O inocente desejo de participar de um show de talentos escolar mudaria para sempre a vida de um dos meninos de 7 anos que frequentava o 2º ano daquele colégio. No afã de acompanhar os amigos que já esboçavam acordes e melodias nos instrumentos musicais, Ian Coury bradou para o pai que gostaria de fazer um som. A princípio, o pequeno propôs tocar a guitarra. O pai retrucou que "seria um instrumento muito grande e pesado"; insistente, Ian não mediu o barulho e falou que queria ser mesmo baterista. O pai, sensato, apontou que os tambores e pratos "iriam acabar com a paz da casa"; por fim, se antecipando à criança, propôs o diminuto cavaquinho. Dali, foram seis meses de muita dedicação às quatro cordas mais famosas do Brasil. Coury lança, neste sábado (20), com show no Clube do Choro, o álbum Bora Brasil.
Flerte musical
Em um sábado qualquer daquele mesmo ano, a família Coury decidiu ir ao Clube do Choro assistir à apresentação de Armandinho Macêdo ao bandolim. De novo, a vida de Ian mudaria. Não foi necessário nem que o show se iniciasse. Antes mesmo, na passagem de som, o sonolento menino na noite brasiliense despertou quando "Armandinho subiu no palco para testar o som, tocando apenas as cordas soltas", relembra Ian Coury. Uma conversa com o artista no camarim sedimentou ainda mais o novo flerte musical. O cavaquinho abriu espaço para que o bandolim tomasse conta da cabeça do prodígio. Doze anos depois, Ian Coury volta àquele mesmo Clube do Choro para fazer ecoar o amor e dedicação à música e ao peculiar instrumento que nasceram ali, no vão da estrutura circular situada no coração de Brasília.
Anos depois, o jovem e virtuoso bandolinista rumaria para a Universidade de Berklee, nos Estados Unidos, uma das instituições de ensino musical mais prestigiosas no mundo e onde ainda dá prosseguimento aos estudos; antes, Ian Coury se aprimorou no instrumento com aulas na Escola de Música de Brasília e no Clube do Choro, local recorrente na história do artista. "O primeiro show da minha vida, eu fiz lá. Eu estudei lá também. É um lugar que tem uma importância cultural muito grande para a cidade e que ensina o choro, o primeiro gênero genuinamente brasileiro", conta Ian, em entrevista ao Correio. Para afirmar a importância da casa na carreira, o bandolinista não poderia escolher outro local para a apresentação deste sábado (20): "o lançamento do álbum tinha que ser lá".
Em 2020, a pandemia se alastrou e fechou as portas da universidade em que Ian estuda. Era hora de voltar para casa. Em Brasília, o tempo de reclusão se dividiu entre a dedicação aos estudos e a indignação com a situação do país. As novas composições que surgiam serviram de centelha para a ideia de gravar um álbum. Os primeiros passos para que Bora Brasil viesse ao mundo foram dados. "É um álbum todo voltado para esse momento que a gente estava vivendo: aquele primeiro ano de lockdown, em que não era possível sair de casa. Estava muito difícil. Todo mundo meio deprê. O presidente não comprou a vacina. Fiquei puto com isso. Aí, eu comecei a compor e muita coisa começou a vir. Eu senti que tinha algo errado no Brasil e queria falar sobre esses problemas que estavam acontecendo. O atraso da vacina, a pobreza", revela. Era hora de reflexão, mas sem deixar de lado a esperança e a positividade: "E eu decidi fazer esse álbum para animar a galera. Para mostrar o que está acontecendo. Pedir a união do povo. Por conta da divisão política, o povo não estava unido". Daí o nome: "Vamos, Brasil! Vamos nessa, vamos nos juntar".
Bora Brasil foi gravado em Brasília, no estúdio Naquele Lugar, com o quarteto formado por Ian Coury, Renato Galvão, Felipe Viegas e Rafael Cruztico, formação que se repete no show. Composto por oito faixas, o álbum conta com quatro músicas autorais e quatro releituras, que "foram escolhidas a dedo para dar diversidade ao disco". Ainda sem data de lançamento programada para o álbum, o músico liberou, ontem, o single Me deixa. A música carrega, no título, o desejo do artista de ser livre dos rótulos atrelados ao bandolim e ao choro: "Essa música, eu fiz justamente para quebrar paradigmas. Sempre tentaram me rotular como um artista de choro ou de samba. E não tem isso, não. Eu toco de tudo. o bandolim é um instrumento livre".
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Show do bandolinista Ian Coury
Neste sábado (20), a partir das 20h30, no Clube do Choro de Brasília. Ingressos antecipados no site www.bilheteriadigital.com ou direto na bilheteria.
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