Memórias da infância ganham leitura poética e propõem uma reflexão sobre origens, afetos, perdas e ressignificações no trabalho de Loreni Schenkel. Em cartaz na Galeria Rubem Valentim, Aquilo da infância que ficou pelo caminho parte de um conjunto de histórias pessoais costuradas de forma poética em 32 trabalhos que propõem ao público uma reconexão com as próprias memórias.
Loreni começou a criar as obras há dois anos, logo no início da pandemia. A partir de um episódio de infância — a artista perdeu a mãe aos 10 anos e viu o tio queimar a fralda à qual se apegara por causa do cheirinho materno —, ela construiu um conjunto de pinturas, esculturas, vídeos e instalações confeccionadas com fraldas, barro, pintura e referências ao fogo e fogões.
Quando estava trabalhando nas obras, Loreni sofreu um acidente doméstico, bateu a cabeça e acabou com uma fratura craniana. As radiografias realizadas após o acidente também entraram no trabalho. "A exposição é uma imersão em memórias de infância", avisa. "O que busco dizer é que todos nós temos alguma memória de infância que nos conecta com algo que somos hoje, somos a soma das coisas boas e não boas que vivemos e nos transformaram."
Loreni conta que, após o tio queimar a fralda com a lembrança da mãe, ela fugiu para a casa da avó. Nascida em área rural, em Santa Rosa (RS), a menina andou por 10Km, no barro, em busca do aconchego. Se escondeu atrás de um fogão a lenha, por isso o fogo é uma referência forte e cheia de duplo sentido em toda a mostra.
A exposição, segundo a artista, dá voz à criança que ficou calada, não pode se manifestar e acabou por fugir. "Quantas vezes a gente foge de algo na vida adulta para não olhar para isso e o que trago é isso: voltar para nossas memórias de infância e resgatar para nossa vida de adulto", diz Loreni.
Aquilo da infância que ficou pelo caminho
Exposição de Loreni Schenkel. Visitação até 30 de outubro, de terça à sexta, das 10h às 20h, na Galeria Rubem Valentim (Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul).
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