiram sustento do Caroá", conta o músico.
Helder teve a companhia, na gravação do Caroá, de instrumentistas do seu ciclo de amizade, todos de grande relevância na cena musica brasileira — Chico Pinheiro (guitarra), Hélio Alves (piano), Marcelo Costa (percussão) e o baterista Tutty Moreno, a quem dedicou uma das composições, intitulada Tutty. Há a participação de convidados em outras faixas: Sérgio Santos (Santos de casa), Mônica Salmaso (Lugar sem tempo), Zé Nogueira (Impressão perfume) e Zé Renato (Miguelim). Confluências e À margem complementam o repertório.
Confira nosso bate-papo com Jorge Helder
Que avaliação faz dos mais de 35 anos de trajetória artística?
Tem sido uma trajetória de muitas partituras, muitos amigos, várias cidades pelo mundo, gravações. Viagens de avião cheias de emoção e muitas aprendizagens de vida profissional e familiar.
Que importância atribui ao fato de ter iniciado a carreira musical em Brasília?
Brasília foi fundamental para minha carreira de músico. Em Brasília, pude conviver com grandes músicos brasileiros. Aos 18 anos, tive o privilégio de estudar numa escola excelente, a EMB (Escola de Música de Brasília), com professores super especiais. Também toquei muito nos bares e teatros de Brasília, fazíamos música todos os dias da semana. De dia, as aulas, e à noite, colocávamos em prática o que aprendíamos.
O fato de integrar as bandas de Chico Buarque e Maria Bethânia e de ser um músico requisitado por outras estrelas da MPB tem representatividade para você?
Sinto-me feliz por ter escolhido ser um músico profissional. Eu creio que a arte tem vida própria e poder viver dela é um presente eterno.
Ter no currículo mais de 350 participações em gravações pode ser visto como um recorde e, se for assim, como se sente?
Não sei se sou um recordista, será? Na verdade, não penso nisso, apenas vou tocando o barco.
Por que quis dar a este trabalho o título de Caroá?
Quando acabo de compor, sempre pesquiso em livros, ou mesmo na internet, para buscar um nome que tenha relação com a minha música. Como o tema é um baião, fiz uma pesquisa voltada para o nordeste e achei essa linda bromélia que nasce na Caatinga, a caroá. Com a fibra de suas folhas é possível fazer redes, chapéus e outros utensílios. A família do grande Luiz Gonzaga se utilizava dessa planta para o seu sustento, inclusive. É uma homenagem ao nordeste.
Quando foram compostos os temas do álbum?
Compus todas as músicas durante os dois anos da pandemia.
Sente-se mais familiarizado com qual dos estilos musicais de suas composições?
Sinceramente, não saberia dizer.
Contar com Mônica Salmaso e Zé Renato como convidados adiciona algo a mais ao projeto?
Além dos queridos Mônica Salmaso e Zé Renato, o álbum conta com as participações de Sergio Santos e Zé Nogueira (no sax), todos convidados muito especiais. Fiquei muito feliz por eles terem aceitado o meu convite para fazer parte desse projeto, ao lado de grandes músicos brasileiros e amigos de uma longa estrada. Entre eles, cito Chico Pinheiro na guitarra, Hélio Alves no piano e teclado, Marcelo Costa na percussão e o grande Tutty Moreno na bateria.
Para você o que representa para a cultura a chegada de um novo tempo, após o resultado da eleição presidencial?
Representa a salvação! Muita luz para prosseguir.
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