Georgia e David, vividos por Julia Roberts e George Clooney, colocam o divórcio e as diferenças de lado pelo bem da filha na comédia romântica Ingresso para o paraíso. O filme, que estreia hoje nos cinemas brasileiros, tem a direção assinada por OI Parker, de Mamma mia: aqui vamos nós e Agora e para sempre.
Recém-formada na Universidade de Chicago, Lily precisa de um respiro na vida para não encavalar a faculdade e a carreira como advogada. Para tal, ela e Wren, colega de quarto, resolvem passar um tempo na paradisíaca ilha de Bali, na Indonésia. A jovem decide desprezar a passagem de volta quando se apaixona por Gede, um jovem local. A paixão logo evolui para um plano de casamento. Os pais de Lily, divorciados e mal-resolvidos, decidem dar uma trégua e ir ao sudeste asiático para salvar a filha de cometer o mesmo erro que eles cometeram décadas atrás.
Crítica: Ingresso para o paraíso
A típica cerimônia balinesa de casamento se estende por diversos dias, tempo suficiente para que David e Georgia arquitetem um plano para arruinar o matrimônio. Roubos de alianças, apelos para superstições e psicologia reversa entram no hall de tentativas frustradas da dupla. Tudo regado a um humor que não convence e se apoia em piadas físicas que não vingam. No caminho, o casal redescobre o prazer na companhia um do outro e questiona se os motivos que os levaram a findar o casamento ainda se sustentam.
Na abertura do filme, David e Georgia se alternam na tela em um monólogo sobre como se deu o fim do casamento. Ele conta a história a um colega de trabalho no canteiro de obras no qual trabalha; ela, a uma conhecida em um leilão de obras de arte. A montagem une as duas versões e contrapõe o arquétipo do homem brusco que põe a mão na massa ao da mulher sofisticada, culta e sensível. O roteiro se dá por satisfeito com as duas personagens unidimensionais e segue em frente sem que haja muito espaço para que o espectador se apegue a elas. Daí em diante, David e Georgia vivem uma relação rasa de amor e raiva regada a discussões descabidas que não condizem com a idade e perfil da dupla.
Em oposição à infantilidade dos pais, Lily se mostra, de início, uma jovem sóbria e madura. A fruta, porém, não cai longe do pé. Sem muitas explicações, a futura advogada larga a vida no país natal por um amor que não se justifica na tela. Se há um fogo ardente entre Lily e Gede, ele passa longe de ser apresentado. Ao fim, a sensação é que, na verdade, a jovem deseja ficar em Bali por um delírio escapista para fugir da responsabilidade de cumprir a expectativa profissional que os pais projetaram nela.
Sem subverter expectativas, o longa desmancha a carcaça de ódio entre os ex-parceiros e mostra que, na verdade, há amor escondido na intimidade que mostram ao longo do filme. Ao decidirem apoiar o casamento da filha, David e Georgia se abrem para a impulsividade e decidem ficar na ilha para reviver o amor. A sensação que fica, contudo, é que os 15 anos de separação poderiam nunca ter acontecido caso tivessem sentado e tido uma conversa franca. Faltou terapia de casal.
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O cinema brasileiro decola
Em cartaz atualmente no Brasil, o longa-metragem Marte Um, de Gabriel Martins, foi o escolhido pela Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais para disputar uma indicação na categoria de Melhor Filme Internacional na 95ª edição do Oscar. A cerimônia está marcada para ocorrer em 12 de março de 2023.
Todos os anos, um filme nacional é escolhido para buscar uma vaga na concorrida categoria do Oscar de Melhor Filme Internacional. Na última segunda-feira, a Academia Brasileira de Cinema e Artes Audiovisuais coroou a obra Marte Um como a representante deste ano. Ao total, 27 filmes foram considerados, sendo que apenas cinco títulos passaram para a segunda fase de seleção. São eles: A mãe, de Cristiano Burlan, A viagem de Pedro, de Laís Bodanzky, Carvão, de Carolina Markowicz, Pacificado, de Paxton Winters, e Paloma, de Marcelo Gomes.
Passada a fase nacional, a obra escolhida passa pelo crivo de um comitê internacional, que tem o árduo trabalho de afunilar os diversos envios para apenas cinco obras, que concorrerão, de fato, à estatueta mais cobiçada do cinema. Em toda a história da categoria, apenas três filmes brasileiros figuraram na lista final: O quatrilho (1996), de Fábio Barreto; O que é isso, companheiro? (1998), de Bruno Barreto; e Central do Brasil (1999), de Walter Salles.
Marte Um acompanha a vida dos Martins, uma família negra de classe média baixa que vive no Município de Contagem, região metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais. No fim de 2018, às margens da posse de Jair Bolsonaro, o quarteto lida com os sonhos e desejos individuais em um momento em que o país para de sonhar. Wellington, o pai, é um alcoólico reabilitado, porteiro em um prédio de luxo, cujo maior sonho é ver o filho vestir o uniforme do Cruzeiro; o filho, Deivid, por sua vez, não vê futuro no futebol e deseja ser astrofísico para participar da Marte Um, primeira missão tripulada para o planeta vermelho; Eunice, filha mais velha, almeja a liberdade de viver o amor sem amarras; por fim, no centro de tudo, está a matriarca Tércia, que acredita estar amaldiçoada.
Ainda que tenha limitações técnicas, o filme encapsula, de forma magistral, a beleza cotidiana de um subúrbio brasileiro. Cadeiras de praia, churrasco com pagode, partida de buraco no jantar, cerveja no copo americano, lagoinha como chamado em Belo Horizonte, e lanchonete de esquina dão o tom de que o filme poderia muito bem se passar em qualquer estado do continental país. O sotaque mineiro sem rédeas traz um frescor aos ouvidos dos habituados às produções no eixo Rio-São Paulo. Questões como o vício, a solidão da mulher negra e a homossexualidade ganham uma abordagem sensível que abrilhanta o filme.
A escolha da Academia Brasileira acerta em cheio se a intenção é mostrar ao mundo um retrato fiel do brasileiro médio, resiliente, alegre e sonhador. Assim como o menino Deivinho, o longa sonha em decolar e encontrar um lugar por entre as estrelas.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco