K-pop

Blackpink deixa a desejar no quesito novidade em álbum Born Pink

O grupo feminino sul coreano Blackpink lançou Born Pink, o segundo álbum de estúdio; confira crítica

Em uma indústria que sempre prezou pela liberdade artística para além dos padrões convencionais norte americanos, na conquista de um espaço expressivo e inovador no mundo do pop, uma parcela do k-pop parece rumar cada vez mais em direção a um ritual ocidentalizado das baladinhas dos anos 2000. No caminho mais fácil de fórmulas musicais feitas para dar certo, é duvidoso se Born pink, do Blackpink, entregou algum objetivo que perpassa os limites da conformidade com a esfera mercadológica global.

Desde a estreia de Jisoo, Jennie, Rosé e Lisa no k-pop em 2016, o famoso debut dos grupos coreanos, uma onda de singles de sucesso foram os maiores responsáveis por ascender o grupo à posição que hoje se encontram de maior grupo feminino em número de ouvintes do mundo. Born pink foi lançado na última sexta-feira (16/9) e é o segundo full album de estúdio do quarteto, vindo após The album (2020).

Com dois anos sem novidades, os fãs do Blackpink, conhecidos pelo apelido carinhoso blinks, há muito ansiavam por um comeback das meninas, momento que marca o retorno de um grupo à indústria do k-pop com o lançamento de novas músicas. Em meio a revelações de um possível projeto inédito desde março deste ano, é evidente que o comeback veio carregado de expectativas.

Expectativas que logo foram quebradas com a vinda do primeiro single de promoção do álbum, Pink venom, em 19 de agosto. A composição de Teddy Park, 24, R.Tee, Danny Chung e IDO (KOR) reflete exatamente o mesmo conceito e estrutura musical de singles anteriores do Blackpink. Verso, pré-refrão, refrão com batida contagiante, verso, refrão com batida contagiante, interlúdio melódico, refrão remixado. A fórmula utilizada em DDU-DU DDU-DU e Kill this love perpetua-se mais uma vez em Pink venom, com um refrão levemente suavizado. Na realidade, a mesma proposta é entregue pelos compositores do girlgroup desde o próprio ano da estreia, com Boombayah. E não há dúvidas de que ela dá certo, afinal, estamos diante da estrutura musical básica do pop, adaptada com um ritmo explosivo que aparenta ser a marca registrada do Blackpink e da produtora YG Entertainment.

Uma amostra da canção de 1838 do violinista romancista Paganinni, La campanella, foi incluída na faixa título Shut down, que deu uma tonalidade eletrônica ao violino clássico. Typa girl também continua a caminhar por um território familiar, embasado na aproximação com o pop punk, bem como na formulação de refrões cujas batidas reafirmam a preocupação em entregar um ritmo dançante e que não sai da cabeça. Sendo assim, a primeira metade do álbum deixa a desejar no quesito ousadia e experimentação livre.

A tentativa de se libertar das barreiras das regras ao sucesso mercadológico inerente é melhor explorada nas demais faixas, onde o hip-hop, disco, pop, retrô e ballad encontram uma harmonia na manifestação de facetas ora enérgicas e alto astral, ora melódicas e intimistas. Yeah yeah yeah é a única música com créditos de composição das artistas, com Jisoo e Rosé sob os holofotes. No entanto, os vocais estonteantes de Jisoo que são constantemente ofuscados em diversas produções do quarteto, poderiam ser melhor aproveitados na faixa em questão, até porque combinam perfeitamente com o conceito romântico proposto. Rosé, por outro lado, brilhou na solo Hard to love, cujo timbre de voz realça a melancolia em evidência.

The happiest girl entra para o hall de canções que representam o lado pink do quarteto, escrita por Teddy Sinclair e inspirada nas clássicas baladas de relacionamento ao som do piano. Ao mesmo tempo que é agradável aos ouvidos, seu caráter genérico reafirma clichês e é mais um rito de passagem pelas melodias que fazem sucesso nos EUA.

O ponto alto de Tally é a letra, cantada de forma irreverente e que expressa os benefícios de ser livre e confiante consigo mesmo. Já Ready for love, queridinha das blinks, foi descartada do primeiro álbum de estúdio e reaproveitada em Born pink, a pedido dos próprios fãs do Blackpink. Uma boa escolha, uma vez que a faixa combina muito mais com o conteúdo do segundo.

Em linhas gerais, Born pink parece despreocupar-se com os avanços que a indústria do k-pop tem conquistado até então, culminando em uma coleção compacta de hits contagiantes aos padrões ocidentalizados, o que em nada indica que é insatisfatório. Muito pelo contrário: as 2 milhões de pré-encomendas que o consagraram como primeiro álbum de um ato feminino de K-pop a atingir tal marco, e mais 1 milhão de cópias vendidas no primeiro dia de lançamento, culminam em mais um comeback majoritariamente bem sucedido para o Blackpink.

É válido lembrar, contudo, que a produção pop que realmente causa impacto entrega tanto um lado formulado contagiante e estruturado em concordância com o mercado concorrente (e isso o Blackpink faz muito bem), quanto um lado que arrisca e direciona-se ao inédito, sem que o último seja ofuscado pelo primeiro e privado das transformações que ele poderia provocar. O que Born pink tem em comum com o seu irmão mais velho, The album, além de 8 faixas e meros 24 minutos de duração, é zona de conforto demais e inventividade de menos.

*Estagiária sob supervisão de Pedro Ibarra

 

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