O menino que joga bola é o mesmo que tenta a vida no YouTube fazendo rimas em uma batida de funk. Esses sonhos têm relação direta com a mesma finalidade: mudar a realidade que vivem. Essas várias vivências são apresentadas em Funkbol, série documental da Paramount que encontra a intersecção entre dois amores do povo brasileiro: funk e futebol. A série estreia nesta segunda-feira na plataforma de streaming.
O seriado é uma produção VIS, divisão internacional de estúdios da Paramount, em parceria com a Adventures Studios e KondZilla e com apoio da Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Os cinco episódios são dirigidos por Fred Ouro Preto, conhecido pelos documentários de Emicida na Netflix e por clipes como País do futebol de MC Guimé. Participam dos episódios os jogadores Antony, Gabigol, Guilherme Arana, Tamires Dias, Matheus Cunha e Rodrygo Góes. No funk, alguns dos nomes são MC Guimê, MC Hariel, MC Kekel, MC Livinho, MC Menor MR, MC Poze Do Rodo, MC Luana e MC Trans.
Apesar de não ser oficialmente a base de tudo, a música País do futebol, de Guimé, somada ao clipe de Fred, acabaram dando o tom que a série precisava para unir os dois mundos. A canção, uma parceria do MC com Emicida lançada em 2013, foi um grande sucesso e até hoje é reconhecida por muitos como a música extraoficial da Copa do Mundo no Brasil em 2014. "Assim como a música, a série é sobre o sonho da coisa profissional", relaciona o diretor Fred Ouro Preto.
O cineasta explica que, para relacionar os dois mundos, no entanto, precisava ir além. "Tem a ver também com o estilo. Estilo tanto de vida, de roupa, de cabelo, o que o jogador faz influencia o funkeiro e vice-versa", destaca Fred, que foi aos bastidores para entender essa colisão dos dois mundos. "Tudo se entrelaça de verdade, desde o pessoal que vende camisa dos times, aos roadies que trabalham na estrada com os artistas", complementa.
Contudo, o que mais chama atenção na produção é a forma como ela se apresenta como um Cavalo de Troia do bem. O público que está ali muitas vezes para ver um pouco mais da história do jogador ou do funkeiro favorito acaba encontrando todo caráter social que a série investe. "As pessoas estão vendo pelo entretenimento. É uma produção que tem que ter o interesse do público, mas ele tem curvas para assim poder fisgar as pessoas de maneiras diferentes", acredita o cineasta. "Quantas pessoas estão indo ali para ver o Gabigol ou MC Poze do Rodo e se deparam com algo a mais, algo social", continua. Meu trabalho é tentar misturar essas coisas no intuito de criar algo verdadeiramente interessante", completa.
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"A relação dos dois universos já fazia sentido pela questão social", explica Ouro Preto. Para o diretor, o sonho é a verdadeira parte arrepiante da história. Afinal, antes de tudo, estes futebolistas e cantores eram apenas jovens sonhadores, que por meio de uma mistura de sorte, ousadia e muito trabalho, puderam mudar as próprias vidas, dar condições melhores às próprias famílias e chegaram até os maiores palcos do Brasil e à casa e ao ouvido de pessoas em todo o mundo. "São histórias que apresentam outras formas de pensar sobre toda essa realidade", diz.
Documentar é importante
Esta é a primeira série documental de Fred Ouro Preto, assim como Emicida: Amarelo — É tudo pra ontem foi o primeiro longa-metragem dos 10 anos de carreira do cineasta. Mesmo novo nesse ofício, ele comemora a popularidade dos documentários e séries documentais. "Acredito que o documentário está num momento muito bom e muito se deve ao fato de as plataformas de streaming estarem popularizando o formato. Elas buscam essas histórias e costuram de uma maneira que não é mais aquele documentário que a gente via há dez anos atrás, é um formato atual", analisa o artista.
Fred está por dentro do mundo do funk há anos e também tem relação forte com futebol, até por isso foi o escolhido para o Funkbol. Ele vê beleza neste mundo que já frequenta, e acredita na importância de dar voz para essas pessoas. "É urgente a produção de mais produções como essa. É uma linguagem que gera uma identificação absurda com o público", comenta. "É preciso diversidade, não só de quem aparece mais de quem faz. Eu sempre tento colocar isso nas equipes que trabalham comigo, mas não é só isso. Esse eu que fiz, em um próximo pode ser um colega ou uma colega minha, quem sabe no futuro fazemos outros todos juntos. O importante é sempre trazer diversidade", completa.