Serotonina é um neurotransmissor que ficou popularmente conhecido como hormônio da felicidade. Ele é produzido quando o corpo é exposto a situações prazerosas. Uma boa comida, um momento divertido, um filme ou um álbum podem trazer serotonina para o corpo da pessoa. João Donato, fascinado com o esse hormônio e mais ainda em alegrar o público, decidiu que iria disponibilizar uma forma de se ouvir o produtor de felicidade, Serotonina, primeiro álbum completo de inéditas em 20 anos.
Lendário e na atividade desde o final dos anos 1940, João Donato foi figura da escola musical que mais tarde criaria o movimento da Bossa Nova. É reconhecido internacionalmente como um dos mais prolíficos músicos brasileiros, e colocado em entre as referências nacionais do jazz. O compositor passeia por gêneros e continua fazendo trabalhos que recebem reconhecimento de público e crítica, o mais recente foi Síntese do lance (rocinante), com Jards Macalé. O disco, mesmo com poucas músicas inéditas, figurou em várias listas de melhores do ano em 2021.
O cantor e compositor da música brasileira recebeu a proposta de fazer novo álbum do produtor Ronaldo Evangelista e o convidou para olhar os manuscritos e demos os que estavam guardados no apartamento que Donato mora no Rio de Janeiro. Evangelista voltou com 10 músicas, segundo o próprio cantor, muito boas. "Eu tenho meus cadernos, vários papéis com músicas começadas, várias fitas. Coisas que quando revivo geram boas músicas", diz João em entrevista ao Correio.
Com as músicas prontas, foram convidados diversos artistas para escreverem as letras. Rodrigo Amarante, Mauricio Pereira, Felipe Cordeiro, Jorge Andrade e Arruda, são alguns dos colaboradores do que João classificou como o trabalho de "várias pessoas como se fossem uma cabeça só". O nome veio de uma tarde vendo televisão, em que descobriu em um dos vários programas que zapeava entre canais o que era a tal serotonina. "Para mim, foi uma loucura descobrir que um componente poderia disponibilizar felicidade, alegria, sucesso e até saúde", conta o compositor.
Foi com a descoberta do hormônio que ele subiu o questionamento para si próprio: "Por que não pensar a música como ferramenta para trazer essa serotonina, uma forma de atingir regiões do espírito e da alma". Pensar desta forma o levou a lembrar o cerne do que é fazer música, o que ele acredita da própria arte. "Quando eu faço uma música, a minha finalidade não é ficar rico ou conquistar as meninas por aí. A função da música é alegrar mesmo os corações", explica.
Ele não quer inventar nada, ele quer apenas a simplicidade de tocar o coração de quem o ouve. "A música é invisível, você ouve ela, mas não sabe onde ela está. Não tem como pegar, nem guardar. É uma coisa que penetra, que atravessa gente. A música atinge a alma e enobrece o espírito", reflete o compositor. "A música tem essa qualidade de deixar as pessoas contentes, de produzir quem sabe a serotonina", conclui.
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E é essa felicidade que ele tem encontrado desde que lançou o disco em 11 de agosto. "Da criança, à vovó, passando pela mãe e chegando aos jovens, todos têm gostado do meu álbum. Não é feito para nenhum tipo específico de pessoa. Todos gostam, dos pequenos aos velhinhos", afirma. Porém, o mais importante está no fato de que ele mesmo acredita no que está fazendo, isso 20 anos depois da última vez que alcançou algo parecido. "Eu estou contente com o resultado do disco", comemora.
É nesse clima de gratidão que o músico chega ao estágio atual da carreira. Um ponto em que muitos pararam ou se foram, mas que ele ainda se faz produtivo e relevante no cenário musical. "Sou uma pessoa de sorte, principalmente porque tenho 88 anos e estou inteiro e fazendo um monte de coisa, gravando disco e fazendo música", pontua e ainda aproveita para brincar. "Você não consegue comprar felicidade na farmácia. Se você chegar na farmácia, eles vão dizer: "tem não". Porém, dá para comprar Serotonina, o meu disco, lá nas lojas!", completa.