Em cartaz atualmente no Brasil, o longa-metragem Marte Um, de Gabriel Martins, foi o escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para disputar uma indicação na categoria de Melhor Filme Internacional na 95ª edição do Oscar. A cerimônia está marcada para ocorrer em 12 de março de 2023.
Todos os anos, um filme nacional é escolhido para buscar uma vaga na concorrida categoria do Oscar de Melhor Filme Internacional. Na última segunda-feira, a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais coroou a obra Marte Um como a representante deste ano. Ao total, 27 filmes foram considerados, sendo que apenas cinco títulos passaram para a segunda fase de seleção. São eles: A mãe, de Cristiano Burlan, A viagem de Pedro, de Laís Bodanzky, Carvão, de Carolina Markowicz, Pacificado, de Paxton Winters, e Paloma, de Marcelo Gomes.
Passada a fase nacional, a obra escolhida passa pelo crivo de um comitê internacional, que tem o árduo trabalho de afunilar os diversos envios para apenas cinco obras, que concorrerão, de fato, à estatueta mais cobiçada do cinema. Em toda a história da categoria, apenas três filmes brasileiros figuraram na lista final: O quatrilho (1996), de Fábio Barreto; O que é isso, companheiro? (1998), de Bruno Barreto; e Central do Brasil (1999), de Walter Salles.
Marte Um acompanha a vida dos Martins, uma família negra de classe média baixa que vive no Município de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. No fim de 2018, às margens da posse de Jair Bolsonaro, o quarteto lida com os sonhos e desejos individuais em um momento em que o país para de sonhar. Wellington, o pai, é um alcoólico reabilitado, porteiro em um prédio de luxo, cujo maior sonho é ver o filho vestir o uniforme do Cruzeiro; o filho, Deivid, por sua vez, não vê futuro no futebol e deseja ser astrofísico para participar da Marte Um, primeira missão tripulada para o planeta vermelho; Eunice, filha mais velha, almeja a liberdade de viver o amor sem amarras; por fim, no centro de tudo, está a matriarca Tércia, que acredita estar amaldiçoada.
Ainda que tenha limitações técnicas, o filme encapsula, de forma magistral, a beleza cotidiana de um subúrbio brasileiro. Cadeiras de praia, churrasco com pagode, partida de buraco no jantar, cerveja no copo americano, lagoinha como chamado em Belo Horizonte, e lanchonete de esquina dão o tom de que o filme poderia muito bem se passar em qualquer estado do continental país. O sotaque mineiro sem rédeas traz um frescor aos ouvidos dos habituados às produções no eixo Rio-São Paulo. Questões como o vício, a solidão da mulher negra e a homossexualidade ganham uma abordagem sensível que abrilhanta o filme.
A escolha da Academia Brasileira acerta em cheio se a intenção é mostrar ao mundo um retrato fiel do brasileiro médio, resiliente, alegre e sonhador. Assim como o menino Deivinho, o longa sonha em decolar e encontrar um lugar por entre as estrelas.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco