Publicado desde 2014 pela professora colaboradora da Universidade Federal do Piauí (Ufpi) e tradutora Maria Aparecida de Oliveira Silva e pelo Grupo Editorial Edipro, a obra Histórias, de Heródoto, é dividida em nove volumes e cada um é dedicado a uma musa grega da antiguidade. A sexta edição, publicada em 2022, homenageia Érato, a musa da poesia romântica, e conta as últimas histórias por trás da Revolta da Iônia, que marca o início das Guerras Persas. Os livros narram os acontecimentos do período helenístico e abrangem as mais diversas áreas do conhecimento.
Para a tradutora, apesar das homenagens, as musas não se relacionam diretamente com o conteúdo da história, mas fazem parte do contexto em que estavam inseridas. Os textos do período estavam diretamente ligados às crenças divinas e, por meio do tipo de linguagem, Heródoto conseguiu transcrever, em Histórias, um texto que fosse lido por muitas gerações. “Heródoto tem uma linguagem agradável, poética. A narrativa de Heródoto explica os fatos, os acontecimentos, por meio de sonhos, oráculos, mitos e narrativas maravilhosas.”
O livro VI mergulha nos episódios que envolveram a invasão persa à ilha do mar de Egeu, motivada pela revolta iônica, cujo incentivo partiu da conspiração do tirano de Mileto contra o grande rei persa. Com isso, os cidadãos de mileto são escravizados e esse fato força os aliados atenienses a entrarem no conflito. Após a conquista das ilhas iônicas, os persas partem para o domínio da península de Ática, a fim de conquistar Atenas e as cidades vizinhas, mas a ganância acaba por provocar a retirada dos persas da região.
Heródoto de Halicarnasso é, além de geógrafo e historiador, dono do primeiro registro de uma narrativa histórica. Dessa forma, o autor é tido como o pai da História pela obra até aqui citada, que imerge o leitor em diferentes narrativas a respeito de conflitos na antiguidade. Os episódios se estendem para além da magnitude conflitual e também traçam um panorama político, social e cultural entre os povos envolvidos, desde as duas maiores cidades gregas da época, Atenas e Esparta, até os bárbaros e os costumes deles. “Você tem aí uma carga informativa que vai muito além das guerras, das guerras persas”, afirma a professora.
Diante disso, Maria defende Heródoto como um “historiador da diversidade”, uma vez que escreve uma obra muito abrangente. “É lido por quem é da literatura porque é um marco na literatura. É lido na filosofia porque tem também, dentro dele, questões filosóficas. É lido na história porque é o primeiro modelo historiográfico que nós temos. Ele é lido na geografia por conta das descrições que faz. E tem aqueles que leem o Heródoto para cultura geral, porque ele é riquíssimo para cultura geral”, descreve ela.
Na tentativa de levar o leitor à máxima compreensão dos desdobramentos da obra, Maria Aparecida avisa: “As minhas notas possuem várias camadas, das mais simples às mais complexas. É como se fosse um onomástico e um topográfico identificável nas notas de rodapé. Depois, eu tenho notas em que eu explico uma situação. Minha preocupação é fazer com que o leitor entenda tudo o que ele está lendo, contextualizado, e que ele não se sinta desamparado. Tudo é explicado, tudo o que eu posso explicar eu explico. Não é porque o Heródoto não é claro, é porque a narrativa é complexa. Ela faz referências a muitas outras coisas que não estão nela, então eu preciso situar o leitor.”
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Graduada em História, mestre em História Econômica e doutora em História Social (USP), Maria Aparecida de Oliveira Silva tem 55 anos e atualmente dedica seus trabalhos ao Laboratório de História Antiga e Medieval (Labham), pela Universidade Federal do Piauí (Ufpi). Além de professora colaboradora e tradutora, ela publica artigos e estudos relacionados à antiguidade pela plataforma academia.edu.
*Estagiário soba supervisão de Nahima Maciel
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