A efervescência da música brasileira costuma ser associada ao eixo Rio-São Paulo. Artistas de sucesso, eventos de grande porte e até a atenção da mídia costumam estar sempre mais concentrados nas capitais dos dois estados. Porém, recentemente, artistas e festivais de Minas Gerais têm se destacado no cenário nacional, abrindo os olhos do país para um um borbulhar artístico há tempos já conhecido pelos próprios mineiros, mas pouco falado em outras regiões. Nobat, cantor, produtor, compositor e agitador cultural, é um dos interessantes nomes que vem do estado e em 2022 aposta em uma mensagem poderosa para conquistar o Brasil.
Há 10 anos na estrada, Nobat já fez de tudo um pouco no cenário da música. Jornalista de formação, ele está em carreira solo, mas já produziu eventos, tocou em blocos de carnaval e fez turnês por todo o Brasil. “Foram dez anos muito intensos na música porque foi de devoção completa, de me jogar na estrada de fazer tudo com o máximo de coração”, conta o artista em entrevista ao Correio. Todo esse trajeto culmina em Mestiço, lançamento do cantor em 2022.
O disco, lançado em julho, traz consigo uma mensagem importante sobre a forma como o compositor vê o Brasil. “Eu estou celebrando um país que eu amo, o Brasil que poderia ter sido e que até hoje não foi”, classifica o artista. Desde o nome até a mescla de ritmos brasileiros, todo o álbum é pensado para representar o nome que ele carrega: Mestiço. “Um Brasil que reconhece na ancestralidade a chave do próprio futuro, um Brasil que apesar do passado sangrento, só vai dar certo quando botar fé na sua principal vocação: a diversidade”, analisa.
Residente em São Paulo há anos, filho de família baiana, o músico fez um disco que o representa. “Sou filho legítimo do embaraço”, conta. Ele passou por diversas cidades durante a vida e se encontrou no meio termo entre as coisas, na mistura de etnias que se faz o mestiço. “Eu não me identifico como pessoa branca mas eu também não me identifico como pessoa negra. É nesse lugar que me acho”, pontua. “Eu sou o canto de ninguém para qualquer um”, clama Nobat.
Em 10 faixas e 32 minutos, Nobat passeia pelo Brasil que conhece e acredita. “É um disco que se dedica a isso, se dedica a celebrar um Brasil que está sendo negado nos últimos anos, mas que eu boto fé”, explica. A intenção é ver o lado bom do país. “A gente tentando jogar a luz no lado bom da coisa a gente tem muitas potências o Brasil entregou pro mundo incríveis”, adiciona. O artista acredita muito no poder da própria música. “Fazer esse disco foi uma forma de salvar o Brasil que eu amo”, diz o compositor.
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Participação de Elza
O álbum é uma representação tão boa do Brasil que carrega com ele uma participação mais que especial. Uma das últimas colaborações especiais de Elza Soares. A cantora aceitou o convite após ler um texto de Nobat sobre o álbum Mulher do fim do mundo, em que o cantor colocava a obra como a melhor da última década na música brasileira. “Elza foi um dos maiores presentes que eu já recebi na minha vida uma das coisas mais incríveis que eu já vivi por tudo que ela representa pela artista que ela foi”, afirma.
A artista participou da faixa Me deixa sambar, que também conta com BNegão. As gravações tiveram que ser remotas, por conta da pandemia, mas após deixar pronta a parte dela, Elza ligou para agradecer a Nobat. “Ela ligou dizendo que tinha gravado que estava muito feliz que tinha se divertido muito fazendo a música”, recorda-se o compositor. A ligação durou muitos minutos e um encontro presencial chegou a ser marcado, mas não foi concretizado devido a morte do ícone da cultura brasileira. “Apesar do fim, foi uma honra tudo isso”, conclui.