Festa Literária

Flipiri 2022 terá programação voltada para a diversidade literária

São mais de 80 atividades, entre mesas de debates, oficinas, shows, espetáculos e sessões de contação de histórias distribuídos pelos próximos cinco dias e destinados a públicos de todas as idades

Nahima Maciel
postado em 31/10/2022 06:00
Cristino Wapichana -  (crédito:  Al..cia Peres)
Cristino Wapichana - (crédito: Al..cia Peres)

Com o slogan Os povos do mundo e a vontade de explorar e investigar os mais variados sotaques da produção literária brasileira, a Flipiri 2022 chega a Pirenópolis, nesta terça-feira (1º/11), com uma programação robusta e o foco na diversidade.

São mais de 80 atividades, entre mesas de debates, oficinas, shows, espetáculos e sessões de contação de histórias distribuídos pelos próximos cinco dias e destinados a públicos de todas as idades. Quem abre os trabalhos é a cantora, escritora e compositora Fernanda Takai, do Pato Fu.

Autora de quatro livros, sendo dois infantis, Takai prepara um novo trabalho em parceria com Daniel Kondo, programado para o final do ano, a tem a literatura como uma espécie de companheira de viagem. "É uma excelente companheira nessa viagem que é a vida. Ela nos abastece com vocabulário, exemplos, ideias insólitas, dores, amores, reflexões e também deixa a nossa mente voar. Nesse mundo online em que se vive, abrir um livro é respirar ar mais puro", explica a compositora. Takai faz um pocket show e sessão de autógrafos na Praça Matriz, amanhã, depois de participar de bate-papo com o público.

A Flipiri Mirim também tem abertura amanhã com espetáculo de palhágica, mistura de palhaçaria com mágica comandada por Hozana Costa e Luana Gomes na Tenda da Flipiri, QG da festa na Praça Matriz de Pirenópolis. Um cortejo com a Banda Phoenix vai desfilar pela cidade que, nesta edição, é a grande homenageada do evento. Durante a semana, a programação terá oficinas especiais para crianças e bebês, com atividades de leitura, espetáculos e oficina de circo, além de um sarau literário com vinho para os adultos.

Na quinta-feira, a mesa de debates União dos povos do mundo reúne Rogério Andrade Barbosa e Cristino Wapichana para refletir sobre a representatividade na literatura. Autor de uma série de livros infantis sobre o folclore nacional e de outros de temática africana, Barbosa vai falar sobre consciência negra enquanto Wapichana, que além de escritor é músico, vai refletir sobre a preservação da cultura indígena por meio da literatura. "A ideia da festa este ano é discutir essa questão da diversidade cultural. Por isso o Cristino Wapichana estará com a gente debatendo isso", explica Maurício Melo Júnior, curador da Flipiri.

Na sexta-feira, uma leitura dramática com o título de Diálogo das diferenças reúne Iris Borges, Rose Costa e Liduína Bartholo na Escola Estadual Comendador Joaquim Alves em um encontro destinado a profissionais da educação. À noite, no Cine Teatro Pirineus, Flávio Carneiro e Paulo Rolim protagonizam o debate Contos da gente da terra. Autor de histórias infantis, romances e crônicas, Carneiro escreveu 17 livros e dois roteiros para cinema, sendo um deles uma parceria com Adriana Lisboa e André Sturm, Bodas de papel, vencedor do Prêmio Especial do Júri do Festival de Cinema de Pernambuco de 2008. "Autores goianos, Flávio Carneiro e Paulo Rolim trazem a questão da escrita e da fala, discutindo a própria linguagem, tanto literária como do sotaque regional", avisa Mauricio Melo.

