Literatura

A inquietude do tempo

O escritor Ronaldo Costa Fernandes está de volta com uma nova coletânea de poemas. A invenção do passado, como o nome sugere, se debruça sobre o tempo e o impacto que tem sobre as pessoas. O sarau-lançamento será realizado hoje no Auditório Cyro dos Anjos, na sede da Associação Nacional de Escritores.

"O mote que norteia o livro é a ideia de que o passado é uma invenção nossa. Nós cortamos, selecionamos, damos ênfase a determinados fatos, modificamos acontecimentos, logo tudo o que pensamos ser uma memória verdadeira é uma ilusão", explicou o autor ao Correio.

O universo da poesia não é novidade para Fernandes, que já publicou sete livros, entre eles Estrangeiro (1997), Andarilho (2000), O difícil exercício das cinzas (2014) e Matadouro de vozes (2018). Em 2010, o escritor recebeu o Prêmio de poesia da Academia Brasileira de Letras (ABL), pelo livro A máquina das mãos, de 2009. A ficção lhe rendeu o Prêmio revelação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA), pelo livro João Rama, e o Casa de las Américas por Noticias del horto.

Em A invenção do passado, o autor destaca como o tempo molda a todos. "Somos personagens da nossa própria história e, aos olhos dos outros, representamos outro papel de acordo com as visões que têm de nós."

Para Ronaldo, seu estilo se encontra em um mesclado de experimentações. "Ao longo dos anos venho trabalhando minha expressão poética a fim de que alcance, com cada verso, uma natureza suprarreal, sem que seja surrealista. Uma estética de distorção, sem que seja hermética, uma construção por imagens, sem que seja uma estética desarvorada."

"Mas literatura não é filosofia, o que importa é o fenômeno estético, a forma que você dá às palavras. Os sentimentos são mais importantes que a razão, a poesia é a arte da desrazão. Logo o impulso inicial que foi um ato do pensamento passa a ser uma expressão da vontade e do desejo", filosofa.

Ana Maria Lopes, Claudine Duarte, Margarida Patriota, Noélia Ribeiro, Sônia Helena e Vera Lúcia de Oliveira, escritoras e amigas do homenageado da noite, irão declamar poemas do livro durante o evento de lançamento. "O leitor deverá encontrar suas angústias e anseios realizados poeticamente e, juntos, autor e leitor farão uma viagem existencial, é isso que espero seja cumprido pela minha poesia. Uma comunhão, um ato de fé na palavra, princípio e fim da poesia", finaliza.

*Estagiária sob a supervisão

de Severino Francisco 


Serviço

Lançamento de A invenção do passado, hoje, a partir das 19h,
na sede da Associação Nacional
de Escritores — na SEP Sul 707/907 — Bloco F