Os 50 anos de uma das mais importantes expressões das artes brasileiras, o Movimento Armorial, que ocorreu em Recife, na década de 1970, será celebrado a partir da próxima terça-feira no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de Brasília, com uma programação diversificada. O ponto alto é uma grande mostra, que ficará aberta à visitação até 15 de janeiro de 2023.
"Eu comecei a ficar preocupado com a descaracterização da cultura brasileira. Pensei em reunir um grupo de artistas que atuassem em todas as áreas e que tivessem preocupações semelhantes às minhas, para que nós, juntos, procurássemos uma arte brasileira erudita, fundamentada nas raízes populares da nossa cultura". A afirmação, dada à Rede Globo Recife, é do professor, pintor, dramaturgo e escritor Ariano Suassuna, paraibano — morto na capital pernambucana aos 87 anos — criador e líder do Movimento Armorial.
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Além da exposição, que ocupará diferentes galerias do CCBB, haverá espetáculos musicais, exibição de documentário, palestras e debates sobre o legado do Movimento Armorial para a cultura brasileira. A mostra oferece, ainda, atividades interativas e acesso a conteúdos digitais, como tour virtual e playlist em streaming de áudio, além da acessibilidade para todos os públicos.
O espectador poderá conferir aproximadamente 140 obras de artistas participantes do movimento, como Francisco Brennand, Gilvan Samico, Aluísio Braga, Zélia Suassuna, Lourdes Magalhães e, claro, Ariano Suassuna. A maioria das peças nunca havia saído de Recife. A curadoria é de Denise Mattar e coordenação de Regina Rosa Godoy.
"Com a iniciativa, Ariano Suassuna buscou evitar a descaracterização da cultura brasileira. O melhor exemplo, para ele, era o cordel, que contém a literatura, com suas histórias; as artes plásticas, com a gravura; a música, com os repentistas; e a dança que vem juntar. Na obra de Ariano, essa volta às raízes brasileiras é realizada com profundo respeito à diversidade e às tradições", ressalta Denise Mattar. "O autor desenvolveu um trabalho pioneiro e engajado, muitas vezes com posições bastante contundentes, mas apresentando tudo de forma mágica, lúdica, e plena de humor. A exposição Armorial tem como objetivo principal apresentar às novas gerações esse trabalho, mantendo o espírito que o guiou", complementa a curadora.
Regina Godoy conta que o Movimento Amorial chegou à vida dela por meio da música. "Em 2019 assisti a um show do grupo Rosa Armorial, em Curitiba, e me interessei pela sonoridade diferente do que eu conhecia. Comecei a pesquisar grupos de música armorial e me deparei com o universo mágico e artístico do Movimento Armorial e a obra de Ariano". A coordenadora da mostra foi além: "Em 2020, o Armorial faria 50 anos de existência, interessou apresentar uma mostra. Comecei a arquitetar sua realização, convidei a curadora Denise Mattar. Conversei com a família e resgatei um sonho antigo de ocupar o CCBB com uma temática e apresentar toda esta efervescência presente nesta mostra. Eu, como filha de nordestinos, tive o prazer de fazer o percurso da migração nordestina em elo com Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e agora Brasilia".
É importante lembrar que a mostra conta com obras de colecionadores particulares, de artistas e de instituições como a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), da Oficina Brennand e de Manuel Dantas Suassuna, Diogo Cantareli, Maria Paula Costa Rêgo, J. Borges, Lourdinha Vasconcelos, entre outros.
Movimento Armorial 50 Anos
Mostra de 18 de outubro a 15 de janeiro de 2023, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília, no Setor de Clubes Sul.