Ainda na sexta, Claudine Duarte fala sobre a experiência com o Calango Leitores, em conversa mediada pela também autora Clara Arreguy. No sábado pela manhã, o Encontro com ilustradores recewSan Thiago e Roger Mello e, à noite, Micheliny Verunschk e Kamilly Barros falam sobre os Falares da diversidade. Micheliny venceu o Prêmio São Paulo de Literatura com o romance Nossa Teresa — vida e morte de uma santa suicida, em 2015, e publicou, em 2021, O som do rugido da onça, no qual dá voz a duas crianças indígenas arrancadas de suas terras e levadas à Europa por exploradores alemães no século 19 para serem exibidas como exóticas.

Entrevista / Fernanda Takai

Como autora de livros infantis, que papel você acha que a leitura pode ter na vida da criança e como tornar esse papel efetivo em um país tão carente de educação e tão desigual?

Quando escrevo um livro, não gosto de limitá-lo a um público só. Penso um pouco como na música. As histórias servem como espelho para os adultos também. Ter os pais exercitando a leitura com os pequenos é sinal de que esse momento juntos fortalece os laços, cria uma frequência maior de leitura em casa. Isso dura pra sempre.

O que te guia no momento de escrever um livro infantil?

Os meus livros infantis acabaram nascendo da minha experiência como cronista e contista em revistas e jornais. E quando um assunto chama a minha atenção, com imagens fortes na minha cabeça, geralmente procuro alguém para traduzir isso junto comigo. Os livros são infantis, mas os assuntos são sempre sérios, apresentados numa linguagem leve.

Há temas que te motivam? Que você ache importantes de serem tratados na literatura infantojuvenil?

Acho importante trazer nos livros, na arte em geral, assuntos que as pessoas talvez deixem de lado dentro de casa, da sala de aula... ter um livro que conte uma história com a qual muita gente vá se identificar mas que não é fácil falar sobre eles de forma mais natural e bem humorada, ajuda demais.

Em A mulher que não queria acreditar, você reúne crônicas nas quais acontecimentos banais te levam a refletir e valorizar a simplicidade do cotidiano. Nos tempos atuais, é importante fazer essa reflexão? Por quê?

Sempre é preciso valorizar esta vida que está aí na nossa cara e talvez por falta de atenção, tempo ou foco, deixa de nos encantar. Essas certezas cotidianas como comida no prato, ter sua família por perto, ter seu dinheirinho pra comprar presentes, viajar, achar uma função que amamos realizar mesmo com todas as dificuldades de mercado... isso parece tão simples, mas são desafios enormes nos tempos atuais. Estamos muito fragmentados como sociedade. Não adianta ser feliz sozinho, tem que estar bom pra todo mundo.

A literatura, de alguma forma, te abastece para fazer música? Qual o papel da literatura na composição musical para você?

A literatura complementa todo ser humano que quer ficar mais próximo do outro. Importante demais para qualquer carreira. Se você lê muito, você fala e escreve melhor também. Aprende a organizar melhor suas ideias. Certamente ela me fez uma compositora mais atenta.

O tem da Flipiri é Os povos do mundo, uma tentativa de jogar um olhar sobre a diversidade e a importância de suas representações. Do seu ponto de vista, qual a importância de trazer esse tema para uma festa literária?

Puxa, meu próximo livro em parceria com o Daniel Kondo vai ter muito a ver com o tema, está na gráfica já, mas ele só sai no fim do ano. É muito importante que a gente se sinta representado na vida. Ter voz, ser visto e poder mostrar nossas diferenças e encontrar nossas afinidades é o que faz a gente andar rumo ao futuro — respeitando a natureza que nos cerca. Somos parte fundamental dessa luta se quisermos continuar a existir nessa Terra.

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  • Cristino Wapichana
    Cristino Wapichana Foto: Al..cia Peres
  • Fernanda Takai na Flipiri 2022
    Fernanda Takai na Flipiri 2022 Foto: Fabiana Figueiredo
  • Rogério Andrade
    Rogério Andrade Foto: Divulgação
  • Flávio 
Carneiro
    Flávio Carneiro Foto: Divulgação
  • Fernanda Takai 
na Flipiri 2022
    Fernanda Takai na Flipiri 2022 Foto: Tibério França
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