Há três anos Milton Nascimento saiu em turnê pelo país com o show Clube da Esquina — nome também do disco que, recentemente, foi considerado o mais importante da história da música popular brasileira. Naquela época, ele deixava subentendido que estava próximo de encerrar o ciclo de apresentações, que teve início em 1975, quando lançou os álbuns Minas e Gerais.
A muitos, porém, surpreendeu o anúncio feito pelo cantor e compositor, nome exponencial da MPB, em 15 de maio último, sinalizando que, com o espetáculo Última sessão de música, iria despedir-se dos palcos — embora fosse continuar compondo, cantando e gravando disco.
Quase um mês depois — em 11 de junho — ele estreou na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Em seguida, partiu em excursão pela Europa, onde o show foi visto em cidades da Inglaterra, Itália, Espanha e Portugal. Numa igreja em Londres fez o registro audiovisual de A última sessão de música. De volta ao Brasil, Milton cantou novamente no Rio e foi a Porto Alegre, Salvador e Recife.
Hoje, ele chega a Brasília e se apresenta, às 21h, na Arena Nilson Nelson. Usando figurino com a assinatura do estilista Ronaldo Fraga, ocupa um palco com cenário criado pelos artistas plásticos Os Gêmeos. A acompanhá-lo tem em cena a banda formada por Wilson Lopes (guitarra, violão e direção musical), Frederico Heliodoro (baixo), Lincoln Cheib (bateria), Ademir Fox (piano), Widor Santiago (sopros), Ronaldo Silva (percussão), Alexandre Primo Ito (arcos) e Zé Ibarra (vocais). Bituca (como é chamado pelos amigos) lançou mais de 40 discos de estúdio e outros tantos gravados ao vivo, é detentor de cinco prêmios Grammy e do título de Doutor Honoris Causa em música pela Universidade de Berklee, em Boston (EUA).
No show, o cantor vai revisitar sua obra, ao interpretar clássicos como Cravo canela, Pra Lennon e McCartney, Cais, Clube da Esquina 2, Nada será como antes, Coração de estudante, Maria Maria e Nos bailes da vida. Mas o repertório traz também canções não tão difundidas, mas igualmente importantes na obra do artista, entre as quais Lilia, Morro Velho, Outubro, Pai Grande, Tema de Tostão e a que dá título ao espetáculo.
Integrante dos grupos Bala Desejo, da nova cena musical carioca, multi-instrumentista, compositor e cantor Zé Ibarra integra a trupe de Milton Nascimento desde a turnê do Clube da Esquina. Para ele dividir o palco com um dos ícones da MBB é uma experiência profissional gigante. "Miton confia no meu trabalho e me passa confiança o que é fundamental para realizar meu trabalho". No show, Ibarra faz solo em San Vicente, Travessia e Volver a los 17.
Músico que iniciou a carreira na capital, tocando em bandas de baile, o saxofonista Widor Santiago, que já acompanhou Erasmo Carlos, Djavan e Léo Jaime, faz parte da banda de Milton Nascimento há 20 anos. "Para mim, é um privilégio tocar com este gigante da MPB há duas décadas", afirma."Quando venho a Brasília, a sensação é de estar voltando para casa", acrescenta.
Última sessão de música
Show de Milton Nascimento e banda. Hoje, 21h, na Arena Nilson Nelson. Ingressos; R$ 100 (superior),
R$ 288 (cadeira anel), R$ 350 (cadeira gold) R$ 450 (cadeira premium) — valores referentes à meia entrada
Entrevista/Milton Nascimento
Milton, porque decidiu deixar de fazer shows depois da turnê A última sessão de música?
Essa foi uma decisão tomada depois de muita reflexão com meu filho, Augusto, e, na verdade, a gente já tinha pensado nisso até antes da pandemia. E, como foi tudo pensado com muita calma, acho que foi a hora certa.
Que avaliação faz dos seus 60 anos de trajetória artística?
Posso dizer que sou muito grato com tudo que vivi em todos esses anos de carreira. E ter a chance de me despedir dos palcos com essa turnê, tem sido muito emocionante para todos nós. Em cada cidade as pessoas tem nos recebido de uma forma incrível e que eu jamais imaginava.
Durante este longo período em que se dedicou à música, qual a fase que considera a mais profícua e por que?
Acho que todas as fases da nossa vida deixam um aprendizado importante. Por isso que considero tudo que vivi com muito carinho, até mesmo as passagens mais difíceis.
Entre as tantas canções que compôs, gravou e cantou em shows, há aquelas que são da sua preferência?
Depois de tantas músicas gravadas e tantos parceiros ao longo da vida, acho muito difícil escolher as preferidas. E eu posso dizer que tenho muito carinho por todas elas.
Como foi a turnê pela Europa e como tem sido as apresentações pelo Brasil?
Na Europa, nós passamos por Itália, Espanha, Inglaterra e Portugal, e em todas as cidades as pessoas nos trataram de uma forma que eu jamais vou esquecer. E, no Brasil, nós já passamos por Rio, São Paulo, Porto Alegre, Salvador e Recife, e em cada cidade foi uma carga impressionante de emoção que as pessoas passavam para gente.
Você que sempre abriu espaço em seu trabalho para jovens artistas, como vê a contribuição de Zé Ibarra, que integra a banda que o acompanha desde a excursão de o Clube da Esquina?
Zé Ibarra é um artista impressionante, e ainda vai construir muita coisa na música. Tudo que ele faz tem uma força que arrebata a gente.
Que importância atribui ao seu filho Augusto Nascimento, que há cinco anos cuida de sua carreira?
Eu devo a ele os momentos mais felizes da vida, tudo que a gente tem feito devo a ele. E nós nunca tivemos tanto prazer em fazer as coisas como nos últimos anos, desde viagens para shows, gravações, e cada temporada tem sido uma emoção diferente.
Desde quando lançou os álbuns Minas e Gerais que você vem a Brasília. Como vê a acolhida que recebe aqui?
Todos os meus projetos passaram por Brasília, sempre. É uma das cidades que eu mais gosto de fazer shows, e ter a chance de me despedir dos palcos no Nilson Nelson vai ser marcante na minha carreira.
Já há algo que imagina fazer quando a turnê chegar ao final?
Como eu tenho dito sempre, me despeço dos palcos, da música jamais.
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