Literatura

'A curva do rio' lança Roosevelt Colini no mundo da literatura

O primeiro livro do estreante promete guiar os leitores pelas décadas de 1970, 1980 e 1990, perpassando as repressões, desigualdades sociais e revoluções por meio da incessante busca de uma filha pelo pai

Madu Toledo*
postado em 01/09/2022 15:24 / atualizado em 01/09/2022 16:14
 (crédito: Divulgação)
(crédito: Divulgação)

A curva do rio, que se encontra na 2ª edição, é o livro que marca a entrada de Roosevelt Colini na literatura. A história da publicação se passa entre as décadas de 1970 e 1990 e narra os sentimentos de uma personagem plural, que, quando criança, vê o pai migrar atrás de trabalho para a cidade de São Paulo e desaparecer. Junto com a mãe, ela deixa o interior e vai atrás dele, mas, sem sucesso, as duas são forçadas a recomeçar a vida, enfrentando preconceitos e vivendo as lutas sociais da época.

Segundo o autor, o livro possui várias vertentes e tenta explorar múltiplas interpretações. “É sobre uma mulher que procura conhecer a própria história e as suas emoções. mas também é sobre uma menina, que uma vez consciente que estava condenada a repetir as profecias da periferia, de ser esposa e trabalhadora braçal, encontra na educação e na paixão pelo conhecimento, uma carreira, que a permite vencer”, explica Coloni.

A inspiração para a obra veio da música também intitulada A curva do rio, do Xangai. “Essa música é o momento que o pai abandona a família e vai migrar, prometendo voltar. E a música termina aí, ele conversando com a filha. E eu, apaixonado por essa música, pensava nessa menina: ‘O que será que aconteceu com ela? O pai falou que ia voltar, será que ele volta mesmo?’ Então eu desenvolvi a história. Eu tive que criar uma pessoa querendo contar uma história afetiva, com barreiras, com travas emocionais”.

Roosevelt conta que o resultado final mistura as suas hipóteses e a história de sua própria vida. Nascido em Taguatinga, DF, na década de 1970, ele perdeu o pai aos 10 anos de idade e se mudou para São Paulo, junto de sua mãe. “Talvez eu tenha mais semelhanças do que dessemelhanças com a personagem”, revela. “Fui capaz de aprender com ela [personagem] a refletir sobre a perda do meu pai. Eu não tinha refletido muito sobre isso até terminar o livro”, contempla.

A curva do rio é a narrativa das memórias sentimentais da personagem, de maneira que reflete em uma espécie de conversa e desabafo com o leitor. “Ela quer falar sobre seus sentimentos, seus bloqueios, ela quer entender melhor as suas emoções. É como se ela estivesse conversando com ela mesma, tentando refletir. Ela teve dificuldade, por exemplo, de falar que amava a filha porque ela herdou isso da infância, mas ela quer dar o próximo passo, ela quer ser mais afetiva com a filha, então busca entender as suas próprias emoções”, explica o autor.

 

A curva do rio lança Roosevelt Colini no mundo da literatura
A curva do rio lança Roosevelt Colini no mundo da literatura (foto: Divulgação)

O livro também aborda temas sensíveis ao coletivo, como o abandono paterno e as repercussões da Aids no Brasil. “A Aids nos fez retroceder muito, principalmente os homossexuais. As opções sexuais foram muito travadas e de forma geral, a sociedade tratava isso como peste gay, então isso aumentou o preconceito. A personagem entra em choque com a doença”, conta Roosevelt.

O autor, por fim, chama a atenção do público para duas das mensagens apresentadas durante a publicação. “Eu gosto de destacar dois aspectos: o primeiro é a modesta contribuição pessoal da história do nosso país. Quero que as pessoas reflitam um pouco e percebam o que a gente viveu, como eram as coisas, o que é uma pessoa quando desaparece sob uma ditadura, o que é violência urbana. E a segunda é a mensagem de que é necessário desarmar as nossas amarras sentimentais.”

 

*Estagiária sob supervisão de Nahima Maciel

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