Sob o título Poéticas da impermanência, o artista plástico Bené Fonteles apresenta exposição da última safra de trabalhos, com 25 obras, na Karla Osório Galeria de Arte (Setor de Mansões Dom Bosco). A natureza permanece a fonte de inspiração para o artista há mais de 50 anos. O fato de morar em Caldas, interior de Minas Gerais, na Serra da Mantiqueira, teve impacto sobre a criação de Bené. Ele começou a entrar em contato com a madeira e, logo, ela foi incorporada à sua arte.
De uma árvore atingida e derrubada por um raio, próximo à sua casa, Bené compôs trabalhos em que agregou madeiras, ossos, corais marinhos, canos de ferro, pontas de zarabatanas indígenas, cabaças, arames, pregos, antigas portas de casas coloniais ou canos de ferro. São quase que poemas visuais organizados em montagens sobre papeis de fibras vegetais que, em alguns momentos, evocam os objetos surreais inventados pelo poeta Manoel de Barros.
Mas, na verdade, a matéria de Bené é o tempo e a marca que deixa nos objetos: "Trabalho com a ação do tempo sobre as coisas. Drummond diz que o tempo é a minha matéria. Sou muito artesão, sempre gostei de manipular a matéria, me apropriar dela. Tem muitas conchas que cato nas praias, vou colocando nas paredes. Junto lixas de pintura."
Em outra série, denominada Impermanências, Bené compõe uma espécie de ninhos, emoldurados por caixas de vidro, com fios pintados como se fossem naturais do cerrado, ervas do pará, conchas do mar: "Faço materiais de diferentes lugares conviverem. Têm fios pintados como se fossem naturais do cerrado, ervas do Pará, conchas do mar, pano de coar café. Vou fazendo combinações com objetos de vários lugares."
Na mesma série, Bené exercitou de humor com os múltiplos de plástico das obras Bichos, de Lygia Clark, prensados sobre fios de algodão puro, estabelecendo analogia com a obra inte-relacional da artista, Baba antropofágica. Ao evocar a pandemia, Fonteles compactou dezenas de máscaras em uma caixa de acrílico, se o vidro quebrar, o trabalho desaba no chão. Aplicou azul com dourado nas máscaras que usamos pandemia: "Os pigmentos azuis e dourados vão contaminando o trabalho igual ao contágio do vírus que nos atingiu durante a crise sanitária".
Nascido em Bragança, no Pará, Bené Fonteles é artista plástico, editor, poeta e compositor. Desenvolveu uma obra sempre relacionada à natureza. Participou por cinco vezes da Bienal Internacional de Arte de São Paulo. Vive entre Brasília e Caldas, em Minas Gerais. Organizou e editou livros sobre Rubem Valentim, Athos Bulcão e Mario Cravo Neto, entre outros artistas.
Bené utiliza, livremente, os objetos para compor suas obras, mas, recusa o rótulo de arte contemporânea. Ele afirma que faz simplesmente arte: "Não acredito em arte contemporânea. Acredito em arte. Faço arte para manter a sanidade. Essas fronteiras entre arte tradicional e arte contemporânea, arte popular e arte erudita, não existem. Insisto em fazer arte".
Poéticas da impermanência
Exposição do artista plástico Bené Fonteles na Galeria Karla Osório. Visitas de segunda a sexta, das 9h as 18h30. E, aos sábados, de 9h a 14h, sempre mediante agendamento prévio por telefone, DM do instagram ou Whatsapp. Número limitado de visitantes e uso obrigatório de máscara.
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