Correspondente em Lisboa — As bagagens dos integrantes do grupo brasiliense Menos é mais estão carregadas de emoção, alegria e, claro, surpresas para o público de Portugal. A terra de Cabral será palco de encerramento da primeira turnê que a banda, criada em 2016, faz na Europa. Um de seus fundadores, o percussionista Gustavo Goes, resume bem o sentimento que ele e os parceiros estão sentindo: “Para nós, é uma realização muito grande. Não dá para dizer que sonhávamos com esse momento, porque nem conseguíamos enxergar isso como realização na música. Mas, aconteceu, e estamos muito felizes”.
A turnê europeia — o show em Lisboa está marcado para domingo, 2 de outubro — incluiu Suíça, Inglaterra, Holanda e Espanha. Um desafio e tanto, reconhece Goes. “A responsabilidade de tocar no exterior é maior. Estamos nos apresentando para um público que, provavelmente, nos verá uma única vez na vida”, diz. “Mas, ao mesmo tempo que é desafiante, nos sentimos motivados a tocar melhor, a cantar melhor, a nos apresentarmos de uma forma mais impactante”, afirma.
Entre as surpresas programadas para o show em Portugal está a música “Foi bom, mas foi ontem”, que será incluída no DVD a ser gravado ainda neste ano e será lançada oficialmente no Brasil nesta sexta-feira, 30 de setembro. “Preparamos um novo espetáculo para a Europa. A gente sempre gosta de adaptar nossos shows de acordo com os locais em que nos apresentamos. Então, não será diferente agora “, ressalta o percussionista.
A expectativa do grupo é de atrair, em Portugal, um público além dos brasileiros que vivem em território luso. Goes acredita que o fato de o idioma ser o mesmo ajuda bastante. Há outra vantagem: os portugueses gostam muito de samba e pagode, conhecem bem a música brasileira. O integrante do Menos é mais reconhece, porém, que não é fácil furar a bolha do público de brasileiros.
“Pela experiência que tivemos nos Estados Unidos, na nossa primeira turnê internacional, em março, o público, em maioria, era de brasileiros. O restante era formado por pessoas ligadas a esses brasileiros “, ressalta. “Portanto, é difícil furar essa bolha, no sentido de abraçar um público que não fala a nossa língua”, complementa. Mas isso não desamina os músicos. “Creio que sempre se pode ir além. Até três anos atrás, por exemplo, era impossível irmos para a Europa, então, tudo pode acontecer.”
Força do samba
Goes crê na força do samba e do pagode para quebrar barreiras e arrastar multidões. “Já conseguimos botar mais de 20 mil pessoas em nossos shows. Tocamos para mais de 100 mil pessoas em um festival em Belo Horizonte. Isso demonstra a grandeza do samba e do pagode não só para quem gosta desses ritmos, mas para o público em geral”, assinala.
Ele destaca que, no caso do Menos é mais, o sucesso junto ao público tem a ver com uma conjunção de fatores. “A gente acredita que a nossa música vai muito além da sonoridade, tem a ver com energia e alegria”, frisa. “Sempre tivemos um cuidado muito especial, ao subirmos ao palco, em mostrar ao público que tudo o que fazemos se sobrepõe à sonoridade. Isso fica claro em tudo o que fazemos”, emenda.
Apesar de todo o entusiasmo com a turnê europeia, o percussionista reconhece que não é fácil viver de música no Brasil e em nenhuma parte do mundo. Ele diz que, na base da pirâmide, os músicos só conseguem sobreviver de seus trabalhos se integrarem bandas nacionais ou terem um reconhecimento muito acima da média. “Isso dificulta todo o mercado. Você vê muita gente ganhando muito pouco, ou nada, no amadorismo, e, ao mesmo tempo, um grupo pequeno de artistas com muito dinheiro, o que não é errado, mas é desigual”, enfatiza.
O quadro se agrava no Brasil porque não há apoio do governo para a cultura. Isso ficou claro, segundo Goes, durante a pandemia do novo coronavírus. “Alguns artistas conseguiram fazer lives ou executar pequenos projetos. Mas a maioria ficou parada por quase dois anos, com dificuldades para se sustentar”, reforça.
Dia das eleições
Goes ressalta que o show em Portugal será realizado no dia em que os brasileiros irão às urnas para eleger o próximo presidente da República, mas o Menos é mais manterá distanciamento da política. “O Brasil realmente vive um momento crítico, muito tenso. Contudo, a nossa cabeça estará totalmente alheia à política. Estaremos vivendo um grande momento profissional em Portugal. Vamos nos concentrar nisso”, afirma.
O músico diz, ainda, que, como artistas, os integrantes do grupo não vestem a camisa no sentido de ter um político preferido. “A gente opta por defender causas sociais nas quais acreditamos. O fato também de nos posicionarmos politicamente acaba nos levando a perder diálogo com pessoas que precisamos muito para essas causas”, conclui.