Em meio ao preconceito e à desigualdade, Prethaís dá vida às matrizes africanas no videoclipe de Preta pretinha, parte do projeto-EP Poesia preta. Lançada em 27 de agosto, a música explora os temas da afetividade, da luta e da fé em uma narrativa cuja trajetória da mulher preta abre caminho para novas descobertas. O projeto conta com sete músicas, além de Preta pretinha, e um documentário que atravessa a vida de diferentes mulheres negras para dar sentido à proposta da cantora.
Ao trazer as histórias de grandiosidade do matriarcado, Prethaís utiliza o afeto como ferramenta primordial para a produção de Preta pretinha. “Mulheres pretas há muito tempo têm a perspectiva de construir em comunidade. A gente tem de exemplo as Yabás das nossas religiões de matrizes africanas, que deixaram um legado gigante”, explica. Ela também conta que não é uma tarefa fácil, pois as construções de gênero muito distorceram a capacidade feminina em fazer, gerir e gestar. “Desde o princípio a gente aprende a ser subordinada, submissa, e a não estar em relações que te coloquem para cima, que te façam chegar mais longe”, complementa a compositora.
No visual do clipe, a artista prezou por um lugar de cuidado e zelo para com as personagens envolvidas. Ela trouxe uma figura mais velha do candomblé, representada pela Mãe Baiana. “Baiana trouxe esse local para a gente, do que é possível construir estando nos nossos locais”, descreve. Elementos sagrados como o fogo, indicador de vitalidade, a cachoeira, símbolo de fertilidade e a espada-de-são-jorge, de proteção, foram trazidos no clipe. Além desses, Prethaís trouxe para o trabalho um casal homoafetivo para falar de um espaço no qual o amor é livre. Confira:
Artista, cantora, poetisa e compositora, Prethaís é natural da Bahia, tem 24 anos e está há sete nos caminhos da arte e da palavra. “Logo jovem eu comecei a acompanhar o movimento hip hop, que sempre abriu portas para a juventude negra”, revela. Para ela, a produção musical possibilitada pelo rap é acessível e torna mais fácil discutir assuntos pertinentes, uma vez que existe um movimento criado para isso. “O hip hop é o berço da cultura preta. É onde a gente consegue falar com mais tranquilidade, porque é o nosso território de fala”, comenta Prethaís.
A mescla de gêneros também é algo presente na vida da cantora e possibilita criar um local de refelxão no meio. Ao quebrar os estereótipos, ela procura resgatar uma história miscigenada, grandiosa e rica, anterior ao processo de escravidão. “A gente é mais do que essa simbologia trouxe do nosso corpo, que é pouco e não fala muito sobre a gente. Nós somos médicas, jornalistas, cantoras, juízas e a gente vai chegar a cada dia mais longe, porque o nosso reinado vem de DNA”, desabafa a poetisa.
No desejo de expandir sua música para um público maior, Prethaís destaca, portanto, a importância de inserir as mulheres negras no mercado de trabalho. “A gente precisa de mais narrativas que contem o que é a nossa história a fundo, que falem da nossa religião, do nosso afeto, por um viés preto, pelo nosso olhar, por como a gente gostaria de contar as coisas.” E vai além: “Eu quero que a gente consiga transformar em realidade a possibilidade de se viver da música.”
* Estagiário sob supervisão de Nahima Maciel
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