No processo de profissionalização do teatro brasiliense, moldado por trabalhos de ensinamentos e aprendizados junto aos renomados B. de Paiva e Dulcina de Moraes, o intérprete Tullio Guimarães tem espaço assegurado. "Com 35 anos de vida dedicados ao teatro, ele acaba por se confundir com a trajetória do nosso teatro. Ele já sabe tudo", avalia o dramaturgo Alexandre Ribondi, à frente de uma homenagem ao colega de ofício: o espetáculo Volver a Leticia, em cartaz na Casa dos Quatro (708 Norte), com entrada franca. Hoje e sábado, será encenado às 20h, e, domingo, às 19h.
Cidade da Amazônia colombiana, Leticia (na fronteira entre Brasil e Peru) foi alicerce de formação para Tullio, que teve no avô, cônsul, o "pai" que lhe faltou, total referência para o ator e diretor. "Reza a lenda que nasci na Colômbia, mas fui registrado no Maranhão", explica Tullio que, por 32 anos, foi expoente da "escola" de Dulcina. Detalhes da história de Tullio, que esteve em espetáculos que valorizaram figuras como Frei Tito e Ary Barroso, além de peças como Woyzech e Desbunde, trazem brilho para Volver a Leticia. "Para contar a vida de Tullio, acho que fui o mais subjetivo possível. Não se mostra uma cronologia com fatos marcantes. Busquei mesmo foram as fantasias, os delírios e os encantamentos da vida dele. Os figurinos e a cenografia de Marcela Hollanda empregam coragem com as cores", adianta Alexandre Ribondi.
"A peça foi idealizada pelo Sartory (produtor e fotógrafo) e pela Mariana Baeta, isso me livra dos vitupérios (ofensas) da autocelebração", comenta, aos risos, o ator que, na carreira, já esteve ao lado de referências como Gê Martu e Andrade Junior. A chegada de Tullio a Brasília se deu depois de uma iniciação com o teatrólogo Aldo Leite. Discípulo de Antônio Abujamra, partidário da patafísica (fundamentada na criatividade), Tullio conta que apostou num trabalho atual guiado por imagens, teatro físico, expressionismo, butô e realismo. "Entre falar de sucessos, de hedonismo e de fracassos, nos 35 anos, conto de como o teatro curou feridas. É como diz o diretor (Ribondi): 'estamos falando com o coração'. A carreira, com altos e baixos, sempre me deixou feliz, até por nunca ter 'me vendido'. Formei muitas gerações em Brasília, desde 1994 — tudo com amorosidade, entrega e convívio; viramos uma família", conclui.