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Nahima Maciel
postado em 24/09/2022 06:00
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

Em 2020, quando o mundo fechou as portas e bilhões de pessoas se isolaram para fugir de um vírus que se espalhava rapidamente, o diretor Pedro Henrique França se deparou com um dado que exigia movimento e ação. Ele trabalhava remotamente quando leu uma matéria sobre o recorde de candidatos LGBTQIA nas eleições municipais daquele ano. "Fiquei muito instigado e surpreso com esse dado porque, para mim, nasceu dali uma pergunta: o que está acontecendo, por que esse despertar de corpos políticos? E num momento de incerteza de como seria a eleição e sob um governo declaradamente lgbtfóbico", lembra.

Ao conversar com o ator Marcos Pigossi, de quem é amigo, o cineasta chegou à conclusão de que ali havia material para investigação e para um filme. A motivação primeira do filme e o argumento que está o tempo em pauta e nas falas dos entrevistados é questão da representatividade. "A ideia era debater a importância desse voto e por que somos tão pouco representados", conta Pigossi.

Com produção de Pedro Henrique e de Pigossi, CorPolítica, que estreia no Brasil durante o BIFF, na segunda-feira, às 19h, na Mostra Competitiva, começou a tomar forma. Com pouco dinheiro, uma pandemia no meio do caminho e muitas dúvidas, o cineasta foi para a rua acompanhar as campanhas de quatro candidates. "A seleção desses personagens, para mim, tinha que dar conta, pelo menos, das letras LGBT", explica Pedro Henrique. Entraram então para o roteiro a trans Erika Hilton (Psol) e o homossexual William de Lucca (PT), candidatos a vereadores em São Paulo, e a bissexual Andrea Bak (Psol) e a lésbica Mônica Benício (Psol), ambas concorrendo ao cargo de vereadoras pelo Rio de Janeiro.

Dessas, apenas Erika Hilton e Mônica Benício, viúva da vereadora Marielle Franco (Psol), assassinada em 2018, se elegeram. No entanto, elas não são as únicas personagens do documentário, estruturado de forma tradicional, com entrevistas que envolvem as famílias e sequências que acompanham os candidatos em campanha. "Eu nunca quis falar sobre aquela campanha em si, sobre aquele processo eleitoral em si. Queria, a partir daquele momento, entender por que somos tão poucos. Enquanto homem gay falando, nunca tive um representante gay", explica o diretor, que incluiu em CorPolítica entrevistas com Thammy Miranda (PL) e Fernando "Holiday" (Novo), ambos vereadores por São Paulo e de partidos que representam a direita brasileira.

Entender a importância da diversidade e da representatividade, vazia ou eficaz, foi um dos objetivos de Pedro Henrique. "Temos uma discussão no filme que fala sobre isso. Temos uma captura, por parte da direita, de pautas identitárias no sentido de trazer essas pessoas para uma composição que é alegórica e não eficaz. Essas pessoas não estão fazendo de seus mandatos espaços políticos para legislar sobre nossos corpos. nenhuma lei de proteção LGBTQIA foi derivada de algum debate do campo legislativo, todas as leis que temos hoje são fruto de decisão do Supremo por omissão do congresso. É um ciclo tão autoexplicativo sobre nosso lugar e nossa ausência", constata o diretor.

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